O que um clube quer ser?

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Todos queremos vencer. Estamos “no jogo” – e cada um no seu – justamente para isso. Vencer. Se não fosse por isso, não haveria motivos para arriscar-se tanto, diariamente, o tempo todo. Competir é importante, sim. Entretanto, não o mais importante. É preciso aceitar que não foi possível vencer, entender o que saiu de errado, procurar corrigir os erros e, na próxima vez, fazer melhor. Da derrota, ficam as lições.

Assim é o ser humano, ansioso e descontente com o que já conseguiu. Assim também são os grupos de indivíduos, representados por uma equipe de futebol, através de uma organização esportiva. Um clube. Ao mesmo tempo, há muito mais propósitos para uma instituição além de tornar-se campeã. Sim, há. Não é possível vencer o tempo todo, conquistar títulos, ganhar todos os domingos ou quartas-feiras, afinal os seus concorrentes perseguem a mesma coisa. Há dias bons, há dias bons em menor escala. Períodos de “vacas gordas” e de “vacas magras”. Assim como na vida de cada um.

É no período das “vacas magras” que a opinião pública não entende tanto a redução das conquistas; as crises, as mudanças. É um banquete para uma imprensa caça-cliques. Formadores de opinião desesperados urgem por investimentos imediatos, supervalorizados, a fim de corrigir problemas pontuais, de curtíssimo prazo, que não deixam legado algum. Nessas horas, mecenas com recursos em abundância surgem com os mais variados interesses – pessoais – em detrimento do planejamento estratégico do negócio coletivo, que é a associação. O clube. Esta drástica intervenção muitas vezes pode dar resultados positivos. Entretanto, é um paliativo. O clube não demora para se perceber em meio a um turbilhão de contratempos e compromissos financeiros que não estavam nos planos. E, com isso, pode ruir.

O estádio de Vidal Pinheiro, do Salgueiros, protagonista do futebol português nos anos 90 do século passado, que abandonou o futebol profissional em função de uma grave crise financeira. (Foto: Reprodução/Divulgação)

 
Nos períodos de “vacas magras” é preciso que todo o clube (dirigentes, patrocinadores, associados e torcedores) busque pelos princípios do associativismo e cooperativismo e se pergunte: o que ele quer ser e o que é mais importante para ele. Em outras palavras, resgatar o marco fundador de uma organização que é o estabelecimento da sua missão, visão e seus valores, que nortearam as ações ao longo da história e dão sentido a cada tomada de decisão – quer seja no clube ou na vida – de cada membro ou simpatizante da instituição.
Esta coluna sempre fala que sim, temos visto bons exemplos de práticas de Gestão do Esporte. Será que vão continuar? Será que as próximas administrações darão conta? Difícil responder, entretanto, o mínimo que estes bons exemplos deixam é estabelecer referências. Ou seja, os próximos gestores que virão, se quiserem ser bem lembrados, obrigatoriamente deverão deixar o clube em um lugar “mais alto e melhor” do que quando receberam. Isso não significa ter que conquistar títulos ou pensar em ter o seu busto daqui a algumas décadas na portaria principal. Mas sim pensar na coletividade da instituição esportiva, respeitá-la antes de tudo e que cumpra o seu papel, orientado na sua fundação. Afinal, não é possível ser campeão o tempo todo.
Assim sendo, um dos grandes desafios do futebol do Brasil é que todas as partes interessadas na modalidade (imprensa, opinião pública, torcida e dirigentes) tenham consciência de que não é possível vencer o tempo todo e a todo custo. A todo custo, o preço é alto e o risco é ainda maior. Ganhar sempre, impossível. Vencer é importante, mas querer vencer com os seus próprios recursos é – muito – mais. Não seria esta a essência em comum entre todos os clubes? Certamente, é.

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Em tempo mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:

“A palavra convence, o exemplo arrasta.”
Ditado popular

 

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