A moda é clara e evidente: o número acima da média de técnicos estrangeiros desembarcando no futebol brasileiro segue uma ingênua e pobre tendência de copiar o que deu certo. Dá muito trabalho e exige conhecimento entender os pormenores de todo um processo que foi vitorioso. É muito mais fácil ir na ponta do iceberg: se os dois primeiros colocados do Brasileirão tiveram treinadores de fora do Brasil vamos imita-los e teremos os mesmos resultados, pensam alguns dirigentes.
Mas o que quero aqui não é dissecar a falta de preparo de gestores que buscam muito mais fazer política e agradar a torcida com contratações, sejam elas de treinadores e jogadores. Penso que o que vale é voltarmos nosso olhar para o mercado de técnicos e entender o que há, além desse modismo, de diferente entre os brasileiros e estrangeiros e porque além de perder mercado mundo afora alguns profissionais não estão nem mais conseguindo trabalhar por aqui.
Primeiro de tudo, o futebol não é uma ilha, isolado de tudo. Estamos inseridos dentro de uma sociedade, de um país. E tradicionalmente no Brasil não há incentivo para o estudo, para a leitura. Já coloco esse como um grande ponto de corte: nossos treinadores, de maneira geral, não se debruçam na parte teórica do jogo. Se em Portugal, por exemplo, as grandes universidades moldaram os melhores técnicos que eles têm, aqui contamos nos dedos as poucas obras literárias produzidas para documentar a evolução do jogo jogado no Brasil.
Ainda na parte acadêmica, agora que a CBF começou a se preocupar com cursos e formações. Se na Europa não é possível trabalhar sem as licenças, porque há um entendimento de que metodologia de treinos, conceitos de jogo e etc são importantes, por aqui qualquer um que ‘chupou laranja’ em algum vestiário pode ser técnico.
Compreendo nossa cultura resultadista, e tudo o que acarreta o famigerado número de três derrotas seguidas. Me coloco no lugar dos treinadores que pensam: “como vou estudar e buscar abordagens mais modernas de treino e jogo se preciso sobreviver no cargo?”. Mas o paradigma precisa ser quebrado.
O técnico de futebol tem que entender que o jogo mudou. Padrões de comportamento em campo com e sem a bola só são criados se houver uma metodologia avançada de treinamentos. A figura do líder de campo não pode mais ser apenas o cara motivador. O jogador só vai literalmente comprar a ideia se perceber que vai melhorar e se desenvolver se cumprir o que o treinador pede. Hoje em dia, a informação está aí para todos. Só não cresce e evolui quem não quer. Hoje é o modismo do técnico estrangeiro. Amanhã pode ser outra coisa. Mas como em qualquer área de atuação o profissional atualizado, competente, inquieto e ávido por saber o que se passa no mundo, não ficará sem trabalho. Talvez os técnicos brasileiros perdendo até o mercado doméstico passem a dar mais valor ao conhecimento.