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Crédito imagem – Amanda Perobelli/Reuters

Não torcemos pela Argentina contra o Brasil na final da Copa América. Também não torcemos pelo Brasil. Aliás, nem mesmo acompanhamos a Copa América, pois nos faltou interesse, mas não posicionamento crítico. De fato, não sentimos essa seleção como a nossa. Ela não nos representa. Colômbia e Argentina negaram-se a sediar esse evento esportivo, pelo risco de agravamento da pandemia do novo Coronavírus. A CBF decidiu correr o risco. Os atletas decidiram correr o risco. E o governo federal decidiu correr o risco, certamente, dentre outros motivos, por acreditar na festa do presidente da república com a taça de campeão. Fomos alertados do risco e, além dos inúmeros novos infectados, já há indícios de que uma nova cepa do vírus chegou ao nosso país em decorrência da realização da Copa América de Futebol, talvez, da Colômbia ou do Equador.

Milhões de brasileiros torceram contra a seleção e festejaram a vitória da Argentina. Acreditamos que a bronca não era exatamente contra a seleção brasileira, mas com sua identificação com o momento político atual, mais exatamente com Jair Bolsonaro, dado seu empenho por trazer a Copa América para o Brasil. Talvez esses milhões de brasileiros tivessem postura diferente caso os famosíssimos e milionários jogadores brasileiros tivessem um gesto de empatia e solidariedade com a tragédia que se abate sobre nosso povo. Mais de 500 mil mortes talvez merecessem, pelo menos, uma palavra de nossos craques. Quem sabe, fruto de nossa ingenuidade, continuaremos aguardando alguma manifestação sobre a política insana e genocida de Bolsonaro vinda de algum jogador mais crítico e esclarecido. Com exceção de Richarlison, o único explicitamente sensível ao que vivemos atualmente, nada, nem um gesto, nem uma palavra.

Há quem lembre que em 1970 vivíamos situação política até pior que esta que enfrentamos hoje; pessoas sendo presas, torturadas e mortas pela ditadura e, ainda assim, torcemos como loucos pela seleção brasileira de Pelé, Gerson e companhia. Porém, havia enorme identificação entre os jogadores e o povo brasileiro; todos os jogadores atuavam no Brasil e os acompanhávamos no dia a dia, eram nossos ídolos em nossos clubes do coração. Entre os atuais jogadores da seleção, somente três atuam no Brasil e sequer disputaram o jogo final. Não convivemos com eles, alguns torcedores nem os conhecem, porque não acompanham os campeonatos de outros países.

Portanto, torcer contra o Brasil ou ser indiferente à Copa América não é falta de patriotismo, mas sim, falta de identificação do povo com essa seleção que não demonstrou a mínima empatia conosco. Ser patriota, não é só torcer pela seleção brasileira, mas também, e principalmente, solidarizar-se com as centenas de milhares de mortos em decorrência do Covid, com todos que perderam seus familiares e amigos pelo boicote sistemático à vacina e aos cuidados básicos de prevenção à doença, com os profissionais de saúde que se arriscaram e sacrificaram suas vidas para salvar as nossas, com os que voltaram ao patamar da miséria (vítimas do desemprego e da fome), com os que sofrem abusos morais e sexuais, com os que sofrem preconceitos. Não basta vestir a camisa da CBF, colocar a mão no peito e cantar o hino nacional para ser patriota.      

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