Crédito imagem: Marinho Ramos/Semcom
O encontro de duas ou mais crianças no espaço da rua configura um rico cenário de aprendizagens motoras, afetivas, intelectuais, sensoriais, morais e sociais que nem sempre são percebidas num primeiro momento, mas são experiências que devem ser observadas no processo de desenvolvimento humano. Então, podemos dizer que a partir da experiência vivida nas situações das brincadeiras da rua, as crianças constroem conhecimentos cognitivos e relacionais que ao longo do seu desenvolvimento ampliam sua confiança e participação nas atividades individuais e coletivas, que acontece a partir da curiosidade própria da experimentação, da criatividade, da interação e da própria prática da brincadeira.
O espaço da rua é entendido aqui como aquele ambiente no qual as crianças podem brincar, sem a interferência dos olhares dirigidos do adulto, ou seja, qualquer espaço que possibilite a oportunidade das crianças participarem de atividades motoras como: correr, pular, dançar ou de se divertir com a prática social que domina o imaginário de grande parte das crianças brasileiras: o futebol.
A experiência da criança em brincar de futebol com outras crianças no espaço da rua não se limita às aprendizagens dos conteúdos formais, mas se dirige à formação da criança inteira, preparando-a para atuar num mundo baseado em conhecimentos formais, relacionais e sociais. Isso porque, no momento do jogo, ocorrem vários tipos de aprendizagens simultaneamente. Ao mesmo tempo em que aprendem a jogar, logo, a terem controle sobre seus movimentos, a fim de alcançarem um determinado objetivo, também aprendem a se relacionarem com o grupo com as seguintes qualidades: respeito, sinceridade, solidariedade, autocontrole, autoconfiança, espírito de grupo, companheirismo, união, participação, responsabilidade, humildade e valorização do outro, elaboração de regras etc.
Dessa forma, o jogo de futebol ou qualquer outra brincadeira com outras crianças no espaço da rua, torna-se relevante durante a sua infância quando sabemos que o desenvolvimento humano não é um processo natural e sim produto de processos sociais mediados pela cultura, construídos na interação.
Então, a oportunidade de vivenciar experiências recreativas na rua se dá na relação entre o conhecimento cognitivo e as relações humanas, e neste caso, a presença do outro se torna fundamental. O outro pode ser outra criança, o ambiente da rua, o outro que transforma na interação que constitui aprendizado em constante movimento que na maioria das vezes comporta mudanças, dificuldades, inovações e adequações, sem um saber previsto, ao contrário, com possibilidade de experimentar, criar, discutir, elaborar entre o grupo de crianças.
Essa interação no espaço da rua é um ambiente propício para aprendizagens, afinal, o saber da experiência não é o saber do objetivo previsto, ao contrário, é o desconhecido, é a possibilidade, é o experimentar. E isso, as crianças sabem fazer muito bem quando brincam, jogam e elaboram regras.