Por: Maurício Rech
As emoções desempenham um papel crucial no desenvolvimento humano, influenciando cognição, comportamento e interações sociais. Desde o nascimento, as emoções fazem parte de um sistema adaptativo que orienta as respostas a estímulos ambientais e sociais do ser humano. Ao longo da vida, as emoções atuam de forma contínua na tomada de decisões, resolução de problemas e na formação de relacionamentos interpessoais. Portanto, um entendimento relativo ao funcionamento das emoções não apenas enriquece a experiência humana, mas também contribui para a saúde mental, bem-estar emocional e o desenvolvimento psicológico de uma sociedade emocionalmente inteligente.
Quando se pensa em atletas de alta performance, falando aqui especificamente na área do futebol, ainda é comum que sejam referidas as dimensões táticas, técnicas, físicas e nutricionais, sem dar-se a devida ênfase à dimensão emocional. Contudo, estudos científicos baseados em evidências demonstram não apenas a relevância singular da dimensão psicológica, mas, também, que ela abrange e está diretamente integrada às outras dimensões acima referidas, eis que não há como trabalhar com o desempenho de seres humanos sem observar-se as questões emocionais em uma perspectiva integrada e sistêmica.
Ao tratarmos de atletas de futebol, por exemplo, identificar questões emocionais é premissa que merece atenção desde o momento que o atleta chega ao clube, na medida que as emoções terão influência não apenas sobre o desempenho no campo, mas também sobre aspectos cruciais do desenvolvimento pessoal e social. Desde as primeiras experiências esportivas, ainda nas categorias de base, as emoções moldam a maneira como os jovens atletas enfrentam desafios, lidam com a competição e interagem com seus colegas de equipe, comissão técnica e demais pessoas que fazem parte do seu entorno. A capacidade de compreender e regular as emoções torna-se uma ferramenta valiosa para esses jovens ao longo de suas carreiras e vidas, não apenas para otimizar seu rendimento esportivo, mas também para cultivar habilidades como trabalho em equipe e autoconfiança.
A compreensão e aplicação de estratégias psicológicas de autorregulação emocional na área desportiva, tais como autocompaixão, resiliência, bem-estar subjetivo e bem-estar psicológico, dentre outros, impactam positivamente no desenvolvimento emocional global de atletas desde sua formação, assim como de equipes técnicas e profissionais em geral. Todas estas estratégias têm associação direta com o melhor desempenho profissional e humano dentro de uma visão sistêmica.
A autorregulação emocional, por exemplo, aparece como uma habilidade fundamental, capacitando atletas a gerenciar as pressões competitivas, manter o foco durante partidas intensas e aprender com as experiências emocionais associadas ao esporte, contribuindo, assim, para uma performance mais consistente e eficaz. A autocompaixão, por sua vez, ao promover uma abordagem mais saudável diante dos desafios, está relacionada a níveis mais elevados de confiança e autoestima, fatores que são conhecidos por influenciar positivamente o desempenho atlético. O bem-estar, essencial para o equilíbrio mental, também está associado a um melhor desempenho em campo, uma vez que atletas que experimentam altos níveis de satisfação com a vida e motivação intrínseca tendem a abordar as atividades esportivas com maior entusiasmo e dedicação. Além disso, a resiliência, ao permitir a adaptação diante de obstáculos, lesões ou derrotas, está positivamente correlacionada com a capacidade de superar contratempos e manter um desempenho consistente ao longo do tempo.
Nesse sentido, ao integrar conscientemente esses elementos da psicologia ao esporte no dia a dia, os treinadores e profissionais do futebol também desenvolvem-se emocionalmente e contribuem para o desenvolvimento psicológico de seus atletas e de suas equipes, promovendo um ambiente propício para o florescimento de habilidades mentais associadas ao sucesso pessoal e profissional, adquirindo uma visão sistêmica do funcionamento humano e culminando num desempenho em campo mais elevado e duradouro. Ou seja, a gestão adequada de questões emocionais por parte da equipe técnica e dos atletas impacta na formação de uma mentalidade saudável diante de vitórias e derrotas, contribuindo para um desenvolvimento mais amplo e integrado de todos os evolvidos.
Tenho a convicção de que investir no entendimento sobre o funcionamento básico do cérebro e na gestão emocional de jovens atletas de futebol não apenas elevará seu desempenho esportivo, mas também promoverá o desenvolvimento pessoal e social ao longo de suas trajetórias esportivas. A neurociência e a psicologia fundamentam suas descobertas científicas em pesquisas e estudos realizados com seres humanos, incluindo atletas de alta performance. Me parece que está mais do que na hora dos “gestores da bola” alertarem-se para a humanização dos futuros profissionais do futebol, entendendo, acolhendo e investindo no cuidado da esfera emocional de todos aqueles que trabalham e “vestem a camisa” dos clubes.
Foto: 📷 Cesar Greco/Palmeiras