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Caros amigos,

na última semana falamos um pouco sobre os processos que Mano Menezes está implementando na seleção brasileira. Falamos sobre a delegação de funções e descentralização que o treinador propõe, o que sem dúvida lhe dá mais qualidade de comando.

Dentre as funções delegadas, o treinador anunciou Rafael Vieira como analista de desempenho. Hoje discutiremos um pouco sobre as possíveis e importantes funções que poderão ser exercidas por esse profissional.

No esporte coletivo, já de algum tempo, temos a figura do observador de jogo. Estudos do português Julio Garganta apontam relatos científicos e estruturados sobre a ciência da análise do jogo (também chamada de scout, análise notacional, dentre outras variações e especificidades) desde 1931, com os estudos de Messersmith & Corey.

O olheiro que anota as principais características do time adversário num pedaço de papel, o chamado espião, é uma das figuras já consolidadas no nosso futebol e passam agora por uma atualização. A questão está justamente no valor atribuído às pessoas, mais especificamente as capacidades e requisitos do profissional que ali estão, até então não tratado como um profissional.

Sim, coloco o anúncio de Mano Menezes sobre a existência e oficialização de um analista de desempenho como um marco para o futebol, muito também pela questão do valor que atribui acertadamente a essa função.

Ao oficializar a função, Mano Menezes dá início a uma nova possibilidade de atuação do profissional do futebol. Isso porque esperamos que, de agora em diante, essa função seja oficializada dentro dos clubes, e mais do que isso, que seja valorizada.

Assim, ao invés de pegar o cunhado para coletar informações, ou um ex-companheiro de equipe que está precisando trabalhar, ou ainda o que é muito comum, pegar atletas de categorias de base para coletar informações, a oficialização da função faz com que a pessoa ali colocada tenha alguns pré-requisitos, não simplesmente para anotar num pedaço de papel, mas muito mais do que isso, colocado ali para interpretar, lapidar as informações, construir relações entre os dados e possibilitar que o técnico possa tirar conclusões e intervir com precisão.

Já nos referenciamos nos estudos de Franks (1983) em outros momentos, na qual indicou que treinadores de nível internacional não conseguem memorizar mais do que 30% dos eventos chaves de um jogo. Ao delegar, (e na semana passada falamos um pouco de como deve ser uma delegação de função) Mano reconhece, não os seus limites, mas os limites de qualquer ser humano em processar e armazenar inúmeras informações, assim coloca uma pessoa voltada especificamente para isso, e faz com que essa função não se limite a anotar em pedaço de papel, mas sim recolher, interpretar e utilizar a capacidade intelectual para lidar com as informações.

Talvez agora os clubes tenham uma referência de como lidar com a questão da análise do jogo, que não adianta apenas colocar os meninos da base para fazer scout do time adulto, é necessário investir em processos e tecnologia para obter essas informações, mas muito mais do que isso é preciso alguém na comissão técnica que centralize essas informações e utilize de recursos intelectuais para transformar dados em informação.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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