Em setembro, uma de minhas colunas abordou a possível explicação para o rebaixamento de alguns clubes no cenário das competições nacionais e a discussão sobre como agremiações tradicionais desceram ladeira ano após ano.
Desde o final de semana venho pensando em abrir uma discussão a respeito do lado inverso, ou seja, o que explicaria o título em uma competição, como o fez Erich Beting na sua coluna semanal na Universidade do Futebol (“Viva o planejamento!“), atribuindo ao planejamento e à manutenção de um elenco e comissão técnica por parte do Fluminense como sendo as peças-chave para o sucesso da equipe em 2010.
De fato, consigo enxergar um plano de trabalho consistente por parte da competente comissão técnica tricolor, liderada pelo multicampeão Muricy Ramalho que, há algum tempo, realiza com excelência suas obrigações junto aos clubes por onde passa. No entanto, me parece mais uma célula a parte dentro da estrutura geral da organização do que propriamente um conjunto de ações que levam aos resultados esportivos.
O que estou tentando dizer é que o planejamento deve ser fruto de um processo global, abrangendo o todo de uma organização. Não devemos e não podemos enxergar com olhos míopes para aquilo que aconteceu nos 90 minutos do domingo. Do contrário, cairemos na análise fria e sem sentido que tomou conta das conversas de bastidores em 2009, quando chegaram a falar que o modelo bagunçado do Flamengo é que era o correto – que acabou se comprovando em 2010 como falacioso pela pífia campanha protagonizada pelo clube mais popular do país.
A dúvida que coloco é: e se Muricy e companhia saírem amanhã do Fluminense, o mesmo continuará a brigar por títulos ou irá figurar na parte de baixo da tabela, como o fez nos campeonatos anteriores? Coloquei o Muricy como centro da pergunta por motivos óbvios, mas entendo que existam outros treinadores e comissões técnicas capazes de fazer campanhas pontuais de sucesso mesmo dentro da “desestrutura” de alguns clubes brasileiros.
Penso, portanto, que para a implantação de um planejamento consistente, com durabilidade, as questões devem ser ainda mais complexas e profundas, passando por toda a montagem da equipe alinhada com a comissão técnica, o departamento de marketing, a estrutura física, os organismos e departamentos administrativos do clube buscando a inovação constante e registrando os processos de aprendizagem ao longo do tempo para que ocorra a tão sonhada manutenção dos níveis de excelência.
Do contrário, assistiremos cada vez mais esse tal efeito gangorra, em que muitos títulos são conquistados em partes pelo mérito pontual da equipe naquela temporada e pelo despreparo de seus adversários no mesmo período. E o ano seguinte? “Ah, sabemos que ele terá 365 dias, divididos em 12 meses e 52 semanas”.
Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br