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Quem nunca observou, parou para pensar ou ouviu comentários de que determinado jogador só conseguiria continuar jogando futebol se ganhasse mais massa e força musculares?

Se esse raciocínio fosse correto, talvez levantadores de peso resolvessem o problema de muitos times no mundo, não?

Como não vemos nenhum levantador de peso jogando futebol (pelo menos eu nunca vi), talvez seja porque tal pensamento esteja mesmo errado.

Grande parte dos problemas encontrados no treino de força para o futebol envolve conceitos básicos. Por esse motivo, antes de falarmos da força aplicada ao futebol, primeiramente necessitamos recordar alguns conceitos elementares da Física.

Peço sua paciência neste momento se eu for cansar muito seus neurônios, mas se o assunto estiver muito estafante, por favor, pule os três próximos parágrafos. Acho que não haverá problema. Vamos lá!

A força é dividida basicamente em quatro tipos (gravitacional, eletromagnética e nucleares – forte ou fraca) e sua definição pode ser descrita da seguinte forma: é uma grandeza vetorial que caracteriza a ação de um corpo sobre outro e que tem como efeito a deformação ou a alteração da velocidade do corpo (movimento) sobre o qual ela está sendo aplicada”.

Além disso, a primeira lei de Newton diz: “todo corpo tende a manter seu estado de repouso ou de movimento retilíneo e uniforme, a menos que forças externas provoquem variação na sua velocidade” e nos remete a pensar que para haver deformação, movimento, alteração de direção, velocidade ou sentido de um corpo, uma força precisa ser aplicada.

Em geral, a força mecânica pode ser expressa pela equação F= m . a. onde: F= Força; m = massa (kg); e a = aceleração (m/s2).

Então, quando pensamos em algum jogador produzindo força, o que seria mais vantajoso para ele: deslocar uma massa de 100kg a uma aceleração de 10m/s2 ou deslocar 10kg a uma aceleração de 100m/s2?

Se fizermos as contas, obviamente que o valor da força será igual em ambas as situações (1000 N). Porém, como normalmente as ações dos jogadores são produzidas em corpos que possuem massas relativamente baixas (próprio peso corporal ou a bola), talvez a segunda situação fosse mais vantajosa, já que a velocidade da bola, por exemplo, poderia ser muito maior.

Sendo assim, quando colocamos cargas altas nos treinamentos acreditando que estamos melhorando a força de nossos atletas, na verdade estamos colocando-os mais próximos da primeira situação (massa de 100kg a uma aceleração de 10m/s2) e na verdade, mesmo que eles aumentem a força, estariam piorando o desempenho, já que a aceleração estaria diminuída. Isso quer dizer que se o implemento fosse uma bola, ele a chutaria com menor velocidade; se fosse o chão, o “empurraria” com menor aceleração e diminuiria sua velocidade.

Devido às leis da Física, não há como treinar força sem pensar em aceleração e em velocidade, mesmo que a teoria do treinamento e a fisiologia separem essas grandezas físicas e as classifiquem como capacidades físicas.

Na prática, o desafio do treino de força para o jogador de futebol será sempre determinar a carga externa ótima a qual permita ao jogador aplicar o maior grau de força na maior velocidade possível.

Portanto, todo treino de força específico para o futebol, seja ele realizado de forma tradicional (com pesos, elásticos, pneus, etc.) ou mais contemporânea (com integração física-técnico-tática-emocional), deverá ter foco na potência e no desempenho, não mais na força de forma isolada.

Para finalizar, me despeço desejando “força” para aqueles que terão que aprimorar conceitos e quebrar paradigmas na tentativa de implementar novos modelos de treinamento e suprir as necessidades do futebol moderno que, por ironia, também é chamado de “futebol-força”.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

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