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O Santos sofreu, mas venceu o Penapolense por 3 a 2 no último domingo e avançou à decisão do Campeonato Paulista de 2014. Ainda assim, o time de Penápolis finda a participação no Estadual como uma das maiores surpresas positivas da temporada – a outra é o Ituano, que eliminou o Palmeiras na semifinal e também segue vivo na disputa do título.

No entanto, é importante entender o que representa o Penapolense. Não é um time de jovens valores (ao contrário, o grande destaque é o meia Guaru, que tem 33 anos). O jogo contra o Santos foi o oitavo consecutivo em que a equipe do interior não venceu.

O que justifica essa ausência de triunfos é o perfil desse Penapolense. Trata-se de um time que marca antes de jogar e que prioriza o combate aos pontos positivos do adversário. Funcionou contra o São Paulo, rival nas quartas de final, mas isso não foi suficiente contra o Santos.

O Santos também errou. Foram duas falhas individuais no primeiro tempo, ambas do zagueiro David Braz. Ele cometeu um pênalti infantil ao puxar um rival pela camisa em cruzamento para a área. Depois, vacilou em uma bola longa e permitiu que o atacante Douglas Tanque levasse vantagem.

Os erros do Santos, contudo, foram individuais. E foram potencializados por um time que se expõe, que monta muitas vezes uma linha de quatro armadores e que adianta a marcação a ponto de atuar compactado no campo de ataque.

Por outro lado, o Penapolense foi um time que tentou proteger a meta. A equipe do interior também apostou na compactação, mas em um setor mais recuado do campo. A marcação foi quase individualizada. Os erros que propiciaram a eliminação foram coletivos, não individuais.

A diferença de postura entre Santos e Penapolense é mais do que coisa do jogo. Os dois times representam posturas distintas e dão exemplos de como o futebol pode comunicar algo maior.

Ao apostar em garotos e montar uma formação ofensiva, o Santos criou um sistema que pode não sobreviver ao longo prazo. O técnico Oswaldo de Oliveira priorizou aspectos como prazer e orgulho de ver o time em campo.

Oswaldo nunca foi um jogador de sucesso. Às vezes, chega a ser menosprezado por usar vocabulário extremamente rebuscado e por ter uma oratória efusiva em entrevistas coletivas. Não é um boleiro e não tem um comportamento de boleiro.

Narciso, técnico do Penapolense, também é oposto nesse sentido. Foi jogador com passagem destacada pelo Santos na década de 1990. Construiu a carreira no campo.

Na semana que precedeu a semifinal, Narciso foi convidado do programa esportivo “Cartão Verde”, transmitido pela TV Cultura. Durante a conversa, o técnico do Penapolense foi questionado sobre categorias de base no futebol brasileiro – ele já comandou times amadores de Corinthians, Palmeiras e Santos.

O diagnóstico de Narciso é que o futebol brasileiro abriu espaço demais a profissionais egressos das universidades. Que a formação abriu mão de pessoas com vivência no meio e que priorizou conhecimento teórico.

“Eu fiquei sabendo de um técnico, cujo nome eu não vou falar, que pediu uma coisa para um menino. O menino não conseguiu fazer e pediu para ele demonstrar. Ele também não conseguiu”, relatou Narciso.

O raciocínio do técnico do Penapolense foi rapidamente endossado por Roberto Rivellino, ex-jogador que atualmente trabalha como comentarista do “Cartão Verde”.

Dizer que a eliminação do Penapolense destrói a tese de Narciso, contudo, seria um raciocínio oportunista. Oswaldo não foi superior por ter estudado ou por não ser um tecnicista baseado em conhecimento empírico. A questão é muito maior.

O futebol é um jogo. E como qualquer jogo, possibilita diferentes caminhos para a vitória. Uns são mais curtos, mas ignoram o contexto. O Penapolense podia ser campeão paulista, e isso representaria muito para o time, a cidade e os torcedores. Mas qual é o grande impacto que essa equipe proporcionou? Quais são os diferenciais ou as marcas desse estilo?

Profissionais do esporte e profissionais das universidades precisam parar de brigar por espaço. A evolução do futebol brasileiro só vai ser possível quando as pessoas perceberem que a soma de esforços é o melhor caminho.

O profissional que nunca estudou não é necessariamente um ignorante. No esporte, por exemplo, há vários exemplos de domínio empírico do espaço e do jogo. São pessoas que sabem o que fazer, mas não entendem por que fazem.

A formação excessivamente teórica tem o risco contrário: saber por que fazer, mas exigir um tempo de resposta maior e não conseguir dar respostas adequadas no tempo necessário.

O ideal é que as duas coisas sejam adicionadas. O futebol não pode ser visto apenas como um amontoado de números ou como ações isoladas e estudadas. É um jogo complexo, com um volume imenso de variáveis.

O futebol não é simples. Pode ser natural, mas não é simples.

Nesse caso, o único caminho é a soma de esforços. Pep Guardiola é um ex-jogador, mas chamá-lo de ex-jogador é ignorar tudo que ele representou aos times que dirigiu. Trata-se de um estudioso, alguém que domina o futebol tão bem quanto entende as nuances humanas.

O desafio para quem trabalha no futebol é esse, afinal: entender que o jogo é feito por gente e que transmite muito mais do que os resultados supõem. 

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