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Com o fim de mais um Campeonato Brasileiro, chega um péssimo período para os profissionais da crônica esportiva, que vêem a oferta de assuntos constantes proporcionada pelas partidas quase diárias reduzida a um ínfimo difícil de ser buscado. E quando você não tem mais do que falar, você faz o quê? Inventa, óbvio.
 
Não por acaso a entressafra dos campeonatos e dos assuntos é a época em que mais surgem especulações a respeito do futuro de clubes e jogadores. Eu, que sou avesso a especulações desde o meu primário, quando numa brincadeira de pêra-uva-maçã-salada-mista acabei dando uma pêra no amor da minha vida e uma salada-mista na menina mais feia de toda a escola, prefiro sempre me ater a números concretos. E número concreto do futebol brasileiro, hoje, é a classificação final do campeonato que se encerrou.
 
Eu até poderia dissertar aqui sobre os melhores jogadores do campeonato, porém isso também é mera especulação. Eu não sei quem foi o melhor jogador do campeonato. Aliás, é bem possível que você também não saiba. Nós podemos especular, mas jamais saberemos ao certo. As variáveis são quase infinitas, o que torna a análise concreta algo quase impossível. Mas eu, você e o cara do seu lado sabemos que o São Paulo foi campeão, que o Inter foi vice e que o São Caetano foi rebaixado. Por quê?
 
Não sei, mas posso especular. Dizem, por exemplo, que o São Paulo foi campeão porque tem a melhor estrutura e o melhor planejamento. Certo. Mas, e o Corinthians ano passado? Foi campeão por causa do planejamento? Não sei. Talvez o Tevez. Há! De qualquer maneira, esse tipo de análise é, novamente, meramente especulativa.
 
O que se pode dizer, sem especular, é que o São Paulo foi o quarto campeão diferente em quatro anos de campeonato por pontos corridos, algo extremamente raro em todo o planeta. E que o Internacional foi vice-campeão por dois anos seguidos, algo extremamente raro no Campeonato Brasileiro. Isso são fatos, que são apoiados numa característica bastante peculiar do campeonato nacional, a imprevisibilidade.
 
Um exemplo concreto dessa alta taxa de imprevisibilidade pode ser encontrado no Grêmio, que em 2003 quase foi rebaixado, em 2004 foi de fato relegado, ano passado disputou a segunda divisão e esse ano acabou na terceira colocação da primeira divisão. Foi, de longe, o time mais imprevisível do ano. Depois dele veio o Palmeiras, que após voltar à primeira divisão diretamente para o quarto lugar em 2004, repetido em 2005, esse ano acabou em 16º.
 
Tivesse ele sido de fato rebaixado, a seqüência de desempenho do time depois da adoção dos pontos corridos seria bizarra: rebaixado, Libertadores, Libertadores, rebaixado. Foi por pouco. Até o São Paulo, que antes do campeonato começar já era especulado por muitos como o campeão, pulou dez posições em relação ao ano passado, quando acabou em 11º.
 
Alguns times, porém, têm se mostrado bastante regulares desde 2003, como o supracitado Internacional, o mais estável de todos, o ultimamente intermediário Vasco da Gama, o ascendente Paraná Clube e o intermediário-ascendente Figueirense.
 
Entretanto, esses são exceções. A maioria dos times muda muito de posição de um ano para o outro. Na média, do ano passado pra esse, cada clube alterou seis posições na tabela.
 
Contudo, isso não quer dizer que o Campeonato Brasileiro seja competitivo. Imprevisibilidade e competitividade são coisas bastante diferentes entre si, e eu prometo explicar a diferença numa coluna futura. Mas fato é que não sabemos dizer quem será o campeão do ano que vem, não por causa do alto nível de competitividade e equilíbrio entre os clubes, mas simplesmente porque não temos a menor idéia de que jogador estará em cada clube.
 
Você tem idéia de quem vai ser o campeão brasileiro do ano que vem? Nem eu. Talvez, com sorte, a Mãe Dinah saiba dizer. E olhe lá.
 

É possível que ela esteja apenas especulando.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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