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No último domingo, o jornal Folha de S. Paulo revelou que uma empresa que presta serviços para os Jogos Pan-Americanos tem, em seu quadro de funcionários, uma das filhas de Carlos Arthur Nuzman, presidente do comitê organizador do Pan (Co-Rio).
 
Até aí, nada de errado, a não ser que a mesma empresa foi escolhida para ser a loja oficial dos produtos do Pan sem passar por um processo de licitação. A notícia saiu na Folha e repercutiu em outros veículos de imprensa nesta segunda-feira.
 
Nada disso, porém, foi visto na televisão. Nenhum registro foi feito no mesmo domingo. Esporte Espetacular, Fantástico, mesas redondas. Em nenhum momento qualquer emissora de TV falou sobre a notícia da Folha.
 
Band e Record pagaram, cada uma, cerca de R$ 11 milhões pelos direitos de transmitir os Jogos Pan-Americanos. Já a Globo não desembolsou um centavo. A venda de patrocínio do Pan envolvia o apoio também ao plano de mídia da Globo de transmissão do evento. Cada cota do evento custou R$ 67 milhões ao patrocinador, sendo que apenas R$ 11 milhões chegou ao esporte. O restante ficou para pagar a conta de anunciar na emissora durante quase dois anos. Além disso, a Globo Marcas é responsável por todo o licenciamento de produtos do Co-Rio.
 
O Pan, para a Globo, deixou de ser um produto jornalístico. Ele é, mais do que qualquer coisa, um evento, um produto financeiro para a emissora. Assim também é o futebol. Um produto comercial muito mais do que jornalístico. E o que isso muda?
 
Considerando que a televisão fala com 96% do país, vem dela a maior influência na formação do pensamento coletivo. É a partir do que a TV nos transmite que as pessoas formam opinião, que decidem lutar pelos seus interesses, que pressionam por mudanças no desenvolvimento do país.
 
Quando a TV passa a ter o esporte como produto comercial, e não jornalístico, as atuações suspeitas dos nossos dirigentes e atletas são relegadas a um segundo plano. Em nome do negócio, a sujeira é colocada embaixo do tapete, para não ficar à vista de todos.
 

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