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O Brasil, sabe-se, é um país extremamente frágil em diversos sentidos. O terrível acidente no aeroporto de Congonhas é mais um reflexo desse fato, tantas vezes manifestado por essas bandas.
 
Dessa vez, calhou de ser com um avião, objeto de destaque e que desperta imenso interesse na população. Daí, talvez, a repercussão. O fenômeno, porém, é corriqueiro. A fragilidade do país se expressa diariamente, tantas e tantas vezes, nos mais diversos setores. Na aviação, alguns acidentes. Nas rodovias, muitos outros. Na política, a omissão dos líderes e os interesses escusos. Nos hospitais, a inoperância do sistema. E assim vai, seja por onde for.
 
Isso é muito conseqüência do crescimento desordenado do país, influenciado por anos de políticas populistas e desatreladas de um plano racional e ponderado. Deu no que deu. O país cresceu, a economia evoluiu, as pessoas começaram a ter o direito e o poder de fazer o que der na telha, e a estrutura sucumbiu. A tragédia de Congonhas, assim como outras tragédias cotidianas, era anunciada. Estava claro que, em algum momento, alguma coisa ruim iria acontecer. Por fim, aconteceu. Mais uma vez.
 
Esse sistema de funcionamento e de tratamento irresponsável e inseguro está presente na própria alma do país. Assim, dessa forma, o futebol não fica fora.
 
É óbvio que vai acontecer alguma coisa muito ruim no futebol brasileiro. A irresponsabilidade é visível e o descaso é evidente. Até que alguma coisa aconteça.
 
Pode ser nas brigas entre torcidas organizadas, que possuem elementos básicos de conflitos que fazem do futebol apenas uma simples desculpa para a expressão da irracionalidade bélica presente em determinados setores da sociedade. Em vez de torcida de futebol, poderia ser partido político ou milícias separatistas. Tanto faz. O que importa, em si, é o conflito e a vitória, independentemente do custo. Prato cheio para uma tragédia que acontece regularmente com pequena força, mas que pode eventualmente tomar maiores proporções. Todo mundo sabe disso, mas o descaso impera.
 
Assim como também impera no tratamento dos estádios do país, palcos prontos para desastres.
 
Quando a tragédia de Hillsborough assolou a Inglaterra, produzindo 96 mortos em 1989, o governo resolveu dar um ponto final no histórico de acidentes produzidos pelo futebol no Reino Unido desde o começo do século XX. Para isso, encomendou um minucioso estudo a respeito das causas para tantas mortes dentro dos estádios. Chegou-se à conclusão que a principal causa era o esmagamento das pessoas dentro das arquibancadas, apertadas pelos movimentos da massa contra a grade. Por isso, proibiram cercas e alambrados ao redor do gramado e obrigaram todos a se sentar em um banco identificado. Com torcedores sentados e individualizados, os movimentos de massa responsáveis pela pressão do esmagamento deixariam de acontecer. Sem alambrados, cercas e fossos, a pressão oposta ao movimento da massa também não mais existiria, acabando com a lógica física do esmagamento. Passaram à lei e, desde então, ninguém mais morreu por isso.
 
No Brasil, os estádios são velhos, sem escoamento, com fossos e pessimamente estruturados. É um cenário perfeito para desastres. Alguns pequenos já aconteceram, mas nunca produziram um número considerável de mortes para chocar a sociedade. A queda no Maracanã, o desabamento em Taubaté e o acidente em São Januário foram fortes, mas não publicamente impactantes, o que é um absurdo. Por isso, ninguém fez nada, e ninguém vai fazer nada. Portanto, até agora nada justifica uma ação mais efetiva contra a probabilidade de esmagamento ou de outros acidentes dentro dos estádios. Porém, é óbvio que a tragédia está anunciada. E uma hora ela pode acontecer.
 
Muito se reclama do vazio dos estádios brasileiros. É preciso, porém, agradecer ao fato de que a média de público pouco passa de 10 mil e que a taxa de ocupação está próxima de um terço. Quanto menos gente dentro, menor a probabilidade de alguma tragédia acontecer, principalmente por esmagamento. Do jeito que as coisas estão, é preciso temer pelo dia que a taxa de ocupação dos estádios brasileiros passe dos 70%. Aumentam ainda mais as possibilidades dos desastres. E se os detentores do poder decisório não se preocupam em tomar pedidas preventivas, faça você então a sua parte.
 

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