A volta de Ronaldo, definitiva, com direito a empate no último minuto num dos principais clássicos do futebol mundial foi, sem dúvida alguma, uma notícia que ocupou as manchetes da maior parte da mídia futebolística do planeta.
Para variar, mais um retorno inesperado de uma pessoa que, a cada nova prova que completa, mostra que dela você pode esperar qualquer coisa, mas nunca pode dizer que ela já está acabada para determinado tipo de função.
Ronaldo é notícia em todo o mundo. É, ao lado de David Beckham, um jogador mundial, daqueles que fazem mais sucesso que o papa, principalmente porque o futebol talvez seja uma das poucas unanimidades em toda a Terra.
Ronaldo é global. E é exatamente esse o maior problema para a imprensa brasileira.
Porque, aqui no Brasil, essa frase tem um significado muito diferente. Ronaldo é global. E, por isso mesmo, a imprensa toda sabe que o único furo de reportagem relacionado ao Fenômeno será, muito provavelmente, dado pela Globo.
A prova cabal disso foi ontem, logo após o término da partida contra o Palmeiras. Nivaldo de Cillo, repórter da Bandeirantes, foi o mais rápido e conseguiu chegar para a entrevista com o Fenômeno. Logo após chegou outro repórter de uma rádio. Só se ouvia Ronaldo dizer:
“Calma, sem confusão. Se ficar como foi da última vez, não vou falar nada. Depois reclamam que eu não falo”.
Ronaldo se referia ao término do jogo contra o Itumbiara, quando foi “golpeado” com um microfone no rosto pelos afoitos jornalistas. Mas dessa vez a coisa não estava tão feia assim, por incrível que pareça. E havia aparente tranquilidade dos próprios jornalistas. Mas Ronaldo continuou…
“Olha lá, não dá. Assim não dá para falar. Ou fica sem confusão ou não dá”.
Nivaldo de Cillo, o repórter, retrucou:
“Mas agora está calmo, você já pode falar”.
“Não está não”, foi a resposta de Ronaldo, quando nitidamente estava apenas cercado por um microfone da Band, outro de uma rádio e, já nessa altura, com outro do PFC, o canal de pay-per-view da Globo. Nem vestígio de confusão e daquele bolo de jornalistas afoitos.
A discussão só parou quando chegou a pergunta de um novo repórter que se juntou ao grupo. Curiosamente, percebia-se o símbolo da Globo. E, daí, vieram as primeiras respostas do Fenômeno. Quatro questões seguidas, e Ronaldo com o olho fixo apenas no repórter global, ignorando qualquer questionamento dos outros jornalistas.
Só depois dessa “exclusiva” é que o jogador começou a responder aos outros repórteres. Nenhum deles, infelizmente, colocou naquela hora, ao vivo, o dedo na ferida.
Porque Ronaldo, há muitos anos, só fala com a Rede Globo. Foi no Jornal Nacional a primeira entrevista para dizer que chegava “mais um louco para o bando de loucos” do Corinthians. Foi na emissora que ele passou pelos mais diferentes programas, de Ana Maria Braga ao Esporte Espetacular, para falar qual era a sensação de jogar no Timão. Foi no Fantástico o desabafo do jogador quando esteve envolvido no caso dos travestis e quando disse que “era só voltar a jogar, começar a fazer gol e todo mundo se esqueceria disso”.
Assim como faz com Sandy, Ivete Sangalo e outros artistas badalados da mídia, a Globo parece ter com Ronaldo um contrato que lhe exige exclusividade. Ou, pelo menos, privilégio na hora de passar alguma informação bombástica à imprensa.
O mais curioso é que a Globo não precisa disso para ter o furo de reportagem. Apenas o peso que o microfone da emissora tem já é suficiente para que ela largue com vantagem na hora de construir uma relação de proximidade com a fonte. O impacto que a Globo causa na vida das pessoas já constitui motivo mais do que suficiente para uma pessoa ter o desejo de falar primeiro a ela. E, depois, dar atenção aos outros veículos.
Mas é impressionante como parece existir um medo terrível na Globo de ficar “para trás” na hora de uma informação exclusiva. E, com isso, ela parece usar toda a força que tem para manter os principais nomes da mídia com uma marca global no comportamento.
E, o mais curioso, nem Ronaldo e nem Globo precisariam disso…
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