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Dunga, Ronaldo, Keirrison, Cuca, Muricy Ramalho. Semana sim, outra não, esses personagens dominam boa parte do noticiário esportivo. E, a cada sete dias que passam, a imprensa teima em sentenciar o destino já traçado para cada um deles.

Até a próxima rodada, é assim que a imprensa vai traçar os destinos desses personagens e de tantos outros que disputam uma partida profissional de futebol. No final de semana, foi a vez de a corda de Muricy Ramalho roer. Após quase quatro anos de tentativas insistentes da imprensa em decretá-lo como imprestável ao ser eliminado de uma Copa Libertadores, finalmente o São Paulo “cedeu” aos apelos e desfez-se do técnico mais vitorioso da década.

É curioso como o atleta e o treinador de futebol são tratados, em geral, conforme o resultado que apresentam dentro de campo. Se não houver um bom desempenho, a sentença derradeira é determinada, como se não fosse possível passar por uma má fase ou ter um dia ruim. Por outro lado, quando há resultado, tudo se transforma num mar de tranquilidade.

Muitas vezes a pressa no dia-a-dia do jornalista é vista como a grande vilã para que a mídia trate o trabalho no futebol como algo relacionado apenas ao resultado que é apresentado dentro de campo. Nesse cenário, não existe tempo para a análise crítica, para a criação de critérios mais claros que permitam um julgamento mais profundo do trabalho no esporte mais popular do país.

Mas o fato é que essa situação evidencia a falta de um trabalho mais estruturado, vindo lá da base, para a formação em educação física no nosso cotidiano.

Hoje, para trabalhar com o esporte profissional de alto rendimento, a pessoa tem de se especializar muito, tem de obter conhecimentos nas mais variadas áreas, tem de saber pensar para poder ter um bom desempenho profissional. 

Treinador, psicólogo, fisiologista, médico, atleta, massagista, nutricionista, sociólogo, administrador, marketeiro. Todos os setores envolvidos no cotidiano de um time profissional de futebol tiveram de passar por um processo de ampliação dos estudos, da profissionalização e atualização constantes, para poder chegar ao nível que hoje estão. 

Do outro lado, porém, a imprensa reflete a falta de educação na escola, que é a base para a formação da sociedade. O jornalista que hoje fala sobre esporte raramente possui uma qualificação interdisciplinar. Na verdade, dificilmente encontramos jornalistas que tiveram, de fato, uma educação física na escola. 

Quando crianças, geralmente fomos ensinados a praticar esporte, e não a estudá-lo. Nas aulas, o professor dividia a classe em times e o melhor era sempre quem ganhava a partida. Na sua essência, essa aula era apenas para a prática do futebol. Estudar a história do esporte, para não sair do que é mais superficial, não fazia sequer parte dos planos de um professor de educação física. E, assim, a sociedade se acostuma a produzir pessoas capacitadas em ver apenas a necessidade do resultado.

Talvez as histórias dos Dungas, dos Ronaldos e dos Cucas sirvam para nós de lição. Mostrem o caminho para que a gente entenda que o esporte não é apenas o resultado, que o que é ruim hoje pode ser excepcional amanhã. 

Hoje, a gangorra na cobertura do futebol pela mídia mostra que, em todos os setores da sociedade, sofremos com a necessidade de ver o resultado positivo para poder aceitar algo como bom. 

Quase sempre essa gangorra nos reforça a pensar e agir dessa forma, sem entender que, por trás de qualquer história de vida, estão pequenas narrativas de fracassos e conquistas. 

A imprensa reflete hoje a falta de conhecimento que permeia a sociedade brasileira. E o nosso senso crítico é colocado quase sempre para escanteio, dando vazão, sempre, à irracionalidade. O que é besta vira bestial num piscar de olhos. E, assim, vidas vão sendo idolatradas e massacradas ao dissabor do resultado.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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