Chegamos ao momento do ano em que pessoas e empresas planejam.
No caso das pessoas, chama-se de resoluções de ano novo o ato de planejar, naquilo que nos cabe, o ano seguinte.
Nas empresas e instituições, chama-se planejamento estratégico, no mais das vezes, o período em que se discutem as ações vindouras da temporada de negócios.
Uns se socorrem dos seus oráculos: cartomantes, tarólogos, búzios, orixás, santos, videntes, astrólogos, na ânsia de iluminação para conduzir a vida que segue.
Outros se reúnem em intermináveis discussões, com gerentes e diretores dos diversos departamentos, debruçados em relatórios, números, projeções e análises, para tomar as melhores decisões sobre o rumo dos negócios.
De um jeito ou de outro, o planejamento está presente no dia-a-dia de ambos os grupos. Dos indivíduos ou das instituições. Queira-se ou não.
Planejamento é uma expressão que causa arrepio na maioria absoluta dos dirigentes esportivos do Brasil. Ou por não saber fazer, ou por não querer que ele aconteça. Pois dá muito trabalho e pode revelar coisas indigestas.
Tive acesso ao planejamento estratégico da Federação de Futebol da Nova Zelândia para o período 2006-2010.
Os neozelandeses são conhecidos como kiwi, dada a ave-símbolo do país, que também batizou a fruta que conhecemos bem.
Para quem já esteve em contato com a tradicional elaboração de um plano estratégico, não há nada de surpreendente no conteúdo do documento. A surpresa maior são os resultados obtidos – que é o que se espera de um planejamento bem feito…
Em resumo, contém: a visão do cenário e os objetivos gerais; seis desafios estratégicos a superar; o mapa da estratégia; orçamento; análise PEST e análise SWOT.
1. Alinhar o esporte e controlar o jogo. 2. Atingir sustentabilidade financeira. 3. Desenvolver o jogo. 4. Atingir sucesso internacional. 5. Melhorar a comunicação. 6. Otimizar a capacitação interna.
O primeiro desafio diz respeito à necessidade de unificar a gestão, governança e liderança, por parte da Federação, junto a um esporte de prática e controle fragmentados no país.
O segundo e o terceiro desafios são auto-explicativos.
Melhorar a comunicação refere-se ao incremento do nível de relacionamento com todos os stakeholders junto aos processos administrativos da Federação.
Otimizar a capacitação pressupõe a melhoria na formação dos profissionais de todos os setores envolvidos na indústria do futebol do país.
Voltemos ao quarto desafio. Atingir sucesso internacional. Os objetivos específicos, aqui, eram classificar-se para todas as principais competições da Fifa, tanto no masculino quanto no feminino, bem como melhorar a posição no ranking até 2010 (homens entre as 80 melhores seleções do mundo e mulheres entre as 15 maiores).
No masculino, vaga garantida para a Copa 2010. Em abril de 2007,já havia estado na posição 77 do ranking, e manteve até há pouco. Agora está em 82º.
No feminino, está em 23º lugar. A melhor posição foi a 20ª, em 2005.
Esse quadro, grosso modo, comprova o planejamento bem feito e com convicção de propósitos, alinhado às possibilidades de conclusão das metas. Sem segredos, porque o segredo está no trabalho enunciado no meio do planejamento.
Mas, por que planejar as coisas, uma vez que o Flamengo nem sonhava em ser o campeão brasileiro de 2009 e acabou conquistando o título?
De qualquer maneira, meu horóscopo aponta que 2010 será o ano do kiwi, porque, se não fizer minha parte, nenhum santo vai ajudar.
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br