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Alguns paradigmas demoram para serem quebrados no futebol. Um deles, sem dúvida, se refere às promoções e remunerações das comissões técnicas das categorias de base do futebol brasileiro.
Sob a perspectiva do crescimento vertical, quanto menor a categoria menor o salário do profissional. Outrossim, diz respeito ao crescimento dentro da instituição que, na grande maioria dos clubes, obedece uma progressão hierárquica sequencial. Sob este viés, um funcionário do clube que almeja chegar ao cargo de treinador da equipe sub-20 deve ter passagens como comandante das categorias menores. Exceções feitas às contratações.
Quem acompanha o mercado das categorias de base do país pode se certificar do que fora mencionado e, provavelmente, terá exemplos concretos de profissionais que vivenciaram ao menos uma destas situações.
O objetivo da coluna desta semana será trazer algumas reflexões sobre este modelo vigente, que se mal coordenado pode trazer impactos negativos importantes para toda a estrutura formativa do clube e, consequentemente, ao futebol profissional.
Logicamente não se pretende ignorar a complexidade dos elementos nos processos decisórios que envolvem as composições das comissões técnicas, tampouco desconsiderar o contexto técnico-político-administrativo que compreende cada clube e influencia as decisões. Pelo contrário, pretende-se trazer mais argumentos e ponderações para serem inseridos e debatidos pelos responsáveis por gerenciar as categorias de base dos clubes brasileiros.
Se, de fato, acreditamos no processo de formação, deveríamos relativizar a importância que se dá as diferentes categorias, do sub-11 ao sub-20. Pois, se de um lado o trabalho com a categoria mais velha é fundamental dada à proximidade e semelhança dos conteúdos em relação ao profissional, de outro, o trabalho com as categorias mais novas é indispensável para desenvolver o potencial cognitivo dos jovens jogadores. Quando se trata de formação, um trabalho de qualidade inferior a ideal em quaisquer etapas do processo traz consequências negativas significativas. Para exemplificar, se é praticamente consenso a queda de performance de Renato Augusto pela seleção brasileira (que tem recebido estímulos nos últimos meses de um futebol muito menos competitivo daquele que o levou à primeira convocação), o que dizer de um jovem de 15 anos recebendo maus estímulos ao longo de uma temporada inteira?
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Muitas vezes as diferenças de salário (que indiretamente estabelecem importância à função) entre os profissionais das categorias supracitadas são astronômicas. Desta forma, o clube corre o risco de estimular os treinadores de resultado. Sob um objetivo oculto de ser melhor remunerado, o treinador pode adotar a prática da vitória a qualquer custo, avessa a boa formação. Isso ocorre pois o treinador entende que uma das únicas formas de ser melhor remunerado pelo clube é subindo de categoria. Além disso, o cenário está montado para o pouco envolvimento dos profissionais inter-categorias. Afinal, o insucesso de uma categoria pode garantir a promoção do profissional da categoria imediatamente abaixo.
E é justamente sobre as promoções nas categorias de base que continuaremos as reflexões. Será que uma progressão sequencial é a melhor das alternativas para estimular um ambiente de melhoria contínua, produtividade e comprometimento com a instituição, maiores do que o envolvimento com uma única categoria?
Quais as justificativas para um profissional poder ser contratado no mercado para a categoria sub-17 mas um profissional do próprio clube, que exerce a função de auxiliar técnico da categoria sub-15, não poder ascender, desde que capacitado, diretamente para tal função?
Será que a promoção que privilegia uma ordem hierárquica não gera uma acomodação nos profissionais da instituição?
Esforço, dedicação, comprometimento, didática, planejamento e qualidade dos treinos são elementos que permitem análise e, minimamente, podem oferecer vantagem competitiva ao profissional que busca ascensão.
Para concluir, serão deixadas alternativas para os problemas apresentados. A primeira, que diz respeito à remuneração, sugere a definição de um piso para o cargo de treinador ou então qualquer outra função da área técnica de campo do clube. A partir dele, o salário será complementado em função de uma série de competências que o profissional pode possuir (curso de treinador, idioma, experiência como ex-atleta, graduação, especialização, mestrado, nível de jogo apresentado pela equipe, participação em congressos, etc.). Em linhas gerais, quanto mais competências o treinador possuir, melhor será a sua remuneração, independentemente da categoria.
Já em relação à promoção, sugere-se um acompanhamento detalhado da performance de cada um dos profissionais do clube ao longo da temporada. Para as categorias de base, o resultado de campo é apenas uma das variáveis que compõem as análises. Caso um profissional das categorias menores tenha se destacado o suficiente, vale a sua promoção. E tal promoção não está necessariamente relacionada à dispensa do outro profissional.
A evolução do futebol brasileiro pede mudanças em todos os seus segmentos. Na gestão das categorias de base estão muitas delas. Por um futebol sem “muros” entre as categorias, que privilegie a competência e com melhor distribuição dos recursos!
Aguardo a sua opinião…

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