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A adaptação do jogo ao aluno/praticante passa pela ideia de que as experiências de aprendizagem devem ser recompensadoras e produtivas. Obviamente que num jogo há sempre aquele que obtém maior sucesso em detrimento do outro, mas um ponto importante para uma aprendizagem produtiva é o claro entendimento do que se deve alcançar, seja ganhando ou perdendo.
Então, como tornamos possíveis insucessos ou derrotas, recompensadores? A ideia fundamental neste caso é fazer com que o aprendiz possa participar ativamente e muitas vezes das situações que envolvem o jogo, transformando a atividade em algo motivador e proporcionando uma grande densidade de ações e decisões. Além do que, pessoas altamente motivadas dedicam maior esforço à tarefa, são mais atentas durante as sessões de treino e estão mais dispostas a praticar por maiores períodos de tempo.
De modo a complementar, a ideia consiste em fazer cada vez melhor o que se pode fazer no jogo, ou seja, melhorar 1) a ocupação do espaço de jogo; 2) as ações tanto com a bola quanto sem a bola; 3) a interpretação do que ocorre no jogo e suas decisões; 4) e aumentar as possibilidades de intervenção.
Scaglia et al (2013), ilustram bem esta ideia ao afirmar que:
“… estruturar o espaço num mini-campo de futebol é relativamente fácil para uma criança de 10 anos. Já um campo oficial requer muita habilidade dos jogadores que, transitando da iniciação à especialização, enfrentam o problema de dominar o espaço de um campo oficial de futebol”.
Ao mencionar que o espaço deve ser estruturado para o aprendiz, ou seja, o campo de jogo deve ser adaptado ao jovem futebolista e não o contrário, o autor acima vai de encontro a um pré-requisito muito importante para uma aprendizagem produtiva; isto é, transformar a atividade em algo mais desafiador, com objetivos realistas e perfeitamente atingíveis. Desta maneira torna-se mais possível conseguir executar as ações desejadas de forma adequada e eficiente.
Uma vez identificado que um aspecto estrutural do jogo (neste caso o espaço) interfere de forma relevante no que diz respeito à aprendizagem, devemos ter em conta que existem outros elementos estruturais que precisam da mesma atenção. Assim, quando nos referimos aos aspectos estruturais do jogo, estamos nos referindo aos elementos que definem a modalidade.
A partir daqui, devemos considerar dois tipos de estruturas e saber diferenciá-las:
– Estrutura formal ou lógica externa do jogo, constituída por uma série de características que tendem a ser comuns a todos os esportes coletivos (espaço de jogo, bola, baliza, tempo/duração do jogo, número de jogadores e suas regras).
– Estrutura funcional ou lógica interna do jogo, a qual também caracteriza os esportes coletivos e consiste em entender o jogo como resultado das interações entre jogadores de uma mesma equipe, com ou sem a bola, estando a equipe atacando ou defendendo, com a finalidade de atingir os objetivos propostos.
Isto nos leva a pensar em possíveis adaptações da estrutura formal para cada escalão. Uma ideia é a utilização de formatos de jogos de 3×3, 5×5 e 7×7, o que facilitaria o processo de aprendizagem já que todas as ações com bola ocorrem próximas aos jogadores e à baliza. Tal diminuição do espaço, somada à uma adequação do tamanho e peso da bola, além de se adaptarem às características do jovem futebolista, permitiria ao mesmo mover a bola com maior precisão, favoreceria a uma participação imediata e a uma melhor organização no espaço de jogo.
Parece compreensível que tais adequações somadas às do tamanho da baliza, do tempo/duração do jogo e das regras do jogo também se fazem necessárias, de maneira que estes aspectos não se convertam em um bloqueio ao desenvolvimento do jogo. Desta forma, estabelecer uma progressão adequada e adaptada na estrutura formal do jogo ajudaria no processo de aquisição de habilidades técnico-táticas que requer o jogo.

Tabela 1. Exemplo de progressão das adaptações na estrutura formal do jogo para cada escalão

*Jogo de 3×3 sem goleiro

 
Ao adequar os formatos de jogo para cada escalão, permite-se que a estrutura formal tenha uma influência muito positiva na estrutura funcional do jogo. Fundamentalmente, o jogo passa a apresentar um aumento significativo de intervenções e um conjunto de situações mais simples que vão ao encontro das motivações dos praticantes, às suas características e ao seu nível de desenvolvimento.
Sustentando esta ideia, estudos realizados por Pérez e Vives (1996) e Casáis, Dominguez e Lago (2011), verificaram que o número de intervenções é maior quanto menor seja o formato de jogo utilizado, de forma que o número de ações como fintas, desarmes, finalizações ao gol, passes e condução de bola em formatos de jogo de 5×5 apresentem uma média de intervenções por minuto quatro vezes maior quando comparado ao formato de 11×11.

Tabela 2. Quadro comparativo entre os formatos de futebol de 7 e futebol de 11

Dados retirados de: Fútbol Base: El entrenamiento en categorías de formación

 
Aplicando a ideia de forma adequada, teríamos um aumento progressivo do campo de jogo e do número de jogadores de acordo com a idade e à medida que estes jogadores vão desenvolvendo suas capacidades no decorrer do processo de formação.
Seguindo a ideia, Ferreira (2013) cita que:
“Desta forma, os jovens futebolistas vão ter o jogo de futebol ajustado às suas características em termos de complexidade, fomentando o gosto pela prática e tornando o seu processo de formação mais estruturado, respeitando uma progressão pedagógica em termos de ensino na procura de um melhoramento a nível de jogo das crianças”.
 
Bibliografia
CASÁIS, L.; DOMÍNGUEZ, E.; LAGO, C. Fútbol base: el entrenamiento en categorías de formación. 2ed. MCsports, 2011.
FERREIRA, F. A transiçãod o futebol de 7  para o futebol de 11 de acordo com os princípios de jogo comuns. 2013. (Mestrado). Faculdade de Desporto, Universidade do Porto.
PÉREZ, L. A.; VIVES, E. V. La importância del fútbol 7 como passo prévio al fútbol 11. El entrenador Español, 70, 12-18, 1996.
SCAGLIA, A. J. et al. O ensino  dos jogos esportivos coletivos: as competências essenciais e a lógica do jogo em meio ao processo organizacional sistêmico. Revista Movimento, v. 19, n. 4, p. 227-249, 2013.

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