A defesa de faltas laterais: Vantagens e desvantagens da altura da linha defensiva – Parte 2: defesa posicionada de forma mais adiantada, à frente da linha da grande área

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Visando a obtenção de vantagem sobre os adversários, as bolas paradas têm sido alvo de reflexão neste espaço com alguma frequência. Já falamos sobre algumas estratégias que podem ser adotadas nos escanteios ofensivos e na última coluna, iniciamos a discussão sobre a defesa das faltas laterais, falando sobre as vantagens e desvantagens de posicionar a linha defensiva na linha da grande área, algo muito comum no futebol atual, sendo que esta tendência se aplica tanto para equipes que defendem homem-a-homem, como por zona.

Chegou a vez de falarmos sobre outra possibilidade de posicionamento, menos usual, que vem sendo adotado por algumas equipes nos últimos anos, o posicionamento da linha defensiva “mais alta”, ou seja, posicionada, sempre que possível, de forma mais adiantada, alguns metros à frente da linha da grande área.

Exemplo de defesa de falta lateral com a linha posicionada a poucos metros à frente da entrada da área (Liverpool).

Exemplo de defesa de falta lateral com a linha posicionada a muitos metros à frente da entrada da área (Manchester City).

 

Novamente, minha análise será centrada apenas no posicionamento, não levando em consideração parâmetros fundamentais como disciplina, agressividade, ataque à bola, imposição no duelo defensivo, coragem, sincronismo no tempo de entrada na área, velocidade no preenchimento dos espaços, etc.

Dito isto, posicionar os jogadores, sempre que possível, à frente da linha da grande área (a poucos ou a muitos metros – depende de onde é a cobrança) gera repercussões e interações significativamente diferentes do que quando comparado ao posicionamento mais convencional (na linha da grande área), proporcionando vantagens e desvantagens, as quais sem dúvida vale a pena pensar a respeito.

As vantagens associadas ao posicionamento defensivo à frente da linha da grande área:

Em minha opinião, a lógica por trás desta ideia gira em torno do local da cobrança, que irá influenciar diretamente a viagem da bola e o tempo que ela demorará para chegar até a área. Quanto mais longe a bola estiver da área, mais tempo leva para chegar até lá, assim como os jogadores rivais.

Como vimos na publicação anterior, posicionar os jogadores na linha da grande área (de forma intencional, mesmo tendo a possibilidade de adiantá-la) leva a que com a “viagem” da bola a defesa termine a jogada dentro da grande área, produzindo uma aglomeração de jogadores (defensores e atacantes) que limitam/restringem a ação do goleiro neste tipo de bola, impedindo de socá-la, ou agarrá-la, enfim, intervir de maneira direta. Deste modo, se cria a possibilidade dele ficar “vendido” no lance, a espera de algum desvio, ou acontecimento para reagir.

Desta maneira:

– Em caso de a bola ser lançada diretamente para a área (principalmente contra “pé fechado”), em virtude do posicionamento da linha defensiva estar mais adiantada (sempre quando houver a possibilidade), o goleiro terá mais tempo e espaço para intervir, porque teoricamente haverão poucos jogadores aglomerados ao seu redor dentro da área ao fim da “viagem” da bola, facilitando suas ações (por isso, quanto mais longe a cobrança, mais alta a linha pode estar);

– Ainda que um jogador atacante consiga finalizar a jogada, a finalização acontecerá, teoricamente, mais longe da baliza, aumentando as chances da equipe não sofrer gol;

– Devido a ser um posicionamento pouco utilizado, a equipe que ataca poderá perder suas referências habituais (tanto de batida, como de posicionamento e preenchimento de zonas de finalização);

– Se a linha de marcação for bem feita, a equipe igualmente se favorece da regra do impedimento, em caso da equipe adversária entrar antes da batida.

Compilação de lances positivos em que a defesa, posicionada com a linha mais alta, apresenta solidez defensiva.

Ainda, existem situações em que não é possível posicionar a linha alta, da maneira desejada, em virtude da posição da bola na cobrança (mais próxima da área, por exemplo). Nestes casos, o que vemos nas equipes que procuram adotar esta estratégia de marcação é posicionar a linha defensiva na linha da barreira, ou na linha/dentro da área, consoante o local da cobrança.

As desvantagens associadas ao posicionamento defensivo à frente da linha da grande área:

– Bolas nas costas da defesa podem ser exploradas através de corridas sincronizadas com o batedor e com bloqueios, já que ao propositalmente ceder espaço em suas costas, a linha defensiva fica vulnerável com bolas lançadas neste espaço (cavada, rasteira, etc.) quando precedidas ou não de bloqueios de determinados jogadores e corridas sincronizadas do atacante com o cobrador, acelerando sobre a linha defensiva no momento exato.

– Possível vulnerabilidade em cobranças de “pé aberto”, sobretudo com “bolas rápidas”: Quando o cobrador (principalmente de “pé aberto”) consegue colocar uma bola rápida entre a linha defensiva e o goleiro, existe a tendência em o ataque ser favorecido. Isso porque a vantagem da saída do goleiro devido à linha alta, fica diminuída já que com bolas rápidas o goleiro não tem tempo suficiente para intervir, podendo expor a linha defensiva, devido ao espaço que se cria entre defesa e goleiro.

Talvez seja por isso que equipes como o Manchester City e o Liverpool admitem baixar sua linha defensiva contra cobradores de pé fechado

– Jogadas indiretas (2 tempos): Segue a lógica de fazer a defesa correr de frente, em direção ao seu próprio gol, através do uso de jogadas de dois tempos, como por exemplo bolas cavadas no 2º poste para que a bola volte a ser jogada na área (com cabeceio, pé, etc.), proporcionando o ataque atacar o espaço entre goleiro e linha defensiva. Além disso, o fato da jogada ser em dois tempos, aumenta a viagem da bola, levando a que a defesa esteja mais aglomerada em torno do goleiro, quando comparada a uma jogada de 1 tempo (lançamento direto).

Compilação de gols e chances criadas a partir de faltas laterais, com equipes posicionadas com a linha mais alta.

Considerações finais:

Depois de expor sobre diferentes alturas de posicionamento da linha para a defesa de faltas laterais, fica claro que ambos os tipos de posicionamento possuem vantagens e desvantagens, cabendo ao treinador a escolha que mais se ajusta às suas convicções e, fundamentalmente, aquela que irá permitir levar vantagem sobre o adversário.

Em minha opinião, a característica dos jogadores da própria equipe, bem como a análise do próximo adversário (seus pontos fracos e fortes) são de fundamental importância no momento de eleger um posicionamento específico, podendo, inclusive, variar de jogo a jogo, com o intuito de obter maior solidez defensiva, e, por consequência, reduzir significativamente a margem de risco associada às faltas laterais.

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