O River Plate de Marcelo Gallardo tem se estabelecido como um dos grandes destaques do futebol sul-americano e mundial. Não apenas pelos 6 títulos internacionais nos últimos 5 anos, mas pela sua autenticidade na maneira de jogar. O que “El Muñeco” Gallardo conseguiu construir nos últimos anos se trata de uma identidade de jogo que sobrevive, se renova e se fortalece a cada temporada, algo que emociona seus adeptos e desperta o interesse e admiração daqueles que são amantes de equipes que expressam personalidade forte e altas doses de paixão pelo jogo.
Um desses amantes é ninguém menos que Pep Guardiola, que manifestou em 2019 sua admiração pelo trabalho artesanal do treinador argentino
“Precisamos ver o futebol sul-americano. Parece que existe apenas a Europa no mundo, e eu não entendo como Gallardo não é indicado entre os melhores treinadores do mundo. Não apenas por um ano, mas sim por tanto tempo” – Pep Guardiola
A partir de agora vamos iniciar uma série que irá analisar as características ofensivas do supercampeão argentino e como Gallardo organiza sua equipe no momento de disposição da bola, observando como muitos mecanismos táticos ofensivos permanecem vivos e favorecendo a interação dos jogadores durante todo esse período.
A construção do jogo
O início de jogo depende muito da conduta do adversário que geralmente optam por pressionar em bloco alto. Então, o início de jogo com bola longa se torna uma reação imediata dos millonarios onde os laterais buscam uma posição mais avançada no campo e esperam um passe longo dos centrais, caso não haja vantagem em iniciar o jogo com passes curtos. Após o passe longo dos centrais ou do goleiro o comportamento dos laterais passa ser de reduzir opções dos adversários e de ganhar a 2ª bola com encaixes individuais na região central do campo. Toda essa estrutura formada pelos laterais e médios é protegida pelos centrais que ficam responsáveis pelas coberturas e pelos duelos com os atacantes adversários que tentam aproveitar os espaços livres das costas. Veja alguns exemplos a seguir:
As imagens mostram momentos diferentes desse jogo, mas representam os comportamentos que mais se reproduzem na fase de início de jogo do River.
Na figura 2, os laterais Mercado e Vangioni buscam uma vantagem posicional sobre os atacantes da equipe colombiana como primeira opção, posicionamento padrão dos laterais de Gallardo. Na figura 3, o volante Ponzio e o lateral Vangioni se projetam para realizar os encaixes individuais na região central do campo e o lateral direito Mercado tem a função de acompanhar esse movimento para também proteger o centro do campo.
O mesmo comportamento acontece nos exemplos acima, anos depois. Aqui temos os laterais Montiel e Casco avançando para esperar o passe longo dos centrais.
Nas três imagens percebemos claramente a estrutura de contenção central posicionada para ganhar a 2ª bola. Importante ressaltar a interação dos volantes Ponzio e Enzo Pérez que têm a função de auxiliar os laterais intensificando a pressão nessa região do campo.
Na figura 9, a bola é rebatida pela equipe gremista para as costas da estrutura de contenção central e vemos Pinola se preparando para a disputa da bola e Maidana se projetando para uma possível cobertura defensiva.
Na Figura 10 o mesmo acontece, a bola é rebatida pela equipe do Flamengo e também retorna para uma região central atrás na estrutura de contenção e quem se responsabiliza da próxima disputa é o central Pinola e quem estabelece a cobertura defensiva é Martínez Quarta que também divide sua atenção com a projeção de Éverton para um espaço importante deixado pelo avanço do lateral Casco.
Esses exemplos demonstram como a equipe de Gallardo assume riscos ao avançar seus laterais para recuperar a bola em profundidade, ainda que deixem espaços nas costas dos laterais. Nessa situação a preferência é apostar nos duelos defensivos dos bons centrais para garantir a posse de bola, eliminar a chance de gol e iniciar seu ataque posicional, que será o tema da continuação de nossa série sobre o ataque do River Plate, na semana que vem!