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Crédito imagem: Antônio Cruz/Agência Brasil

O que sempre me encantou no futebol brasileiro foi o talento individual! Devo admitir. Por mais que tenha aprendido a admirar os movimentos coletivos coordenados, os princípios de jogo sendo bem executados, nada se compara a dribles desconcertantes em direção ao gol, domínios mágicos, passes que ninguém esperava ou finalizações magistrais. Na minha visão, a beleza mais nobre do futebol está na genialidade do indivíduo em perceber esse ambiente coletivo e complexo e agir de maneira criativa em função do jogo. Claro que quando tais ações são coordenadas coletivamente em um mesmo lance formam o apse, mas são tão raras de se ver que eu nem conto com elas. Resta-me esperar as genialidades individuais. E quando elas acontecem, para mim, já valeram o ingresso. Este sou eu, na minha íntima relação com a beleza presente no futebol. Respeito quem pensa diferente e devo dizer, pelos anos de estudo da tática, vejo muita beleza também em elementos mais coletivos do jogo. Só não me fascinam tanto.

Talvez, o fato de eu ser brasileiro colabore para que eu supervalorize os lances individuais. Afinal, tivemos tantos jogadores e jogadoras que desfilavam seus talentos em campo, quadra ou areia, aumentando incrivelmente nossas memórias de lances geniais daqueles que descrevi no parágrafo anterior. Concordo que não podemos resumir nosso futebol a talentos individuais. O futsal, o futebol de campo e de areia são esportes coletivos e isso jamais pode ser ignorado. No entanto, acima da excelência e eficácia de uma equipe, fui acostumado com a genialidade. Aquela que se esconde nas profundezas da intuição humana e, de repente, surge. Pronto! A paixão pelo futebol foi novamente plantada na minha alma.

Confesso que tenho medo de ver cada vez mais um futebol burocrático, que inibe qualquer desabrochar da genialidade que cada jogador ou jogadora pode possuir dentro de si. Observando a história do nosso futebol, jogadores e jogadoras, quando crianças, eram movidos a partir do que queriam explorar da brincadeira de jogar bola. Essa ignição os fazia aumentar seus repertórios de soluções dentro do jogo. Mesmo que em determinada situação não fosse a coisa mais “inteligente” a ser feita para cumprir a lógica do jogo, tentavam porque era difícil, porque era legal conseguir o que ninguém conseguia. Se errassem, apenas tentavam de novo, ou no máximo voltavam para casa, praticavam um pouco mais para tentar melhor na próxima pelada. Contudo, hoje, as crianças ao jogarem bola, quase sempre, estão sendo observadas/dirigidas/avaliadas, com uma mínima margem de erro entre serem promovidas a futuras promessas do futebol ou estarem fadadas ao fracasso de não terem gabaritado o teste de cada dia.

A sorte brasileira é que a Escola do Talento ainda permanece viva. Os meninos e meninas que vivem, sobretudo, nas periferias das grandes cidades, nas cidades litorâneas ou nas cidades pequenas e médias do interior do país, ainda aprendem a jogar futebol movidos pela descoberta do jogo, com o direito de errarem e consertarem à vontade. Esse modo de aprender, considero o Diferencial do Futebol Brasileiro, como relato na série de 4 textos que fiz sobre esse tema (Texto 1, Texto 2, Texto 3, Texto 4). É dele que emerge a base de conhecimentos aplicados ao jogo que poucos jogadores e jogadoras têm no mundo. São conhecimentos sobre o jogo que só quem o viveu de maneira plena e intensa por milhares de horas pode ter desenvolvido.

Na minha visão, os pilares para o desenvolvimento desses conhecimentos em massa, se olharmos para o Brasil, são essencialmente três:

  • (1) precisamos que a cultura do futebol influencie as crianças para que elas se apaixonem pelo futebol logo cedo, e com isso queiram gastar o tempo livre brincando de futebol;
  • (2) é preciso que cada criança que goste de brincar de futebol encontre outras que também gostem, pois quanto mais crianças brincando juntas, melhor para o desenvolvimento das habilidades e da afetividades de cada uma delas para o jogo;
  • (3) essas crianças precisam de tempo e espaço suficiente para brincarem, sem se preocuparem com outras coisas que não seja aproveitar a brincadeira da melhor maneira possível.

Dentro de uma perspectiva educacional, configurando o que seria a Escola Brasileira do Talento, esses três elementos são centrais para que continuemos formando pessoas talentosas para o jogo de futebol. Porém, para que elas se tornem jogadoras ou jogadores de futebol de excelência, isto é, tenham a sua formação mais completa possível, elas precisarão passar por mais três Escolas. Ricardo Drubscky certa vez citou a Escola do Talento e a Escola do Jogo, peço permissão a ele para adicionar mais duas, a Escola do/a Atleta e a Escola do/a Cidadão/ã. Nos próximos textos discorreremos sobre cada uma delas nesta nova série chamada Futebol e Formação Integral – A Escola Brasileira. Espero que goste e caso queira ler mais textos meus, clique no meu nome aqui abaixo! Grande abraço e nos encontramos na próxima semana!

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