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Torcedores do Fluminense, no fim de semana, antes do jogo da rodada, protagonizaram uma cena, no mínimo, caricata e altamente simbólica do nosso futebol ao se reunirem nos pés do Cristo Redentor para rezar e pedir aos céus que o clube não seja rebaixado. O Globo Esporte mostrou o ato ecumênico-esportivo com destaque.

Mas o teor da reportagem foi sério demais. Para mim, deveria ter sido mostrado no Pânico ou no Casseta e Planeta.

O povo brasileiro, historicamente, sempre foi acostumado e se acostumou a descarregar as tensões e problemas sociais na esperança de contornos religiosos, de que o amanhã será sempre melhor que o hoje.

A famosa transferência de responsabilidades que, nesse contexto, podemos resumir no famoso “Se Deus quiser”…

Reputam-se todos os males que se nos ocorrem ao alheio as nossas ações e ao aleatório. Nunca a nossa omissão ou falta de discernimento para tomar decisões de forma coerente e implementá-las. Razão e religião costumam vir no mesmo pacote, para consumirmos misturadas.

Afinal, não foi um movimento lógico e possível de mercado a contratação de Kaká pelo Real Madrid junto ao Milan. Segundo sua esposa, Deus colocou o dinheiro do mundo em crise nas mãos do clube espanhol para contratá-lo.

A Fifa, por outro lado, apressa-se para coibir manifestações religiosas excessivas nas competições oficiais organizadas pela entidade. A Associacao Dinamarquesa de Futebol emitiu nota oficial reclamando do fervor religioso da comemoração de nossa seleção na Copa das Confederações deste ano.

A mim, não resta dúvida: se olharmos para o microcosmo social que é nosso futebol, Deus é brasileiro, mesmo!

Eis uma pequena história, já bem antiga, para ilustrar como nosso futebol precisa de mais razão e menos religião: 

Em um dia de tempestade, um padre estava em sua igreja temendo que alagasse tudo, e começou a rezar e a pedir: “Deus, por favor, me ajude! Não me deixe morrer se ocorrer uma enchente… O Senhor bem sabe que eu não sei nadar!”.

Um pouco depois, dois homens apareceram num carro e um deles pergunta:

– Padre, quer uma carona? Acho que vai alagar tudo por aqui!

– Não, meu filho, obrigado… Deus vai me salvar! – responde ele.

A chuva começou a aumentar e o padre, confiante, permaneceu no mesmo lugar.

Um pouco mais tarde, quando já estava quase tudo alagado, um homem apareceu com uma lancha, e falou para o padre: 

– Padre, vamos sair daqui! Está tudo alagado, e o senhor pode até morrer!

– Não, meu filho, ficarei aqui. Deus vai me salvar – responde o padre insistentemente.

A chuva não parava. O padre resolveu ir até o telhado da igreja e viu um helicóptero de resgate. O piloto gritou:

– Ei padre, venha rápido! A igreja vai desmoronar com a enchente! Mas o padre, muito confiante, respondeu-lhe: 

– Não, ficarei, meu filho. Vá, pois Deus irá me salvar!

Não deu em outra! A enchente aumentou, a igreja desmoronou e o padre morreu. Quando o padre chegou ao céu, deu de cara com Deus, e Lhe perguntou:

– Meu Senhor, por que não me salvastes?

E Ele respondeu:

– Ora, Eu tentei! Mandei homens te buscar de carro. Depois, mandei um homem de barco, e por fim, mandei um rapaz te pegar de helicóptero, e você não quis ser salvo…

Muitos barcos já passaram e continuam passando para tentar salvar nosso futebol. A saída escolhida pelos dirigentes, até agora, é subir no telhado e rezar.

Para o Fluminense e muitos outros clubes do Brasil, a tábua da salvação deve ser mais gestão e menos religião.

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