Cartão torcedor – peça já o seu

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Não é preciso ser nenhum exímio observador pra perceber o tamanho do problema da violência dentro, e fora, dos estádios do futebol. Tão grande ele é que o poder público vem há tempos tentando criar medidas e ferramentas para que esse problema seja amenizado.
 
Em 2003, todos recordam, foi criado o Estatuto do Torcedor. Na ocasião do anúncio da medida, o presidente Lula disse que no Brasil existem algumas leis que pegam, e outras que nem tanto. Era a sentença do não muito esperançoso futuro do conjunto de regras que buscavam, entre outras coisas, salvaguardar o mínimo de segurança para cada torcedor que ia a um estádio.
 
Três anos depois, em uma ação conjunta do Ministério dos Esportes com o Ministério Público, CBF e Federação Paulista, é anunciada uma nova proposta contra a violência nos estádios, o Projeto Piloto da Comissão de Paz no Esporte. De acordo com o site do Ministério do Esporte, o projeto junta “as medidas do Estatuto do Torcedor com a experiência de combate à violência nos estádios de futebol”. Isso é meio estranho. O próprio Estatuto do Torcedor já não havia sido criado baseado na tal da ‘experiência de combate à violência nos estádios de futebol’? Se sim, isso quer dizer que o no projeto envolve a ‘experiência de combate à violência nos estádios de futebol’ ao quadrado?
 
Bom, tudo bem. Experiência nunca é demais.
 
Porém, a própria experiência contradiz um pouco o novo projeto, que tem como carro chefe o cadastramento dos ‘torcedores organizados’ com a criação de uma espécie de ‘cartão do torcedor’, que contará com RG, foto, endereço, etc, do indivíduo.
 
Em meados da década de 80, no auge da crise do hooliganismo na Inglaterra, o governo da primeira-ministra Margaret Thatcher tentou passar o “Football Spectators Act”, que dentre outras coisas buscava instituir uma espécie de ‘cartão torcedor’, de modo a controlar o comportamento individual dos torcedores, e prevenir a entrada dos hooligans nos estádios. A medida foi rechaçada pelos clubes, torcedores e até pela polícia, que acreditava que a proposta era leviana, não atingia a essência do problema e possivelmente potencializava os confrontos violentos. Alguns anos depois a idéia foi definitivamente enterrada pelo Relatório Taylor, o divisor de águas da cultura hooligan, que comparou a implementação do cartão como “quebrar uma noz com uma marreta”.
 
Tudo bem, as realidades ao diferentes, e a situação das torcidas organizadas não são o espelho exato do fenômeno do hooliganismo. Seguramente, as entidades envolvidas no projeto brasileiro possuem lá suas razões para acreditar que essa é a melhor das soluções. Mas é preciso ficar atento, uma vez que é sempre possível contestar a atitude autoritarista que o Estado está tomando e até que ponto os torcedores organizados devem ser tratados como pessoas ausentes da sociedade. Além disso, o próprio presidente da Comissão de Paz no Esporte disse para o diário Lance! que “o projeto do cadastramento é o melhor amigo das organizadas”, e que a Comissão quer “quebrar o anonimato dos organizados, identificar os inimigos do futebol”.
 

Não sei quanto a você, mas eu não considero o melhor amigo do meu inimigo uma pessoa muito confiável.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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