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Sejamos sinceros. Se a Copa do Mundo de 2014 for realmente no Brasil, quem você acha que vai pagar a conta?
 
Sem chance de qualquer erro, é possível dizer que atualmente quem financia qualquer investimento válido em estrutura esportiva no Brasil, direta ou indiretamente, é o governo, principalmente o federal. Basta ver o Pan.
 
2014 pode parecer longe. Afinal, no filme ‘De volta para o Futuro’, o futuro mais distante imaginado – que possuía carros e skates voadores, tênis e roupas auto-ajustáveis com secadores, outdoors holográficos e hidratadores de pizzas – era 2015. De acordo com idéia, portanto, a Copa do Mundo de futebol no Brasil será realizada um ano antes disso tudo.
 
Porém, 2014 não é tão longe assim. São apenas sete anos. É logo ali, como a África. E é bastante possível dizer que boa parte dos diversos problemas do Brasil não será solucionada até lá. É claro que a tendência, ainda que incerta, é que o mercado evolua, que o nível educacional médio suba e que a estrutura do país como um todo melhore. Mas muito daquilo que atravanca o desenvolvimento nacional irá continuar acontecendo, principalmente se levar em conta que dificilmente o Estado diminuirá de tamanho de maneira significativa. Isso quer dizer que quem vai financiar a Copa de 2014 será ninguém que não o Poder Público. Muito provavelmente, será o dinheiro proveniente dos tributos que irá pagar a conta final do investimento realizado para sediar o evento.
 
O fato de o Estado ser o principal financiador de um evento esportivo como a Copa do Mundo gerará grandes distorções na aplicação dos investimentos. Projetos serão escolhidos com critérios subjetivos, os materiais utilizados podem não ser da qualidade necessária, e a avaliação final dos resultados será muito mais política do que técnica. Problemas como estouros orçamentários e atraso de obras serão comuns, além de possíveis mudanças nos projetos durante a execução. E, talvez o pior de tudo isso, os projetos serão pensados muito mais pelo viés do retorno político da obra do que pela sua sustentabilidade.
 
Um caso clássico desse tipo de posicionamento foi o estádio Delle Alpi, da Juventus de Turim. Construído pelo poder público para a Copa de 1990 na Itália, o estádio virou uma dor de cabeça para o futebol italiano, principalmente para a Juventus, que se tornou dona do espaço. O estádio é enorme, suntuoso e bonito por fora. Porém, é frio, extremamente disfuncional, e tem lugares onde não é possível ter uma visão completa do gramado, que por sua vez fica longe das arquibancadas por conta de uma pista de atletismo que, pelo que me consta, foi utilizada uma única vez desde que o estádio foi inaugurado, quase vinte anos atrás. Não por acaso, a média de público da Juventus é pífia, quase no mesmo nível de jogo do Campeonato Brasileiro. O estádio foi parte do legado deixado pelo investimento público na Copa do Mundo.
 
Além desses problemas práticos de se investir o dinheiro público na realização de um evento do tamanho da Copa, há de se questionar como que um torneio como esse pode gerar um legado estrutural para o país. Afinal, melhorias estruturais, transporte, segurança, et al, são obrigações do Estado. É pra isso que eu e você pagamos impostos. Não precisa que aconteça um evento desse tipo para que o poder público pense em se mexer. Se, por exemplo, disserem que a Copa do Mundo trará melhorias na segurança pública do país, quem está pagando a Copa é o governo e todo mundo sabe que o país precisa de melhorias na segurança, por que esperar uma Copa do Mundo pra fazer isso? A mesma coisa vale para melhoria nas estradas e nos aeroportos. Todo mundo sabe que precisa melhorar. Precisa realmente da motivação futebolística para desamarrar os nós e fazer a coisa funcionar?
 
Não faz sentido.
 
Como também não faz sentido acreditar que os novos estádios serão uma benesse para o futebol brasileiro. O país ainda sofre com a herança da última vez que tentaram fazer estádios grandes e modernos, durante a ditadura militar. Criou-se, então, uma estrutura imaginária para o futebol nacional que acabou não se sustentando com a queda do regime. Desde então, o país sofre com o peso dos elefantes brancos. Ou melhor, com os amplos espaços vazios dos estádios, típicos de projetos feitos sem perspectiva de futuro e sustentabilidade, pensados unicamente no afã do momento político da inauguração. Igualzinho ao que provavelmente vai acontecer com a Copa de 2014.
 
O Pan indica que a iniciativa privada brasileira ainda não está muito disposta a investir em um evento esportivo. Em sete anos, dependendo, é possível que o cenário mude, mas não muito. Como a Copa do Mundo é imensuravelmente maior que o Pan, é óbvio que a boa vontade dos investidores privados deve aumentar. Entretanto, os ganhos políticos proporcionados pela Copa também serão enormes, principalmente se for levado em conta que 2014 é ano de eleição presidencial e para governador. Com isso, talvez a própria vontade de investimento público (dinheiro) por retorno político (voto) acabe sufocando o investimento privado. Dessa forma, pouca coisa deve mudar mesmo.
Quem vai acabar pagando a conta, é o governo federal.
 
Posteriormente, quem vai pagar é o futebol brasileiro, que terá que se virar pra sustentar uma herança desproporcional ao seu tamanho.
 
Estou louco para saber o que vai acontecer em 2014.
 

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