É bom, mas pode ser ruim

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A Revista Veja dessa semana aponta para um fenômeno do ambiente brasileiro que já era perceptível há certo tempo: a escalada econômica das faixas mais baixas da população. Mais especificamente, a migração das classes D e E para a classe C, o que significa basicamente que uma considerável parte da população brasileira está saindo da linha da pobreza e passando para a classe média baixa. Isso faz parte possivelmente de um processo evolutivo conseqüente da política econômica mais racional e globalizada adotada a partir do início da década de 90 e que começa a apresentar maiores resultados agora, sendo o mais importante a redução da desigualdade econômica e a ampliação da classe média brasileira.
 
Para o futebol brasileiro, essa mudança de ambiente é essencial. Como eu já disse antes, o futebol moderno – assim como a maioria dos esportes atuais – é um produto direcionado para a classe média. Em países subdesenvolvidos que possuem um espaço muito grande entre as classes econômicas, o esporte acaba sendo bancado pelo Estado. Em países mais desenvolvidos, em que a classe média é a dominante, o esporte assume ares economicamente mais racionais e favorece a sua expansão e o seu próprio desenvolvimento.
 
Uma das grandes características da classe média, eu acho, é ter tempo e dinheiro para ser gasto com lazer. E esse tempo e esse dinheiro que sobram são os combustíveis essenciais que movem o futebol moderno. Ao criar um intenso interesse da classe média, você também fomenta o interesse das classes economicamente superiores, que você acaba conseguindo manipular através de variáveis de oferta e demanda baseada no dinheiro. Com isso, a relação de capital entre clube e público é estabelecida, o que tende a gerar maiores preocupações com o espetáculo em si, seja na estrutura das acomodações ou na manutenção dos principais atletas.
 
Eis que, porém – e como bem alerta a matéria da Veja, essa aparente bonança da classe média ainda não possui uma base muito bem estabelecida. Ela é essencialmente baseada na grande oferta de crédito do mercado. Muita gente, principalmente os mais pobres, tem a sua recente expansão econômica financiada por um dinheiro que de fato não possui. É esse dinheiro que tem permitido a aquisição de bens de consumo básicos, como carro, eletrodomésticos e afins. Caso essa estrutura de crédito atual não resulte em uma estrutura econômica positiva e mantenedora, o sistema pode entrar em colapso e eventualmente devolver todos os imigrantes para o local de qual vieram, tipo a Espanha. E na medida em que as pessoas tiverem menos dinheiro disponível, elas tenderão a cortar os investimentos menos essenciais, e sempre sobra pro lazer e pro passatempo. Sobra, no caso, para o futebol.
 
Conforme o futebol for se adequando para uma estrutura de maior liquidez, ele tende naturalmente a criar mecanismos que favoreçam as práticas de mercado. Entretanto, se essa estrutura for baseada unicamente em um sistema de crédito temporário, ela se esfacelará caso o ciclo de crescimento racional não se estabeleça e o crédito e a liquidez desapareçam do mercado. E os efeitos disso é melhor sequer imaginar.
 
O futuro do futebol brasileiro depende mais do país do que dos dirigentes em si.
 

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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