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Peço hoje (e mais uma vez) licença para falar de coisas que também são futebol, mas que não são sobre futebol. Não é tático, não é físico, não é técnico, nem é mental (até porque essa é somente uma divisão didática – não se pode dizer onde começa uma coisa e termina outra).
 
Gostaria de começar (sem a pretensão de querer ser o que não sou) adiantando apenas que vou extrapolar os limites que me são dados na formalidade do pensamento escrito e no bom senso.
 
Realmente o meu desejo é de, através desse espaço que tenho, protestar. Queria ser poeta, filósofo… Queria poder ter as palavras certas (e saber usar as palavras certas!).
 
Hoje estou como sempre. Concentrado, dedicado, determinado, atento e diria, num “estado de flow” bastante satisfatório (escrevo isso para deixar claro que o protesto independe dos meus estados de humor, autoconfiança ou qualquer outra coisa).
 
O que está diferente hoje é outra coisa. Não sei bem definir o quê.
 
Posso dizer que estou um tanto quanto assombrado com a capacidade de nós seres humanos de, em detrimento aos ideais, conhecimentos e paixão por aquilo que fazemos, mudar o rumo das coisas em nome de uma pseudo-estabilidade momentânea (pseudo-estabilidade em várias direções – social, econômica, no trabalho, etc.).
 
Honra, lealdade, coragem e respeito parecem ter se tornado apenas palavras bonitas para serem ditas em discursos vazios de realidade. O que se fala, não se escreve. O que se cobra, só se cobra para criar efeitos formais e impressionar.
 
Impressiona-me a incapacidade que nós seres humanos temos de defender aquilo que realmente acreditamos em momentos em que realmente somos submetidos a algum tipo de risco (porque é óbvio: sem risco, “andando conforme toca a banda”, em condições favoráveis é fácil defender um ponto de vista).
 
Parece que apoiando-se em muletas pode-se justificar certas incapacidades (sem buscar estórias ou metáforas e lugares distantes, não foi Pedro quem negou Cristo por três vezes? – sobrevivência?).
 
Oh instinto de sobrevivência, seria você necessariamente desprovido de caráter e convicções (as mesmas convicções que outrora, por diversos momentos se manifestara para apontar caminhos)?
 
Na música Vila do Sossego, Zé Ramalho canta:
 
“Oh, eu não sei se eram os antigos que diziam; em seus papiros Papillon já me dizia; que nas torturas toda carne se trai. Que normalmente, comumente, fatalmente, felizmente; displicentemente o nervo se contrai, oh, com precisão”.
 
Será que nascemos para trair na tortura que nos é imposta?
 
Será que os lobos em pele de cordeiro não podem ser devorados pelos próprios cordeiros?
 
Os seres humanos realmente me impressionam. O “futebol humano” realmente me impressiona.
 
Mas realmente o que mais me impressiona é o caminho de passividade e de desprendimento total de valores pelo qual tem percorrido a humanidade.
 
E por mais que não pareça:
 
“O tempo passa…”
 
Com certa freqüência acreditamos e deixamos de acreditar em coisas outrora incontestavelmente certas (ou incertas). Caímos, levantamos. Crescemos, nos apaixonamos. Novas verdades surgem, velhas mentiras deixam de existir.
 
Quase num passe de mágica deixamos de ter nossos heróis para nos tornarmos nossos próprios heróis. Desafios, conflitos, dificuldades, gente, solidão.
 
Amadurecemos!
 
Derrotas e vitórias, triunfos e desastres, tristezas e conquistas… à vida.
 
O tempo passa e para alguns de nós chega o dia em que nos damos conta de que não estamos onde imaginávamos estar 20 anos atrás. Nos damos conta de que por desatenção “demos conta” tarde demais de que a trilha tomada estava errada (quando é tarde demais?).
 
Vencer não é difícil. Difícil é a disciplina para vencer.
 
Ah, seres humanos estranhos que somos. Reclamamos da vida e das coisas que deixamos de fazer. Nos arrependemos, mas poucas vezes percebemos que no tempo do presente estava o segredo do tempo do futuro; no tempo do treino, o tempo da guerra; no tempo dos limites intrínsecos, o tempo das conquistas exteriores…
 
Todos querem vencer. Poucos querem se preparar para o dia da vitória.”
E por mais que não pareça, estou falando sobre futebol; porque por fim, ao invés de defendermos posições estáveis deveríamos defender ideais.
 
“(…) E há tempos/ nem os santos têm ao certo/ A medida da maldade/ E há tempos são os jovens/ Que adoecem/ E há tempos/ O encanto está ausente/ E há ferrugem nos sorrisos/ Só o acaso/ estende os braços/ A quem procura/ Abrigo e proteção (…)” (Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá)
 
O que está diferente hoje é outra coisa. Não sei bem definir o quê. Só sei que não é o futebol…

Para interagir com o colunista: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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