O ídolo e a mídia

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Estádio Palestra Itália, São Paulo, por volta das 20h45 de domingo, dia 21 de setembro. Fazia cerca de meia hora que o Palmeiras, naquele mesmo estádio, havia derrotado o Vasco por 2 a 0, colocando-se a um ponto da liderança do Campeonato Brasileiro. Com o gramado ainda iluminado, cerca de mil torcedores ainda se aglomeravam num lado da arquibancada.

Animado, o grupo começou a cantar: “Ô, ô, ô, ô! Libera o Marcão!”

O grito, acompanhado do bumbo da torcida organizada, tinha um endereço certo. O goleiro Marcos, que havia acabado de completar o jogo de número 400 com a camisa do clube paulista. Cerca de cinco minutos depois (e de insistentes gritos, alguns outros não tão simpáticos endereçado à imprensa), Marcos foi à beira do jardim suspenso palestrino e atirou a camisa para os torcedores, em mais uma mostra de simpatia e sintonia com a torcida.

O gesto do goleiro e hoje capitão do time palmeirense mostra bem o quanto um ídolo é importante para um clube e, também, para a mídia que vive do esporte.

Marcos ficou cerca de meia hora após o jogo concedendo entrevistas para repórteres dos principais veículos de mídia TV e rádio do país. Ele ainda teria de descer ao vestiário, tomar banho e, depois, dar mais entrevistas para outros jornalistas da imprensa escrita.

E esse “périplo” do santo palmeirense não era inédito, nem motivado pelo fato de que Marcão havia completado 400 jogos no time alviverde. Toda partida do Palmeiras no Palestra Itália tem essa rotina. Após o apito final, lá está Marcos conversando com os jornalistas, à espera do pedido de “alvará de soltura” dos torcedores, para então começar a descer os vestiários e voltar a dar entrevista para a imprensa.

Marcos é ícone, ídolo, referência. Num clube em que a maioria dos jogadores não tem nem três anos de casa, um atleta que há 12 anos fez sua estréia no time principal e participou das mais importantes conquistas da história do clube tem de ser naturalmente o porta-voz da instituição.

O comportamento da imprensa esportiva na cobertura do cotidiano é pautado pelo ídolo. Aquele cara que consegue atrair a atenção dos torcedores, que consegue ditar o ritmo das pessoas, é aquele que concentrará mais de 60% (em alguns casos, dependendo da fase do time e do atleta, 95%) das atenções da imprensa nos treinos e jogos.

A situação descrita acima é, com algumas modificações no enredo, repetida na maioria dos campos do país, com os mais diferentes jogadores. No mesmo Palestra Itália, ontem, Edmundo foi o último atleta a deixar o campo pelo time do Vasco. Assim como, no Morumbi, é Rogério Ceni quem fica até mais tarde para dar entrevista. Ou, no Mineirão, Marques explica vitórias e derrotas do Atlético Mineiro.

Sem um ponto de referência, torcida e imprensa não sabem como se comportar. Relatos de jogos sempre são feitos em cima de heróis. Seja ele eterno, como Marcos, ou passageiro, como o salvador do time naquela partida recém-encerrada.

Por isso que o futebol brasileiro, para resgatar seu prestígio em todas as esferas, do campeonato nacional à seleção, precisa se preocupar em formar mais ídolos. Eles movem a imprensa, que por sua vez contribui, ao reproduzir os feitos desse ícone, para que a paixão da torcida se transforme em consumo, gerando muito dinheiro e mais chances de formar novos craques. Sem isso, qualquer esporte está fadado a cair no esquecimento. Alguém lembra de outro ídolo no basquete masculino brasileiro depois de Oscar?

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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