Notas duplas

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Eu estava com um assunto pronto para escrever, mas, visto a amplitude tomada por dois fatos nessa quarta-feira, achei melhor adiar.

São dois casos interessantes, e cada um merece uma pequena nota.

Ei-las:

1) O Palmeiras comprou o Pierre e disse que não vai vender ninguém esse ano. O economista Belluzzo, ao que tudo indica, não pensou economicamente, mas passionalmente.

Para ele, vale mais a pena ser campeão do que ganhar dinheiro. É justo. Não é econômico, mas é justo. À exceção do caso do Pierre, não deu pra entender muito a postura da Traffic. Alguma coisa aconteceu. Essa era pra ser a janela dos atuais três principais nomes da parceira Traffic-Palmeiras.
 
O Pierre acabou indo pro próprio Palmeiras, o que também é justo. O jogador dificilmente conseguiria um grande clube em um grande mercado. Entre ir um clube médio do exterior e um clube grande brasileiro, melhor ficar no Brasil, ainda mais com a queda do dólar. Ademais, mercados em desenvolvimento, como a Arábia, ainda terão interesse no jogador, mesmo que com 28 anos.

Mas a janela pro Cleiton Xavier e pro Diego Souza é essa. O Cleiton tem 26 anos e é, possivelmente, o melhor jogador do Palmeiras. A idade prejudica uma transferência para um clube de ponta. Só que, ainda assim, tem muito mercado. Só que isso é pra agora. Conforme o tempo passa, mais restrito vai ficando o mercado pro jogador. Ele deve saber que tem futebol para jogar algum campeonato competitivo, quem sabe até a Champions ou a Europa League. Se passar mais um ano, a probabilidade da disputa diminui.

Quanto ao Diego Souza, o momento de alta sugere que ele deva ser vendido agora. A idade, ainda, não é um problema. Mas é difícil imaginar que ele vá ter uma fase, e um valor, maior do que o atual. A hora dele e do Cleiton saírem é agora, economicamente falando.

Ou a Traffic já acertou alguma coisa com alguém para o final do ano, ou ela não recebeu uma boa proposta pelos jogadores. Ou então é tudo cena e os dois jogadores devem sair em breve.

É justo que o presidente do clube haja com paixão, mas não o investidor, que comanda um fundo com outros acionistas que, como todo bom investidor, quer saber é de grana no bolso. E a valorização por uma eventual conquista de campeonato dificilmente consegue bater a depreciação da idade sobre o valor da transferência de um atleta.

2) A CBF admitiu que o governo vai ter que bancar, de um jeito ou de outro, a Copa. Óbvio. Só que o argumento agora é que a grana virá de um empréstimo “gente-fina” do BNDES. Também não vai dar certo.
 
Por mais que seja do BNDES, empréstimo é empréstimo. E todo empréstimo tem juros. Isso significa que qualquer pessoa que pegar o empréstimo terá que, eventualmente, devolver mais do que pegou. E isso implica dizer que o estádio terá que dar lucro, ainda que pequeno. E, repito, isso não vai acontecer. Talvez um clube ou outro. Mas é difícil.
 
O estádio terá que ser, pelo menos uma boa parte, subsidiado diretamente pelo poder público, seja ele municipal, estadual ou federal. O mais provável é que seja o estadual.

É dinheiro aplicado para dar retorno intangível. E só. E quem aplica em intangibilidade é o poder público. O problema é que a eleição de 2010 vai atravancar todo o processo, seja pela imprevisibilidade da sucessão de poder ou pela disputa eleitoral. Enfim. A bola de neve está crescendo. A tendência é que ela fique maior ainda.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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