Destino inócuo

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Certa vez, alguém disse que futebol não é importante. Mas, que das coisas menos importantes, futebol certamente era a mais importante.

Isso deveria ser um lema.
Um mantra a ser entoado por qualquer pessoa que passa de certo limiar entre o mundo real e o “avataresco” mundo futebolístico.

Afinal, futebol não é mesmo importante.
Mas tem lá a sua importância.

Muito mais importante do que discutir o futuro do futebol, por exemplo, é discutir o futuro da humanidade.
E foi isso que os líderes mundiais resolveram fazer em Copenhagen, noutro dia.
Discutir o futuro do mundo.
Que, de acordo com eles e com um monte de outras pessoas, está a perigo por conta das alterações climáticas derivadas da poluição gerada pela humanidade.
Tem um número considerável de gente que diz que tudo isso é balela.
Que alteração climática é normal e que as conclusões são baseadas em dados limitados e direcionados.
Num dos pontos turísticos de Londres, tem um negócio no chão que conta a história da cidade, acho. E lá diz que, logo depois que a cidade foi criada, o rio Tamisa congelou. E, depois, isso nunca mais aconteceu. Depois que eu li isso, fiquei mais reticente sobre qualquer previsão futura. Basta lembrar que, cerca trinta anos atrás, nevou em Curitiba. Tivesse acontecido isso esse ano, seria um pandemônio.

Mas fiquemos com o “castatrofismo”, que é sempre muito mais engraçado.
O mundo vai acabar se a humanidade não der um jeito de diminuir a emissão de gases poluentes.
E o único jeito de fazer isso é os governos do mundo inteiro convencerem suas respectivas populações a poluírem menos.
E sabe quando isso vai acontecer?
Nunca.
O motivo é simples: do jeito que as coisas são, poluir menos implica em produzir menos. Se você mandar uma empresa parar de poluir, ela vai mudar de país que, por sua vez, vai produzir mais e gerar mais riquezas, o que implica em poder e tudo o que vem junto. E isso nunca irá acontecer.
Ou seja, o único jeito de uma mudança significativa acontecer é se todo mundo concordar em poluir menos ao mesmo tempo. E isso também não vai acontecer.
Porque os países pobres, como o Brasil, querem aproveitar a oportunidade para diminuir o gap existente entre eles e os países mais desenvolvidos. Para isso, ele argumenta que é injusto punir os países que poluem menos por causa de um problema criado pelos países que poluem mais. E os países mais desenvolvidos, que não são bestas, sabem que para manter a vantagem econômica mundial é imprescindível que a diminuição de produção seja igual para todo mundo.

E aí se cria o dilema. E aí nada é resolvido.

E essa é a coisa importante.
Que tem reflexos na coisa que não é importante, mas é importante.
A discussão inócua da redução da emissão de gases poluentes funciona exatamente no mesmo sistema em que funciona a discussão inócua sobre teto salarial, ou outras soluções financeiras, para clubes de futebol.

Igualzinho.

Os dois problemas abrangem a sustentabilidade de um sistema desigual. E, para que o sistema desigual possa sobreviver, é preciso que ele fique mais igual. Mas quem tem mais não quer ter menos. E quem tem menos quer ter muito mais.

É uma equação de interesses insolúvel, que só o tempo vai poder tornar mais contornável.

O mundo não chegará a um consenso sobre o clima. Assim como o futebol não chegará a um consenso sobre seus problemas financeiros.

O problema irá se arrastar.
Mas o mundo não irá acabar.

A não ser que o futebol um dia acabe.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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