Participei de debates recentes que remeteram à análise e troca de ideias sobre a formação profissional dos gestores esportivos no Brasil. Apesar de algumas análises ainda empíricas e da constatação de haver ainda pouco estímulo ou mesmo diminutas opções para que os interessados se voltem a um estudo mais amplo sobre essa área do conhecimento, vamos tentar colocar algumas palavras e apresentar simplificadamente estudos pertinentes
ao assunto.
Primeiro, cabe destacar sucintamente dois estudos que podem servir como fundamento para as argumentações futuras: (1) o de MARONI, MENDES e BASTOS (2010) revela o perfil dos gestores de equipes da Superliga Masculina e Feminina de Voleibol da Temporada 2007-08 e retrata um quadro que aponta para 43,5% possuírem alguma especialização, 13,1% não possui formação superior e os demais terem alguma graduação, predominantemente na área de educação física e administração – ressaltando ainda que o fato do gestor ser ou não ex-jogador da modalidade não seria relevante para ocupação do cargo, além de apontar para a faixa etária entre 30 e 59 anos como a preponderante entre os investigados; (2) o de AZEVÊDO e SPESSOTO (2010) retratam uma comparação sobre o perfil dos dirigentes de clubes do futebol do Distrito Federal entre os anos de 2003 e 2007, com um quadro bem distinto daquele encontrado no voleibol.
Neste caso, a divisão fica entre o ensino médio e o ensino superior, de forma relativamente estável, com alguns dirigentes sem ter o ensino fundamental complementado (chegando a 20% em determinados períodos observados pelos autores). A idade acaba ficando em uma média semelhante àquela encontrada no estudo de MARONI, MENDES e BASTOS (2010).
Realizei também, paralelamente a minha dissertação de mestrado sobre responsabilidade social, uma pesquisa sobre o perfil do gestor das categorias de base de 13 dos principais clubes de futebol de sul e sudeste do Brasil para eventual futura publicação.
Nunca a fiz, por não ter considerado relevante estatisticamente os números levantados. Apenas a título de curiosidade, os exponho para apontar que 37% afirmou ter “Ensino Médio Completo”; 25% afirmou ter “Superior Completo” (dentre elas, “Administração de Empresas” e “Educação Física”) e 38% afirmou ter “Pós-Graduação” (“Doutorando em Desporto Jovem”; “Mestrado em Educação” e “Educação em Psicologia da Motricidade Humana”).
Cabe ressaltar que a investigação foi feita no ano de 2008 e percebe-se aí a clara preocupação dos gestores do setor de formação de atletas em acumularem uma formação mais técnica-científica relacionada ao desenvolvimento de jovens em detrimento do conhecimento mais específico sobre gestão.
Segundo, que é abordado por Lamartine Pereira da Costa em algumas de suas exposições orais, da enorme quantidade de cursos de graduação em Educação Física no Brasil, se comparado a países como EUA e China, e a inexistência de graduações em gestão do esporte em terras tupiniquins, havendo uma desproporcionalidade em termos de mercado em face daquilo que é oferecido no meio acadêmico.
A consequência disso é que os cursos de especialização em gestão do esporte e áreas afins, que estão crescendo em ritmo exponencial, não supre a deficiência anterior, uma vez que as especializações foram feitas para se aprofundar em algum tema previamente conhecido e não para obter conhecidos a partir do zero. Essa disparidade acaba por ser um dos gargalos de desenvolvimento da gestão do esporte no Brasil.
O fato é que não há ainda uma política nacional para a formação de gestores esportivos, nem por parte do meio acadêmico e tampouco por parte das instituições de esporte. Apenas ações isoladas, que atendam demandas específicas e pontuais de mercado em determinados casos. O resultado disso? A diminuta evolução das empresas e entidades do esporte se comparadas com as do ambiente corporativo em termos de inovação e aplicação de novas tecnologias de gerenciamento.
Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br