Levando na esportiva

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A gritaria é geral. De um lado, a tradição de um jornalismo sério, comprometido com a informação precisa. Do outro, adeptos de algo mais próximo da diversão do que da informação estritamente rígida. Hoje, o jornalismo no esporte chega a um embate entre duas escolas, mais ou menos representadas em duas frentes distintas de estilo de jornalismo praticado na TV.

Tudo se resume meio que a um duelo entre a ESPN e o Globo Esporte. Num, informação é o nosso esporte. No outro, diversão é o melhor do esporte.

No final das contas, a irritação a qual os dois lados são submetidos por conta de tentar apregoar o seu estilo de enxergar o esporte é tão inútil quanto tentar encontrar um jeito “certo” de fazer a cobertura do esporte no cotidiano.

Informação é a essência de qualquer veículo de mídia. É com base nela que se formam legiões de seguidores, cativa-se audiência, ganha-se dinheiro com anunciante, etc. Mas o esporte tem uma característica única no que diz respeito à cobertura jornalística.

No rádio, na televisão e, aos poucos, na internet, o esporte representa cada vez mais um negócio. Muito mais do que um produto jornalístico, um evento esportivo se transforma num produto comercial para um veículo de mídia que atue nesse segmento.

As maiores audiências e os maiores acordos comerciais são provenientes da transmissão esportiva em muitos veículos de rádio e TV e, ainda engatinhando, também de internet. E aí reside todo o dilema de qual o tipo de cobertura jornalística deve abordar um veículo que tem no esporte um produto comercial extremamente importante.

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O dilema não é tão grande nas outras áreas do cotidiano. Sim, é imprescindível fazermos um jornalismo sério, comprometido tão somente com a informação, seja ele no cotidiano político, econômico ou social. Mas e o esporte? Onde ele se enquadra nisso?

Aí temos de voltar para a definição do que é esporte e de sua função dentro de uma sociedade minimamente civilizada, como suponhamos que seja a nossa.

O surgimento do esporte veio com o desenvolvimento das cidades. Ele era uma forma de dar entretenimento aos povos, ser uma distração. Sim, era a política do “Pão e Circo” da Roma Antiga, que infelizmente foi usada para manipular as massas. Mas era também um jeito de permitir aos povos ter um pouco de divertimento durante o seu tempo livre.

Depois, com os tempos, o esporte se aprimorou. Passou a ser uma versão não-combativa da guerra, uma espécie de manifestação civilizada da dominação de um grupo sobre o outro. Mesmo assim, não perdeu a sua característica de proporcionar distração aos povos.

É por isso mesmo que cunhamos a expressão “levar na esportiva”. O intuito é aprendermos a não levar tão a sério as coisas, a relaxar um pouco, a saber que podemos ganhar ou perder.

O problema é que, na profissionalização do jornalismo de esporte, passamos a tratar a vitória como única finalidade. O erro não é permitido, assim como a seriedade é fundamental para que o esporte possa ser sério, ético, profissional.

É possível ser tudo isso “levando na esportiva”, não resta dúvidas. Só que também não se pode cair no erro de aceitar tudo passivamente e, em nome do esporte, nos vermos manipulados. Esse erro, porém, é cada vez mais difícil de acontecer. Hoje, a quantidade de informações a nosso dispor é enorme. Temos totais condições de descobrir a verdade, basta querermos ir mais além do que aquilo que nos é (ou foi) oferecido.

Da mesma forma, é fundamental dentro dos veículos de imprensa aprendermos que há totais condições de existir os dois tipos de jornalismo. Aquele que leva tudo a sério, não aceitando os erros e a falta de responsabilidade dos outros, assim como aquele que apregoa mais diversão e menos seriedade dentro do esporte.

Nos dois casos, porém, é preciso levar mais na esportiva. Não dá para ser tão aguerrido às duas convicções. Jornalismo, mais do que nunca, é uma questão de se manter o bom senso. Essa qualidade, infelizmente, é cada vez mais rara. E não apenas nessa profissão.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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