Aos preparadores físicos (e aos demais profissionais também) – parte I

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Gestores de campo,

há algumas semanas, encerrei a coluna semanal com um questionamento sobre a utilização de quaisquer meios de treinamento que privilegiem o desenvolvimento de somente uma vertente do jogo.

Em questão estava envolvida a vertente “física” do futebol e os seus treinamentos realizados em “caixas de areia”, com tração, salas de musculação, circuitos, plataformas de salto, pesos livres, etc. Na ocasião, afirmei que desconsiderava a parte física do jogo pensada (e treinada) de forma isolada e que colunas futuras tratariam deste tema.

Chegado o momento e confesso que estou com receio de escrever. Abordar, num portal referência nacional, o aspecto físico da modalidade sem ser especialista no tema implica muita responsabilidade.

Como é de praxe nas publicações da Universidade do Futebol, estejam certos que apesar das limitações de conhecimento para a produção desta sequência de colunas, baseei-me em muitos conteúdos científicos que abordam o tema, além de longas horas de discussão com um profissional pós-graduado em bioquímica e fisiologia do exercício que vos apresentarei ao longo do material.

As inquietações e ideias a que esta coluna se propõe tiveram início em meados de 2010 quando tive a oportunidade de representar o clube que trabalho num curso de pós-graduação em Futebol, mais precisamente com a disciplina Categorias de Base, na cidade de Porto Alegre. O conteúdo da disciplina era composto pela bem sucedida Metodologia de Treinamento aplicada no Paulínia FC e o Currículo de Formação do mesmo. Durante o fim de semana de aula, tive a oportunidade de conhecer profissionais que dominavam a Periodização Tática, criada pelo português Vítor Frade, modelo este que conhecia apenas superficialmente.

Após a aula, junto com minhas bagagens, trouxe muito material a respeito desta periodização e, imediatamente, aprofundei as leituras. Leituras que, hoje, permitem-me um significativo posicionamento em relação ao que aplico, identificando as semelhanças (muitas) e diferenças (algumas) com a Periodização Tática e me instigando para novas discussões que não tenho condições de fazê-las sozinho.

É sabido que a evolução da metodologia de treinamento em futebol aponta para a preparação das equipes a partir de uma perspectiva sistêmica. Sob este viés, os treinamentos devem ter um caráter técnico-tático-físico-mental, com grande auto-semelhança com o jogo de futebol, a todo o momento.

Com estes breves argumentos, exemplificando, especialistas desatualizados da vertente técnico-tática da modalidade se assustam ao serem informados que a busca pelo gesto técnico perfeito em treinos de fundamento, ou então, o conhecido tático-sombra, são atividades superadas quando pensadas e aplicadas isoladamente na sessão de treinamento.

Assombramento semelhante ocorre com os preparadores físicos quando leem materiais, especialmente da Periodização Tática, que preveem a extinção desta função nas comissões técnicas do futuro. Porém, quando os preparadores físicos se aprofundam (ao menos um pouco) nas leituras sobre o referido modelo de periodização, fazem a seguinte constatação: o controle de carga da Periodização Tática é demasiado subjetivo.

Para os preparadores físicos, a Alternância Horizontal em Especificidade (um princípio metodológico da PT), que apresenta um morfociclo padrão constituído pelo dia competitivo, dias recuperativos e dias aquisitivos (que em relação à “parte física” do jogo varia, com estímulo e pausa, em regime de tensão, duração e velocidade de contração), é um argumento facilmente questionável pelas Ciências Biológicas dadas às poucas informações quantitativas que podem ser adquiridas.

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Pois bem! O objetivo desta coluna não é defender a Periodização Tática (que possui embasamento teórico que em muito fundamenta minha intervenção prática) e tampouco prever a extinção dos preparadores físicos (que sempre enriquecem minhas reflexões sobre o planejamento de treinamento), lembrando que não serão extintos e terão função ressignificada carregada de complexidade.

A finalidade é criar um ambiente de discussão que permita a aproximação entre os preparadores físicos e profissionais que aplicam a Periodização Tática (ou então, alguma periodização que tenha fundamentação sistêmica) e nos direcione para a resolução da seguinte questão-problema: ao longo de um microciclo de treinamento no planejamento de atividades na preparação de uma equipe, o quanto é possível ser realizado em total especificidade, portanto, jogando futebol?

No cenário atual, quem não é adepto da Periodização Tática simplesmente a critica e a nega como possibilidade de evolução do nosso futebol. Negá-la é um comportamento comum inclusive em Portugal, pois, segundo informações de companheiros de profissão que lá estiveram, até nos corredores da Universidade do Porto ela é questionada pela falta de elementos científicos quantitativos.

Já quem aplica a Periodização Tática, muitas vezes, se coloca “acima do bem e do mal” e se prende em argumentos para justificar esta periodização que não seduzem ou convencem os preparadores físicos e demais assistentes e treinadores.

Pergunto: será que existe algum ponto da “linha” de desenvolvimento da Periodização em Futebol que a Periodização Tática e Periodização Física possam se aproximar? Estou enganado ou o objetivo das duas correntes é elaborar treinos de qualidade e montar grandes equipes?

Se os objetivos são comuns, um ambiente sadio de discussão não poderia ser mais frequente? Para elaborar treinos de qualidade e montar grandes equipes, existe um melhor caminho? Por enquanto, faço somente estas perguntas.

Quanto à questão-problema (em negrito), ainda estou buscando a resposta perfeita. Para isso, leio, estudo, acerto, erro, escrevo, apago, pergunto, pratico, sempre com um único objetivo: melhorar o inquestionável estacionado futebol brasileiro!

Espero que um dia a resposta com todas as comprovações científicas possíveis seja 100%. Sem considerar, é claro, o papel das assessorias como a de fisioterapia, psicologia, nutrição, saúde, fundamentais numa atuação interdisciplinar.

Não deixe de me escrever sobre suas indagações. Elas fomentarão discussões e reflexões para minhas próximas publicações.

Na sequência, além dos meus questionamentos e também os dos leitores, apresentarei o objetivo da pesquisa de Cristian Lizana (mencionado no início da coluna), treinador adjunto do Paulínia FC, mestrando em Pedagogia do Esporte pela Unicamp e que pode ser um catalisador do processo de aproximação do preparador físico e adeptos de uma periodização sistêmica.

Abraços e até a próxima semana!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br
 

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