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Até pouco tempo atrás, responder à pergunta que dá título à coluna era relativamente fácil (será?). As respostas em sua maioria se baseavam nas teorias cartesianas que dividiam o jogo em partes, nas quais se precisava ensinar/treinar os fundamentos, ensinar/treinar as capacidades físicas determinadas pelas fases sensíveis, ensinar/treinar os esquemas táticos X, Y e Z, dar o apoio psicológico necessário ao atleta e assim por diante. Neste pensamento, as partes se uniriam no final e o atleta completo era formado.

Não podemos negar que por muito tempo foi assim que o processo caminhou e formou muitos craques no nosso futebol (certo ou errado?).

Sabemos também que nossa cultura futebolística, das bolas de meia, dos “golzinhos” no intervalo da escola, das brincadeiras de rua, das peladas no campinho de terra, das altinhas na praia, são tão responsáveis quanto nossas categorias de base pela formação de nossos craques.

Claro que de alguns anos para cá essa cultura futebolística auto organizada e auto ditada, perdeu muito espaço e o papel das categorias de base aumentou bastante, isso é fato.

Aí surge a dúvida:

O que fazer? O que treinar? Que conteúdos são importantes ao longo do processo?

Temos um conteúdo muito interessante na própria Universidade do Futebol que pode nos dar base à discussão.

Pensei, repensei e não queria aqui trazer conteúdos que podem ser trabalhando nessa ou naquela categoria ou faixa etária, mas sim fazer algumas reflexões sobre o tema.

Essas reflexões estão sendo feitas em muitas equipes que observam a necessidade de elaborar um processo próprio que respeite a cultura do clube, onde o atleta vem sendo preparado ao longo dos anos para atuar na equipe principal.

Esse fato pode ser observado no Barcelona.

Não devemos copiar o que eles fazem, mas tê-los como exemplo e elaborar nossa própria forma de desenvolvimento dos atletas respeitando nossa forma de jogar e nossa cultura de jogo.

Como fazer isso?

Como formar atletas com a cara do nosso futebol sem deixar de lado a nova realidade do futebol mundial?

Perguntas difíceis.

Vamos tentar olhar para cada uma das categorias e responder “sub-perguntas” a fim de poder ter subsídio para responder à grande questão da formação de atletas apresentada acima.

Se preparem, pois são muitas perguntas. Não se preocupem em responder todas, mas sim em fazer uma reflexão sobre o que pode ser feito em cada uma das categorias.

Comecemos pelo sub-11 (categoria inicial no processo de formação de muitos clubes). Nessa categoria, o que os atletas mais gostam de fazer? Dentro das competências gerais do jogo (relação com a bola, comunicação na ação e estruturação do espaço), o que pode ser mais estimulado? Devo coibir a resolução de problemas individuais dos atletas, punindo o drible e a brincadeira perante o jogo?

Uso atividades técnicas? Ou jogos técnicos? Ou brincadeiras técnicas?

No sub-13, que competências gerais posso trabalhar? Eles já entendem a relação com os companheiros e adversários? Onde a “brincadeira” se encaixa? Eles entendem os momentos do jogo? Eles sabem que comportamento adotar em cada um deles? Como deve ser desenvolvida a relação individual versus coletivo? O esquema tático pode ser desenvolvido nesse momento? Os jogadores terão suas posições definidas nesse momento? Utilizo jogos técnicos, conceituais e específicos?

No sub-15, começo a desenvolver o Modelo de Jogo? Eles entendem as inter-relações e interdependências que se estabelecem entre seus companheiros de equipe? Que princípios operacionais e estruturais devo desenvolver? Que esquemas táticos? Devo estimular os atletas a vivenciar diferentes posições? Devo utilizar mais atividades conceituais ou específicas? Como as competições devem ser vistas?

No sub-17, os atletas são profissionais já? Aqui o processo muda? Nesse momento se inicia o momento de alto desempenho dos atletas? Como os resultados mudam o comportamento dos atletas? Que conteúdos devo desenvolver? Como o modelo deve ser trabalhado? Como os conteúdos anteriores podem ser aproveitados? Que princípios devo desenvolver? Aqui devo fazer trabalhos complementares? E os trabalhos de força e velocidade? E o assédio de empresários? E a mídia? Esses atletas estão preparados para “completar” um treino da equipe profissional?

No sub-20, devo seguir a forma de jogar da equipe principal? O processo de formação acaba nessa categoria? Como o Modelo de Jogo deve ser pensado: para ganhar ou ainda dentro do processo de formação? E os trabalhos de força e velocidade? Os atletas estão preparados para jogar pela equipe principal? Eles estão preparados para a pressão? Como formei meu atleta até agora?

São muitas as perguntas…

Vocês têm as respostas?

Só não deixe o prazer de jogar desaparecer desses garotos.

Até a próxima!

Para interagir com o colunista: bruno@universidadedofutebol.com.br
 

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