Para quem é o espetáculo?

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Há algum tempo venho debatendo com colegas ou em sala de aula as transformações que estão acontecendo na indústria do esporte, especialmente naquilo que se refere a mudanças e ajustes de algumas práticas e/ou eventos no sentido do entretenimento.

O basquete, por exemplo, tem investido bastante energia e recursos na divulgação e no desenvolvimento do basquete 3 x 3 – uma forma de prática mais leve, solta e adequada a linguagem da juventude. Nesta mesma linha, surgem adaptações ou amplo crescimento de esportes como BMX, Skate, Beach Tênis e tantos outros. O próprio futebol é recheado de adaptações, seja no tradicional futsal até as práticas na rua ou em outros cenários.

Recentemente, levantei um debate em sala de aula para abordar uma comparação simples do espetáculo proporcionado pela tradicional Ginástica Artística ante o Cirque du Soleil, que apresenta movimentos atléticos similares ao da Ginástica – inclusive, boa parte de seu corpo de artistas é formado por ginastas ou ex-ginastas, alguns deles com participações em Olimpíadas – mas com um aspecto lúdico ímpar.

E foi lendo uma breve entrevista da ex-ginasta brasileira Camila Comin (que trocou os tablados da Ginástica pelos palcos do Cirque du Soleil) na revista de bordo da Azul Linhas Aéreas que pude atestar bem essa relação em uma passagem específica: quando perguntada como era "atuar" agora dentro do circo, Comin respondeu: "Na ginástica, nosso trabalho é voltado para ignorar a torcida e se concentrar apenas na prova. No circo, preciso interagir com o público durante todo o espetáculo".

Pronto. Eis a explicação concreta. Nesses inúmeros debates sobre a ocupação e participação das torcidas em jogos e eventos esportivos, será realmente que estamos entregando um produto que permita a verdadeira interação do público com o espetáculo? Como explicar o fato de uma ex-ginasta passar a atrair um público que paga por um ingresso algumas centenas de reais enquanto, há pouco tempo, era ínfima a quantidade de fãs que pagavam poucos reais para vê-la competir em eventos oficiais de ginástica?

A recíproca e a projeção para o contexto do futebol é linearmente equivalente. Esquecemo-nos de ouvir os anseios do público e entregar um produto adequado a ele. Depois, nos assustamos com arenas vazias. Urge novos formatos para atração de público sob pena do "respeitável público" virar as costas para os nossos produtos, como, aliás, já vem ocorrendo paulatinamente.

E não basta fazer apelo com o ídolo do clube todas as vezes por meio de coletiva de imprensa. É preciso muito mais que isso!!!

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