Manutenção da bola, pressão em bloco alto, transição em largura… Os conteúdos do jogo não são mais importantes do que o próprio jogo?

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O futebol, para aqueles que como eu, são aficionados pelo estudo do jogo, é um ambiente muito rico para exploração de conceitos e visualização de fenômenos ligados a ele (ao jogo).

Seja pelos óculos da matemática, da física, da pedagogia, da filosofia, ou de qualquer outra área do conhecimento científico que alimente e seja alimentada pela “Teoria do Jogo”, é possível, a partir do futebol (como meio, como caminho) compreender melhor a essência do jogo.

Por outro lado, e ao mesmo tempo, a partir do jogo propriamente dito, é possível também compreender o futebol como esporte coletivo de confronto, com alvo a defender, alvo a atacar, implemento (bola) como extensão do jogador e de campo com dimensões consideráveis.

É possível jogar futebol, sob o ponto de vista tático-estratégico, de diversas formas.

É possível jogar futebol em altíssimo nível competitivo utilizando-se das mais distintas referências organizacionais.

É possível vencer jogos de futebol respeitando diferentes lógicas de ação, individuais e coletivas.

Mas, jogar futebol de forma competitiva em altíssimo nível e vencer partidas só é possível, independente de estratégias, referências organizacionais e/ou lógicas de ação, se a Lógica do Jogo (interna e inexorável) for dominada e “executada” por quem joga!

Ter obsessão pela bola ou abdicar dela, pressionar em bloco alto ou bloco baixo, transicionar em profundidade ou em largura… O domínio da Lógica do Jogo pode se expressar estrategicamente de várias formas. E ainda que ela, a Lógica do Jogo, seja essencialmente única para o futebol, os caminhos para seu cumprimento são variados.

E aí há um conceito primordial para a relação que cada um de nós estabelece com o jogo de futebol quando o observamos: só fará sentido cada uma das várias formas estratégicas para dominar o jogo, e só fará sentido a existência de vários caminhos para cumprimento da lógica do jogo, se as estratégias e os caminhos não tiverem fim em si mesmos!

Isso quer dizer, em outras palavras, por exemplo, que se uma equipe propõe, como identidade marcante e básica do seu jogar, a manutenção apoiada da posse da bola, ela (a posse) só fará sentido para o jogo em sua essência, se (e apenas se) tiver como finalidade o cumprimento da inexorável Lógica do Jogo!

Se a finalidade (o fim) for ter a bola e fazer uma grande roda de “bobinho” no jogo formal 11 contra 11, haverá crítico distanciamento entre aquilo que, no cerne o jogo requer, e aquilo que se está propondo.

O objetivo no futebol é fazer mais gols do que o adversário!

E ainda que objetivo e Lógica sejam coisas diferentes, eles estão intimamente relacionados.

Não há nada de errado em adotar o modelo “A” ou o modelo “B’ de jogo!

Mas, quando os conteúdos do jogo passam a ser mais importantes do que o jogo propriamente dito, é como se ele deixasse de ser aquilo que essencialmente é – e passasse a ser outro jogo, com outro tipo de lógica interna.

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