É consenso que a boa formação é uma das soluções para o desenvolvimento do futebol brasileiro nos próximos anos. Para isso, investir nas Categorias de Base em todos os âmbitos, da capacitação profissional às melhorias de infraestrutura, do trabalho interdisciplinar às ricas experiências competitivas, é a opção que os clubes têm encontrado para valorizar seus atletas, agregar valor à marca e se destacar no cenário nacional.
Sob o viés da componente técnica da modalidade os avanços são cada vez mais significativos. Se há cerca de 10 ou 15 anos, as competências trabalhadas na formação centravam-se no desenvolvimento dos diferentes fundamentos técnicos do jogo, atualmente, clubes de ponta do futebol brasileiro têm currículos de formação bem definidos com conteúdos específicos a serem ensinados nas diferentes categorias.
Neste espaço, em outras publicações, foi discutida uma proposta curricular com Conteúdos e Temas relativos ao desenvolvimento de jogadores mais completos, inteligentes e que atendam às demandas do futebol moderno. Para lembrá-los, os Conteúdos são os seguintes: Lógica do Jogo, Competências Essenciais do Jogo, Referências do Jogo, Nível Estratégico-Tático do Jogo, Funções no Jogo e Relação com Companheiros. Além disso, é válido mencionar também que o Jogo (em sua essência e complexidade) é o método de ensino utilizado em todas as sessões de treino.
Nesta semana, a proposta da vez consiste na distribuição destes conteúdos com algumas especificações em relação aos temas e sub-temas nas diferentes faixas etárias e categorias.
Fase de Transição Esportiva / Categorias Sub 11, 12 e 13
Por se tratar das categorias iniciais do trabalho de formação, as atividades nas equipes de transição esportiva podem fugir à lógica do jogo de futebol (sem alvos, com excesso de alvos, com regras “anti-lógicas”, com exclusividade de uso do membro não dominante).
Nestas categorias os atletas precisam aprender alguns conceitos gerais sobre o que é jogar bem a modalidade. Para isso, vivenciar em ambiente de jogo as competências essenciais (relação com a bola, estruturação do espaço e leitura de jogo) é fundamental. Então, nos diferentes jogos que os atletas estiverem submetidos, recorrentemente eles deverão ser questionados se estão aplicando bem as competências essenciais do jogo. Em caso de resposta negativa, provavelmente, o jogo aplicado estará num nível anárquico, correspondente a um baixo entendimento coletivo, natural para estas categorias.
Conceitos como aprender a jogar longe da bola, procurar por espaços vazios e ter a própria meta como referência defensiva precisam ser amplamente estimulados. Espera-se que quanto melhores os estímulos, mais qualificadas fiquem as escolhas e antecipações das ações para as diferentes situações-problema.
Nesta faixa etária, julga-se importante o conhecimento de algumas referências do jogo de futebol. Sendo assim, a vivência das plataformas de jogo básicas, 1-4-4-2, 1-3-5-2 e 1-4-3-3, a aprendizagem das zonas de risco (favoráveis às finalizações e cruzamentos), das faixas e linhas do terreno de jogo, o mecanismo de abertura do campo quando em posse e fechamento quando sem bola, devem ser competências adquiridas no treino. É necessário também fazer reconhecer e estimular, didaticamente, que o jogo de futebol possui dois momentos que, estatisticamente, definem os jogos: os contra-ataques (ou transições se optarmos por dificultar a linguagem).
Nestas idades, os meios táticos devem ser vivenciados progressivamente com a ciência de que alguns deles (pressing, ultrapassagem, mobilidade com trocas de posição,) ainda não conseguem ser aplicados em ambiente específico devido ao nível de desenvolvimento dos jogadores e a compreensão que têm do jogo. Ainda assim, os jogos conceituais devem ser utilizados para o aprendizado dos diferentes meios táticos ofensivos, defensivos e de transição. Ênfase aos meios táticos apoio, desmarque, mobilidade sem trocas, fintas e dribles, equilíbrio, compactação, recomposição, flutuação. No período final da transição esportiva, já na categoria sub 13, tabelas, amplitude, profundidade, penetração, retardamento, balanços defensivo e ofensivo devem ser aprendidos.
É tema de trabalho neste período da formação a aprendizagem defensiva a partir de múltiplas referências. O fato de jogadores chegarem ao início da especialização sem conceitos básicos de defesa como a organização coletiva para a marcação a partir da bola, dos adversários, do local do terreno e dos companheiros, justifica a necessidade da compreensão (e aplicação) destes conceitos.
As bolas paradas decidem jogos. Ainda mais nas categorias de base em que, infelizmente, disputam-se partidas em dimensões oficiais. Como o cumprimento da lógica do jogo de futebol é o norte de todo o processo de formação, criar maneiras de manter ou recuperar a posse, proteger ou atacar o alvo a partir das diferentes situações de bola parada e reposições são temas a serem treinados. Jogadas ensaiadas e possibilidades de reposição de acordo com as diferentes circunstâncias do jogo devem ser estimuladas para evitar situações de perigo do adversário e potencializar as da própria equipe.
Ainda nesta fase um tema que não pode ser esquecido é a aprendizagem de uma posição. Detectar o perfil do jogador que está inserido no processo de formação do clube e estimulá-lo principalmente em uma função não significa que o mesmo estará submetido à especialização precoce.
Neste período, enquanto o atleta aprende a fazer uma função e é estimulado numa gama de regras de ação que amplie seus recursos individuais de participação no jogo, detecta-se o potencial de desenvolvimento do atleta para o exercício de outras funções, cobradas num outro momento ao longo do processo.
Para concluir, o último conteúdo preconiza uma ampla utilização de jogos em pequenos grupos, de até 3 vs 3 jogadores. Somente na categoria sub-13, as situações de treinamentos devem proporcionar uma maior utilização de jogos em médios grupos, até 7 vs 7 jogadores. Quanto menos elementos, menos imprevisibilidade e complexidade no sistema. Como todos os jogadores estão em níveis iniciais de aprendizagem da modalidade, jogar em menor complexidade facilita a compreensão além de aumentar a densidade de ações técnicas, que estão em período sensível para serem aperfeiçoadas em especificidade.
Na próxima coluna que trate o tema, a proposta de conteúdos para a Especialização Esportiva, do sub-14 ao sub-17.
Agu
ardo sugestões, críticas e comentários. Abraços e até a próxima semana.