A palavra do chefe

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Em clubes envolvidos com eleições presidenciais, como Botafogo, Corinthians, Internacional, Palmeiras e Santos, o processo de sucessão serviu como mote para denúncias e exposição de rusgas internas. No São Paulo, cujo presidente já está no poder, as brigas têm a ver com feridas abertas no pleito que conduziu Carlos Miguel Aidar ao poder. No Vasco, tudo isso conta, e o perfil de Eurico Miranda ainda serve como agravante.

Desde o término do Campeonato Brasileiro, o futebol nacional tem vivido um período em que negociações e dirigentes têm mais espaço do que o que acontece em campo. E em poucos dias, isso já serviu para mostrar o quanto nós precisamos evoluir em termos de comunicação institucional.

O exemplo mais inusitado aconteceu no Vasco, clube em que Eurico Miranda voltou à presidência após eleição marcada por denúncias e notícias pejorativas sobre todos os candidatos. Desde que retomou a cadeira de mandatário, o icônico dirigente já se indispôs com oposição, times rivais e até com ex-funcionários. Nada, porém, foi mais emblemático do que a entrevista coletiva de apresentação do técnico Doriva.

Doriva foi uma espécie de recado de Eurico. Escolhido depois de o Vasco não ter fechado com Enderson Moreira, Gilson Kleina e Marquinhos Santos, que chegou a acertar e depois desistiu por problemas pessoais, o treinador que foi campeão paulista com o Ituano em 2014 aceitou receber salários condizentes com uma nova política do clube.

Além da remuneração adequada a um novo patamar, Doriva tem características que Eurico buscava em um treinador: gosta de trabalhar com jovens, tem histórico vencedor e consegue se adequar às propostas do presidente para a equipe. Ele tem preconizado a adoção de um estilo ofensivo, condizente com os momentos vitoriosos da história do clube.

A escolha de Doriva, a busca por um perfil específico e a política financeira são extremamente saudáveis. Inusitada foi a postura de Eurico na entrevista em que Doriva foi apresentado: o presidente se intrometeu em pelo menos cinco respostas do treinador, direcionou o conteúdo e chegou a pedir que um repórter não abordasse um assunto.

Sentado ao lado do presidente, Doriva estava visivelmente desconfortável. O treinador foi interrompido e até impedido de responder logo na primeira entrevista coletiva no novo clube. Isso tem um peso enorme.

Talvez sem intenção, Eurico deu uma série de recados na tal entrevista. A submissão de Doriva é o mais preocupante deles.

Além de ter mostrado um treinador fraco, Eurico suscitou dúvidas sobre limites. Se o presidente define como o time vai jogar e fala em nome do técnico, que garantia tem Doriva de que as decisões dele serão respeitadas?

A condução de Eurico no Vasco sempre foi personalista, mas sempre respeitou o futebol. Antes das eleições, o dirigente disse em vários momentos que havia mudado um pouco o comportamento. Entre as coisas mostradas até aqui, ao menos do ponto de vista da comunicação, ele não mudou para melhor.

Só que o Vasco não é o único clube em que o presidente tem criado problemas de comunicação. Isso acontece de forma clara nas instituições envolvidas em pleitos presidenciais – Botafogo, Corinthians, Internacional, Palmeiras e Santos são exemplos.

Em todos eles, eleições são aquele período em que candidatos abastecem jornalistas com denúncias sobre o que acontece nos clubes. E que jornalistas publicam denúncias sem que elas tenham total (ou algum) fundamento. No fim, a troca de acusações só serve para que os torcedores percam ainda mais a confiança na condução da entidade.

Essa sensação é ainda maior quando as crises criadas nas eleições se arrastam. É o que tem acontecido no São Paulo, clube em que Juvenal Juvêncio forjou Carlos Miguel Aidar como sucessor em abril de 2014.

Depois das eleições, Aidar e Juvenal entraram em crise. O relacionamento entre os dois se deteriorou rapidamente, e o que antes era parceria acabou virando inimizade.

Desde então, não é segredo que Juvenal usa a mídia para atacar Aidar. O atual presidente também não esconde que usa os microfones para responder. E isso tem aberto ao mundo os problemas e as crises que o São Paulo podia tratar internamente.

O processo de comunicação institucional depende de certo decoro. A transparência é ótima, é claro, mas nem todas as crises internas devem ser tratadas com troca pública de farpas. Isso só joga contra a instituição.

Em todos esses casos, os problemas passam basicamente por duas coisas: pessoas que colocam seus interesses acima dos interesses dos clubes e processos de comunicação que não são organizados a ponto de sobreviver à verticalização. Presidentes não respeitam (ou nem ouvem) os responsáveis pela comunicação porque se acham superiores a esse patamar.

Dirigentes já não são uma classe simpática ou adorada. No Brasil, essa crise de relacionamento é ainda mais clara do que em outras partes do planeta. E em meio a tudo isso, ações como as que o futebol nacional registrou nos últimos dias acabam levando aos clubes a indisposição que as pessoas têm com quem os comanda.

Comandar um clube de futebol, ainda mais no Brasil, é uma responsabilidade gigantesca. Dirigentes não podem esquecer que a satisfação do torcedor é o que move todo o processo.
 

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