Para começar, quero salientar que na estreia (começou sábado e terminou na última segunda) da Premier League, das 20 equipes, 7 jogaram no 1-4-3-3 (Chelsea, West Ham, Liverpool, Bournemouth, Man.City, Swansea, Hull City), 6 no 1-4-2-3-1 (Arsenal, Man.United, Cristal P., Tottenham, Middlebrough, Stoke), 4 no 1-4-4-2, 2 linhas (Sunderland, Burnley, Bromwich e Leicester), 1 no 1-3-4-3 (Everton), 1 no 1-4-3-1-2, losango (Southampton, ) e 1 no 1-3-5-2 (Watford).
Quanto mais os seres organizados diferem um dos outros em relação a sua estrutura, aos hábitos e a constituição…, tanto mais probabilidades têm de ser bem sucedido na luta pela sobrevivência ( Darwin, 1859).
Ao se objetivar a organização de uma equipe de futebol, operacionalizam-se as convicções em forma de treino e jogo. Colocando em prática tais ideias, busca-se tamanha ordenação das ações entre os atletas, como equipe. Há um esquecimento desprezo do “querer” do atleta, com suas decisões, sua criatividade, sua forma de ver o jogo.
Para a construção de uma organização coletiva, precisa-se ter em mente a organização individual e a forma de jogar de cada atleta. Necessita-se conhecer o atleta, sua personalidade, suas características e suas ideias. Se esta não for a base da organização coletiva tender-se-á a um número maior de ocorrências durante o jogo, que propiciarão uma quantidade desnecessária de situações de risco, tendendo à ruptura organizacional da equipe.
No desenrolar do jogo de futebol, dois locais merecem ser considerados para análise, observação, construção e desenvolvimento de “uma” certa organização em equipe: o local onde está a bola (jogo local/núcleo do jogo/micro) e o local onde a bola não está (jogo global/fora do núcleo/macro). No primeiro, a organização baseia-se na vertente setorial, organização coletiva dada por um número de atletas (1, 2, 3, 4, etc.) menor que o todo. Ou seja, a parte é responsável pelo cumprimento e eficácia da organização do todo. No segundo local, a organização tem como pilar a vertente coletiva, organização coletiva dada por um número de atletas, jogo fora do núcleo onde está a bola, próximo do todo (11 atletas). Neste caso, um grupo de atletas, na maioria das vezes maior, sustenta e dá forma a organização da equipe.
“O jogo local está para o jogo global, assim como o jogo global está para o jogo local”
O jogo local manipula todo o contexto do jogo de futebol. O(s) atleta(s) que está onde a bola está, tem o poder de guiar e dar sentido ao jogo. Este(s) atleta(s) tem o “poder” do jogo em suas mãos. Isto ocorre pois o resultado do confronto, de quem tem e de quem não tem a posse de bola, pode prejudicar ou favorecer o jogo global/macro: a chegada da bola, em um local onde ela não estava, poderá ocorrer em um contexto de prejuízo. Por exemplo, muito se fala e se faz para pressionar o local onde a bola se encontra, contudo, se a equipe não está preparada tática/estrategicamente, talvez seja melhor a bola não sair do local onde se encontra. Neste caso, melhor seria não pressionar o local da posse. A fim de pressionar, se torna imprescindível estar preparado coletivamente (vale salientar aqui a diferença entre pressão (individual) e pressing (coletivo)). Outro exemplo, agora ofensivamente, o que muitas equipes fazem com a bola está na atração do adversário para abrir um determinado local do campo. Mostro no vídeo o Manchester City (treinado por Pelegrini), na transição ofensiva, a equipe “acelera” o passe/posse de um lado para abrir o lado oposto, atraindo a marcação em bloco do Southampton. Este por uma interpretação da marcação zonal praticada como princípio defensivo, basculam por completo para um lado e depois para outro, abrindo o lado oposto, onde sai o gol do Manchester City.
Caso o jogo local (deixar jogar sem pressão, atrair com posse acelerada, etc) permita que o global (lado oposto, cobertura defensiva, estrutura da linha defensiva, etc) seja exigido, este tende a ter maior probabilidade de erro/acerto. Quando a bola está no jogo local e, por “escolha” de quem está na defesa há passagem para o jogo global, a equipe será exigida e testada perante sua organização coletiva defensiva, por exemplo (caso do vídeo). Caso esteja devidamente estruturada e estabelecida na sua vertente defensiva, tenderá a não sofrer mal algum. Ao contrário, não estando precisamente organizada defensivamente, sofrerá as consequências de sua falta como conjunto, ou seja, será desorganizada, romper-se-á em sua própria estrutura aumentando positivamente as chances de sucesso da equipe adversária.
Levando isto em conta, conclui-se que não pode preocupar-se somente com a organização coletiva e/ou setorial de uma equipe pois esta organização, mesmo que bem executada e eficiente durante o jogo, sofrerá com as frequentes situações que colocam em prova sua organização. Porém, estas situações estarão na dependência do jogo local, ou seja, só estarão presentes se o jogo local o permitir! Sem esta anuência do jogo local, o número de situações que colocaram em teste a organização defensiva coletiva/setorial será bem menor, sendo também menores as probabilidades de ruptura. Precisa-se ter como preocupação a tomada de decisão de cada atleta em cada momento do jogo, fazendo com que o atleta perceba que a sua decisão e a sua ação são extremamente importantes, independente do local ou momento do jogo, para o bem da equipe, para o bom andamento do jogo, para que o desenvolvimento do jogo seja favorável à equipe, defensiva e ofensivamente.
Perante o pensamento sistêmico: determinada situação só está certa ou errada se a bola ali chegar. Caso contrário, não se pode inferir que aquilo que num primeiro momento parecia incorreto realmente o é.
O resultado do jogo local que dará sentido/forma à organização coletiva.
Não se pode focar isoladamente/prioritariamente na organização coletiva da equipe. Uma boa orientação deve estar preocupada com a “organização individual” do atleta, em cada situação do jogo. Fazer com que o atleta perceba que a decisão dele é fundamental para o ideal desenvolvimento da partida, fazendo-o entender que sua decisão influenciará a decisão de outros atletas (da mesma equipe ou não) e que a mesma foi influenciada pelas decisões anteriores. Nada além do que decisões interativas.