Traços da formação

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Até alguns anos atrás, a formação do jogador de futebol era exclusivamente realizada pela “informalidade fértil da rua”. Era uma época identificada como “formação silvestre”. Na formação silvestre, jogadores voluntariamente e emocionalmente, envolviam-se “jogando” de diferentes maneiras. A interação do jogar-superar com emotividade deixava marcas positivas e às vezes negativo-positivas, amadurecendo diariamente as probabilidades cognitivo-motoras.
Cotidianamente, por muitas horas, as crianças submetiam-se a situações-problemas mutáveis e libertas. Nestas atividades, além do acervo individual, compreendiam valores morais, se auto-organizavam, cooperavam reciprocamente e aprendiam conceitos coletivos, claro, dentro de uma informalidade estrutural, mas com muitos aspectos interessantes para o “bom futebol”. Craques “brotavam” nos jogos de diferentes formatos, terrenos e espaços a todo instante. Absolutamente a formação silvestre foi o maior canteiro de formação de jogadores brasileiros.
O odiado e amado “El Loco Bielsa”, um dos treinadores mais estudiosos do planeta, abordou algumas questões pertinentes sobre essa temática, vejam só:
“A formação silvestre é a melhor de todas. Não tem rigidez e os jovens a executam espontaneamente. Mas isso deixou de ser possível, porque para que a formação silvestre se concretize, é necessário ter cinco horas por dia de prática, por um período de quatro a seis anos. Mas há ainda alguns continentes e algumas regiões que continuam a criar futebolistas com essa formação por que existe isso: lugar, tempo e amor para o jogo. Se um jovem tiver que ir para a computação, inglês, música …certamente ele não vai jogar cinco horas por dia futebol. Se ele mora em uma cidade urbanizada, também não encontrará o lugar apto para essa formação.”
“El Loco Bielsa” deixa claro que está cada vez mais escassa a formação silvestre. Mas, será que ainda vemos o futebol silvestre por aí? A resposta para essa pergunta está cada dia mais clara.
Quem sabe no interior, nas regiões praianas, favelas, muito pouco (não todo dia) e por muito pouco (poucas horas durante o dia) o futebol silvestre ainda esteja sobrevivendo. Mas está morrendo lentamente. O crescimento urbano-social, a acessibilidade e opção demasiada por outras “atividades”, excepcionalmente distanciou as crianças da essência formativa refinada do jogador de futebol.
Mas como suprir essa carência? Como o jogador brasileiro está sendo formado? O que é formar? O que requer a formação do jogador de futebol atualmente? Será que conseguimos interligar três dimensões inerentes ao formar? Conseguimos realizar o transfer da formação do jogador de futebol por essas três dimensões? Visualizem:
Autoformação – é a dimensão individual
Se a formação silvestre foi a melhor de todos os tempos (pois os jogadores se desafiavam e jogavam constantemente), por que não bebermos do acervo de possibilidades que elas dispõem? A formação individual é um ato de constante modificação, constante estimulação. Somente atividades libertas e com uma variabilidade poderá atingir a dimensão individual em sua plenitude. Então, a autoformação nas primeiras idades deve estar balizada por uma gama de atividades advindas da formação silvestre, evidente, balizada por ideias pela conjuntura atual, mas sempre respeitando a natureza do jogo, da criança e a sua autossuperação constante.
 Heteroformação – interatividade – noção de coletividade
Um jogador de futebol, antes de estar numa lógica coletiva, uma forma de jogar específica, é um ser individual. Mas um ser individual isolado, sem interagir com outros seres e elementos, viverá em uma ilha e certamente não conseguirá entender a natureza deste esporte. Se os estímulos individuais são necessários, o entendimento do jogo coletivo com estímulos gerados pelo treinador, respeitando essa individualidade, especialmente nas primeiras idades é uma tarefa imprescindível, mas também desafiadora. Essa interação requer uma enorme sensibilidade de “saber que ferramentas utilizar”, pois qualquer situação em demasia pode gerar reflexos ou distúrbios. A chave é contrabalançar com sensibilidade, pois uma lógica desde as primeiras idades deve existir para o trabalho não ficar “no vácuo”, e até mesmo pela demanda que o futebol atual e as modificações sociais exigem.
Ecoformação – relação cultural
Em qualquer cidade, região ou país que estamos inseridos, recebemos estímulos culturais que nos identificam, seja na forma como falamos, nos comportamos ou como jogamos. E se nosso objetivo é o jogar, temos que ter essa sensibilidade de respeitar as raízes que estamos inseridos. E isso, já no que diz respeito “de como jogamos no Brasil”, mata a charada, pois quase todos perderam o mapa do Brasil em termos de jogo. Como jogamos? Ninguém sabe!
A formação silvestre-organizada-cultural tem “entrelaçado” todos esses parâmetros para construir futuros jogadores. Jogadores que mantenham sua singularidade, se relacionem muito com a bola, interpretem o jogo com criatividade, tenham um refinamento técnico apurado e sejam representantes da verdadeira cultura brasileira, que na atualidade, de verdadeira…
Abraços e até a próxima!

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