Sobre os técnicos do Campeonato Brasileiro

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O choro de Vinícius Júnior depois da vitória do Flamengo por 2 a 0 sobre o Paraná Clube, no último domingo (10), é uma das imagens do Campeonato Brasileiro de 2018. Negociado com o Real Madrid por 45 milhões de euros (R$ 196,8 milhões), o atacante de 17 anos ainda não tem data certa para trocar a Gávea pelo Santiago Bernabéu, mas se emocionou naquela que pode ter sido sua última partida no Maracanã com a camisa rubro-negra.
As lágrimas de Vinícius Júnior, contudo, não são apenas porque ele vai. O camisa 20 chorou principalmente por se lembrar de onde veio. O menino de origem humilde está às portas de entrar para o grupo de celebridades mais relevantes do planeta.
A história do Flamengo no Campeonato Brasileiro de 2018 passa necessariamente pelas categorias de base. Líder da competição nacional após 11 rodadas, dono de uma das melhores arrancadas da história do torneio, o time carioca anotou 20 gols até aqui. Vinícius Júnior (quatro), Felipe Vizeu (três) e Lucas Paquetá (três) contribuíram com exatamente a metade – e nesse caso, importante dizer, as bolas nas redes adversárias nem de longe encerram uma avaliação sobre a relevância dos meninos forjados no clube.
Flamengo e Atlético-MG, times que ocupam as duas primeiras posições do Campeonato Brasileiro de 2018, possuem em comum o fato de terem apostado em novatos para o comando técnico. O time carioca é dirigido por Mauricio Barbieri, 36, que a cada rodada afasta um pouco mais o rótulo de interino, e os mineiros são treinados por Thiago Larghi, 37, responsável por uma estabilidade que a equipe jamais havia atingido nas mãos de seu antecessor, Oswaldo Oliveira, 67.
Além da juventude de seus comandantes, o que une Flamengo e Atlético-MG é uma noção muito clara do uso das características de seus principais talentos. É o caso de Róger Guedes, que tem encontrado em Larghi os conceitos ideais para a evolução de seu jogo.
O próprio Barbieri é um dos responsáveis pela evolução de Lucas Paquetá, um dos grandes nomes do início do Campeonato Brasileiro, e também possui o mérito de ter apostado em Vinícius Júnior em detrimento de medalhões – nesse caso, contribuiu sobremaneira a boa vontade da maioria dos torcedores com uma cria do próprio time.
Entre os comandantes da Série A do Campeonato Brasileiro, é nítido o rejuvenescimento. Barbieri e Larghi são exemplos de um mercado que se fechou para nomes como Vanderlei Luxemburgo, Dorival Júnior ou Celso Roth. O atual campeão brasileiro, vale lembrar, é Fabio Carille, que amealhou três taças em pouco mais de 18 meses à frente do Corinthians.
A ascensão de uma nova geração de treinadores sempre gera expectativa por mudanças na estética e nos conceitos do jogo. São novas ideias, afinal, e com isso podem acontecer alterações mais contundentes de perspectiva.
No entanto, o movimento no Brasil não é exatamente assim. Vinícius Júnior, aliás, é um dos motivos para isso. Assim como o atacante, o futebol local perdeu neste ano nomes como o próprio Vizeu, além de Paulinho (Vasco) e Maycon (Corinthians), que estiveram longe de construir história em seus times antes de migrar para a Europa. Rodrygo, em ascensão no Santos, pode ser o próximo. E a janela internacional ainda está longe do fim…
Num cenário em que os jovens duram pouco e deixam rapidamente os clubes que os formaram, a construção de uma identidade segue sendo um desafio. Se o Flamengo de Barbieri continuar o processo de consolidação, quanto tempo vai conseguir segurar Lucas Paquetá? Róger Guedes é outro que tem recebido ofertas e pode não terminar o Brasileiro que começou tão bem.
Sem conseguir manter o talento, o futebol brasileiro prescinde de ideias. E quando tenta algo inovador, expõe as deficiências locais. É o que tem acontecido no Atlético-PR com Fernando Diniz, cuja filosofia está longe de assimilar o nível técnico do elenco.
Num contexto em que os jovens duram pouco e as ideias padecem diante da falta de talento, toda essa roda impele os treinadores a buscarem propostas cada vez mais conservadoras. E o futebol brasileiro, pressionado pela economia e pelo calendário, acaba abraçando os meios mais fáceis.
A renovação dos treinadores, nessa perspectiva, tem muito mais a ver com a supervalorização que essa categoria profissional teve nos últimos anos. Luxemburgo não perdeu mercado por conceitos que não se atualizaram, mas porque custa caro. Osmar Loss não foi a solução ideal para o Corinthians, mas o ideal dentro do contexto financeiro do clube.
Até por isso, qualquer análise sobre a nova geração de treinadores do futebol brasileiro precisa ser conduzida com uma série de ressalvas. Basta ver que o sucesso de Tite na seleção brasileira está longe de ser apenas questão de escolhas certas ou de talento na função.
A equipe nacional evoluiu a partir da construção de um entorno favorável e adotou um grau mais alto de preocupação com detalhes de preparação. É essa minúcia a principal evolução que a seleção de 2018 tem em relação a times de ciclos passados.
No contexto nacional, porém, quem tem condição de mudar procedimentos e repensar estruturas? É mais fácil fechar o time e jogar no contra-golpe, mesmo. O processo pode ser mais sofrido, mas os riscos são bem menores.

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