Esta coluna em quase todos os textos destaca a importância das boas práticas da gestão do esporte a fim de fomentar a sua indústria, gerar renda, emprego e riqueza. Se não é destaque, ao menos sugere isso. O futebol de rendimento – quer queira, quer não – é um produto dentro de uma indústria que é parte do produto interno bruto e que proporciona muitas receitas. No Brasil é preciso potencializá-la e isso demanda uma regulamentação. Simultaneamente, o futebol é capaz de fomentar um serviço pouquíssimo explorado pelo país: a imagem no exterior.
Especialistas entendem isso como sendo marketing internacional, diplomacia pública ou poder brando. Nós geralmente conferimos atributos positivos quando lemos ou falamos de “carros alemães” e “eletrônicos japoneses”, não é mesmo? Se as palavras “carros” ou “eletrônicos” vierem acompanhadas de outros gentílicos, os valores que daríamos certamente seriam distintos. A agência de turismo britânica, por exemplo, trabalha com a liga de futebol inglesa (muito reconhecida por especialistas como a melhor competição nacional de clubes) nos seus prospectos a fim de aumentar o número de turistas na ilha. Vai além, inclusive. Contribui para amenizar a imagem do Reino Unido face à novela que está sendo o Brexit.
Também em linhas gerais somos bastante reticentes à política externa norte-americana, às declarações de Trump e algumas de suas políticas internas. No entanto, tudo isso fica um tanto de lado quando se acompanha as ligas esportivas profissionais estadunidenses. Não que concordemos com as políticas citadas anteriormente, mas que as impressões sobre aquele país não ficam tão negativas.
Ora, o “futebol do Brasil” é uma marca. Há toda uma história das suas seleções nacionais, seus clubes e atletas. Sobre o jeito de jogar. Fomentar boas práticas de gestão do esporte e incentivar o profissionalismo são formas de respeitar a meritocracia e a competitividade nesta indústria, com respeito ao atleta e ao torcedor. Uma melhor organização é capaz, a prazo, de melhorar o nível e a qualidade do jogo, incentivar o turismo de eventos esportivos além de um trabalho de relações públicas a fim de melhorar a imagem do Brasil no exterior, para não só atrair turistas, mas para a percepção da opinião pública internacional sobre ele. A analogia pode ser esdrúxula, mas sabe-se a origem quando os carros são alemães; e o eletrônico é japonês. E assim pode ser com o futebol, do Brasil.
Assim sendo, quando falamos em gestão do futebol não é apenas em governança, recursos humanos, métodos, processos, rotina, filosofia e cultura de trabalho. Comunicação e marketing direto, do jogo como produto, que vai ser colocado no mercado e consumido. Se limitar a isso é ingenuidade. O futebol moldou identidades nacionais de vários Estados-Nação modernos e, por isso, é capaz de trabalhar a imagem deles mundo afora.
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Em tempo mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:
“O Brasil precisa vencer pelo que ele tem de sua essência: pela alegria, pela criatividade, pela música, pela boa paz, pela generosidade e pelo amor. Vencer com o que há de pior no espírito humano é uma grande derrota. Afinal, somos ou não o tal país do futuro?”
Afonso Celso ‘Afonsinho’ Garcia Reis
(médico e ex-futebolista, XV de Jaú, Botafogo FR, Olaria FC e CR Flamengo)