O resultado imediato e a qualquer custo no futebol é um dos grandes empecilhos para a evolução da qualidade do jogo. Em todo o mundo isso acontece. Também na Europa. Mas por aqui, no futebol brasileiro, isso se dá de uma maneira desmedida e quase que incontrolável.
O caso atual do Flamengo chama demais a atenção. Bastou um início irregular no Brasileirão para inúmeros questionamentos virem a tona. Se com Jorge Jesus no comando o papo era de uma hegemonia sulamericana, batendo de frente com os gigantes europeus, agora com Domenec Torrent que perdeu as duas primeiras partidas, tudo já é colocado em xeque. Ou oito ou oitenta. Ou água ou vinho.
Quando se muda o comando técnico toda a estrutura sente. Dentro e fora de campo. Até porque o resultado que se vê nas quatro linhas é produto de tudo o que o clube como um todo produz. E o treinador é uma figura central nisso. Não existe a possibilidade de “deixar no piloto automático” e simplesmente fazer o que vinha sendo feito. Domenec e nenhum outro ser humano do mundo conseguiria fazer isso justamente porque estamos tratando de pessoas. Uma nova comissão técnica traz diferentes relacionamentos, outros conceitos de jogo de metodologia de treinamento, uma nova linguagem, enfim, tudo muda. A tendência natural é um tempo normal de adaptação de todos que fazem parte desse ambiente.
Culpar a cultura do futebol brasileiro por essa pressão parece simples, fácil, mas não eficaz para as coisas mudarem. A diretoria do Flamengo tem que estar mais do que nunca no controle da situação e dar todo o respaldo para Domenec implementar suas ideias. A tão rara convicção no trabalho proposto tem que imperar de dentro para fora no atual campeão brasileiro. Para não ser mais do mesmo. Para continuar ganhando. E não para que se diga que foi apenas pelo excelente trabalho de Jorge Jesus.
Sobre o autor
Marcel Capretz é jornalista, apresentador da rádio 105 FM e do SBT Futebol Esporte Show. Busca entender e explicar o jogo através do conhecimento.