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Na era da economia da atenção, os clubes de futebol entram em uma nova disputa. Precisam vencer as plataformas de streaming e os jogos eletrônicos, valendo justamente a atenção de seus torcedores. Para isso, utilizar ferramentas que possibilitem que os torcedores tomem decisões pelo clube pode ser fundamental para trazer o engajamento necessário para manter este fã por perto. Este texto busca explicar como funcionam iniciativas nesse sentido, trazendo alguns exemplos tanto do mercado brasileiro, quanto de fora.

Conforme o mundo evolui, vamos sendo apresentados à novos conceitos. Um dos mais recentes é o da Economia da Atenção. Esta ideia começa a surgir quando o tempo passou a ser um recurso cada vez mais escasso. Não foi coincidência a enorme quantidade de publicações nas redes sociais com dicas de produtividade no home office na época em que a quarentena foi instaurada no Brasil, em março de 2020. Além de atividades de trabalho e estudos, existem diversas opções de entretenimento disponíveis, como séries, redes sociais e vídeo games. Com diversas informações a serem consumidas, a atenção das pessoas virou o principal desejo de produtores de conteúdo de diferentes formatos, pois é a partir de sua conquista que os produtos e serviços serão vendidos com maior facilidade.

Como mais um produto de entretenimento, o futebol e outras modalidades esportivas entram na briga pela atenção dos torcedores, tendo os serviços citados no parágrafo anterior como concorrentes. O futebol já sai atrás no placar quando lembramos que seu principal produto, uma partida, possui 90 minutos, tempo muito longo para alguém prestar atenção sem interrupções. Em pesquisa recente, a consultoria PwC analisou o comportamento de consumo de torcedores ao redor do mundo. Estes dados mostraram que as gerações mais jovens estão se desligando da partida ao vivo, buscando consumir conteúdos como os melhores momentos para se manter informada.

Para ter vantagem neste jogo, existem alguns conceitos que podem ser utilizados pelos profissionais do esporte para criar um bom relacionamento com seus fãs. Um destes, cada vez mais utilizado por clubes e outras empresas, é o de dar poder de decisão aos torcedores sobre questões da entidade. Essa prática ganha força no momento em que os fantasy games e novos modos de jogo dentro de FIFA e Pro Evolution Soccer passam a entregar aos usuários a opção de montar suas próprias equipes, se tornando verdadeiros gestores responsáveis pela compra e venda de atletas. As decisões que serão tomadas por torcedores no mundo real não necessariamente precisam ser relevantes. Podem ir de questões mais simples, como escolha do ônibus do time até decisões realmente importantes, como será visto na sequência deste texto.

São duas as vantagens obtidas ao possibilitar que os fãs tomem as decisões dos clubes. A primeira é o próprio engajamento em si. O perfil oficial do Campeonato Brasileiro no Twitter tem feito isso muito bem, permitindo que os torcedores escolham a seleção de cada rodada a partir de votação na plataforma. É possível notar que as enquetes para cada posição movimentam toda a comunidade que segue o perfil, por envolver a paixão de diversas torcidas na ação.

A segunda vantagem é a sensação de pertencimento. Existe muita paixão envolvida no esporte, e o torcedor quer sempre estar próximo. Um clube que já percebeu esse desejo e as oportunidades que isso traz é o Bahia. Desde 2018 o clube define seu uniforme a partir de uma votação popular com seus torcedores, com a vantagem de a camisa de jogo da equipe ser produzida pela Esquadrão, marca própria do tricolor baiano. Na votação de 2019, foram cerca de 50 mil participações no concurso denominado “Manto do Esquadrão”.

No último ano, foram alguns casos de ações nesse sentido no futebol brasileiro. O Atlético-MG utilizou a estratégia para gerar engajamento no início da pandemia, quando as partidas estavam paralisadas. Assim, em parceria com a empresa End to End e a fornecedora de material esportivo Le Coq Sportif, surgiu a campanha “Manto da Massa”. O projeto envolvia ter uma camisa do clube desenhada por um torcedor, fato que seria legitimado a partir de votação popular. Os objetivos iniciais envolviam aumentar a receita do clube, seja com a venda do novo uniforme, seja com o engajamento nas redes sociais e no plano de sócio torcedor. Os resultados superaram as expectativas tanto do Atlético, quanto da End to End, outra parte envolvida na ação. Foram 100 mil camisas vendidas em 8 dias, aumento de 87% da base de sócios do clube e a marca de 22 mil seguidores na conta de Instagram do Galo na Veia, programa de sócio do clube que possuía apenas 5,6 mil seguidores antes do projeto.

No mercado internacional também existem bons exemplos. A plataforma Socios.com utiliza esse conceito em seu produto. A empresa disponibiliza a venda de tokens, um ativo digital ligado a tecnologia blockchain, que permite aos compradores ter poder de decisão em algumas questões dos clubes que possuem acordo com o Socios.com. No futebol, são 14 instituições com contrato, com grandes clubes como Barcelona, Juventus, PSG e Atletico de Madrid. A decisão mais significativa disponibilizada para escolha dos fãs surgiu em outubro de 2020. Através de enquetes no aplicativo do Socios, os torcedores do Apollon FC, do Chipre, puderam escolher a escalação do time no amistoso contra o Aris Limassol, desde a formação tática até os atletas.

Ainda sobre esta plataforma, eles realizaram em 2018, em parceria com a consultoria Nielson, uma pesquisa sobre o relacionamento dos torcedores com seus clubes. 47% destes destacaram que se interessam mais por votações sobre suas equipes do que eleições de seus países. Reforçando a importância de dar voz aos fãs, 52% dos que responderam a pesquisa acreditam que os torcedores precisam ter mais influência nas decisões das entidades esportivas.

Para o futuro, entregar ao torcedor decisões importantes deve ser um fato presenciado mais vezes. Modelos e ferramentas para que isso ocorra não irão faltar, com tantas tecnologias disponíveis no mercado. Caberá aos clubes entenderem essa nova demanda e permitirem que os torcedores assumam seu papel de donos do espetáculo em alguns momentos.

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