Táticas restringem ou potencializam as tomadas de decisão? – Conceitos

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Crédito imagem destacada – Carolina Brito/CBF

Retomando a discussão que iniciamos no primeiro texto, para poder responder à questão proposta no titulo dessa serie de artigos, e necessária uma compreensão ampla do termo “táticas”. Assim, daremos sequência agora trazendo algumas concepções de tática no futebol brasileiro.

Usaremos como guia o “Glossário aberto do Futebol Brasileiro”, que foi publicado em 2020 pela CBF Academy e busca auxiliar em um sentido de padronização das terminologias no âmbito do esporte mais praticado no país.

O Glossário trata de tática no contexto do que chama de “dimensão tática do jogo”, e segundo o mesmo:                                            

Tática: “é a forma como os/as jogadores/jogadoras, por meio de seus posicionamentos e movimentações, ocupam e gerenciam os espaços do campo. Para isso é necessário que o/a jogador/jogadora manifeste o conhecimento na ação, sendo este caracterizado como a sua capacidade de perceber, analisar, decidir e realizar ação que melhor se adapte a uma situação do jogo. A tática no futebol se expressa em diferentes níveis de relação dos/das jogadores/ jogadoras dentro da equipe, como a tática coletiva (de equipe e grupo) e a individual”.

O glossário segue definindo táticas da seguinte forma no futebol:

Tática de equipe – a partir de 5 jogadores,

Tática de grupo – de 2 a 4 jogadores,

Tática individual – 1 jogador.

Além da tática; os conceitos de cultura, ideia e modelo de jogo, bem como, sistema e esquema de jogo, são importantes para a devida compreensão do tema, e também têm espaço no Glossário com as seguintes definições:

Modelo de jogo é o conjunto de referencias táticas que permite delimitar e concretizar o treinamento e a competição

Sistema de jogo, ou sistema tático, “são descritos no formato numérico, indicando a quantidade de jogadores/jogadoras que atuam em cada setor do campo ou subsetores (goleiro/goleira, defesa, meio-campo e ataque), como, por exemplo: 1-4-4-2, 1-3-5-2, 1-4-2-3-1, entre outros.

Esquemas de jogo, ou esquemas táticos, “são as ligações estabelecidas entre os/as jogadores/jogadoras durante as partidas, ou seja, a forma como eles/elas se relacionam ou se comunicam a partir das funções desempenhadas em campo, das suas virtudes e limitações.” O manual vai além e define uma variedade de princípios táticos: gerais, operacionais, fundamentais e específicos. Apontando uma lista para cada um deles, exceto para os princípios táticos específicos, que englobam as táticas de equipe, grupo e individuais e que seriam “selecionados pelo treinador”.

Considerando todas essas possíveis “variações” parece ficar claro que uma discussão sobre as consequências das “táticas” no processo de decisão de um jogador, podem trazer à tona diferentes elementos relativos ao tema e também levar a conclusões diversas.

Nesse sentido, propomos analisar as consequências no processo de formação de diferentes abordagens relacionadas a dimensão tática.

Primeiramente, iremos discutir uma formação baseada em determinado sistema tático, e ao esquema tático associado ao mesmo.

A tática na formação de um jogador – Sistemas & esquemas táticos

No intuito de criar referências para o posicionamento em campo, uma equipe de futebol necessita da organização que vem dos sistemas e esquemas táticos. No entanto, ao pensarmos no desenvolvimento de jogadores, é preciso ter muito cuidado para que estes não limitem a evolução dos mesmos. Por exemplo, se esse jogador cresceu tendo o seu desenvolvimento baseado em um certo sistema e esquema tático, desenvolveu uma compreensão do jogo a partir da função que deveria exercer, e trabalhou as habilidades e competências necessárias para o papel que deveria desempenhar.

As figuras mostram diferentes setores de uma equipe, e as posições dos jogadores em algumas diferentes situações.

A partir dessas habilidades e competências específicas da função, o jogador pode aprender a desempenhar com eficiência as responsabilidades que lhe foram deferidas. Quanto mais elevada a idade da equipe, a tendência é que mais detalhado seja o esquema, e que mais complexas sejam as tarefas que os jogadores devam desempenhar.

Enquanto essa parece ser uma progressão lógica, do mais simples ao mais complexo, em termos de formação de jogadores, existe um problema que pode ocorrer de acordo com essa forma de abordagem.  

Vamos ilustrar esse cenário com dois exemplos:

  1. Um jogador que cresceu como “volante”, jogando sempre pelo meio, seguindo as instruções para jogar em dois toques e passar curto ao receber ou roubar a bola.
  2. Um jogador que cresceu como “ponta”, sendo instruído sempre a que a equipe tenha a bola, jogar “aberto” e procurar o “1v1”, e sem a bola, defender o lateral da equipe adversária.

Se durante a formação de um jogador todo o seu treinamento for “específico para a posição”, durante os anos cruciais para a lapidação da motricidade, o jogador pode ter tido limitado o seu desenvolvimento tanto técnico quanto cognitivo, pela aplicação das funções que lhe foram exigidas pelo treinador.

O volante ao qual nos referimos acima possivelmente não terá desenvolvido o drible e capacidade de criação; assim como o ponta talvez não tenha desenvolvido como jogar por dentro, flutuar na marcação ou criar vindo de uma posição mais defensiva, etc. Se essas exigências chegarem, por exemplo, no sub 17, os jogadores já não terão a mesma capacidade de adaptação ao jogo que teriam quando eram mais novos.

Buscando amenizar o problema, uma estratégia frequentemente utilizada por treinadores da base, é a de fazer com que jogadores atuem em diferentes posições, para experimentar diferentes desafios e desenvolverem uma variedade de capacidades (necessárias para a devida compreensão do jogo de forma global).

Mesmo nesse caso, vale ressaltar que o entendimento do jogo e desenvolvimento das capacidades se darão através das posições onde o jogador irá atuar, e as funções que ele irá desempenhar no esquema e modelo de jogo da equipe. 

Nesta segunda parte refletimos um pouco melhor sobre o conceito de tática, de acordo com a terminologia no nosso país, e alguns cenários iniciais onde ela pode interagir com as possibilidades de desenvolvimento da tomada de decisão dos jogadores, sobretudo nas categorias de base.

Na terceira parte, iremos aprofundar um pouco mais no assunto, discutindo o desenvolvimento dos jogadores em perspectiva de outros aspectos relacionados a dimensão tática, e buscando uma resposta para o tema central do artigo. Até lá!

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Deixe uma resposta

Mais conteúdo valioso