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Dou início nesta semana, como relatado na coluna anterior, aos relatos técnicos dos estádios de cada cidade. Inicio já com uma cidade que a meu ver foi muito polêmica e talvez por falta de escrúpulos, já que trocou, repentinamente, o projeto com o qual conseguiu a vaga para ser cidade-sede por outro bem inferior. Mas, calma, vou mostrar o porquê dessa inferioridade.

Com recursos da linguagem, a justificativa da arena é baseada em palavras que não condizem com o projeto e que, infelizmente, conquistam opiniões errôneas. Trata-se de uma arena onde boa parte dela é desmontável. Inicialmente isso parece ser bom, já que muita gente acredita que a Copa nem deveria ser levada à Cuiabá – embora em discorde bastante disso por motivos democráticos e de lucros reais com o evento no Brasil através de transporte, cultura e promoção do país como destino turístico variado.

No entanto, investir o montante de R$ 454,2 milhões através do governo do Mato Grosso, sendo que muita coisa será retirada, ou seja, não ficará para a cidade, transforma o custo da arena em um desperdício enorme de dinheiro. Mas, claro, tem uma justificativa de que a Fifa exige demais e as partes “desnecessárias” e que a cidade não comportaria depois devido ao público médio ser baixo devem ser desmontadas. Ou seja, de nada vale o investimento da Copa para incentivar o esporte local. Fazer bons projetos com arquitetura de manutenção baixa também não é conveniente pelo jeito.

Mas vamos ao projeto e as características positivas e negativas do mesmo:

– Visibilidade:

Segundo o gráfico acima, as zonas em azul são consideradas de visibilidade ótima perante o padrão da Fifa. Já o pontilhado é o limite máximo de distância que um torcedor pode ter do campo. Portanto, a visibilidade do estádio é muito boa, vendo que somente os pontos mais extremos das arquibancadas atrás dos gols ficam próximos a este limite. O limite é baseado na capacidade de uma pessoa enxergar uma bola. Vendo pelo melhor lado possível, são estas arquibancadas que serão desmontadas, portanto, após o evento, a visibilidade será ainda melhor.

– Estrutura metálica:

Há algumas décadas havia um preconceito com o custo inicial de estruturas metálicas. Hoje são bem aceitas, visto que elas minimizam o tempo de conclusão da obra. Além de reduzir custos de mão de obra, facilitará para a organização da cidade para a Copa do Mundo, podendo mais facilmente conseguir concluir suas obras dentro do cronograma sem sofrer com a especulação da mídia internacional.

– Ventilação:

Já saliento que não sou especialista em conforto ambiental, mas na graduação temos uma noção da área. Abaixo, o gráfico (que não passaria de semestre) e uma foto do futuro estádio:

Como podemos ver na perspectiva, o elemento com brises (aletas direcionadas e responsáveis por barrar a incidência do sol) tem seu tamanho variável. Esta variação faz com que a entrada de ar quente, representada no gráfico pela seta vermelha, não seja cumprida ou sendo bastante minimizada ao longo da fachada, diminuindo conforme o tamanho dele aumenta. Portanto, a ventilação é falha.

Há a ventilação como o sistema nas laterais esquerdas de cada fachada, o que não ocorre no lado oposto. Se há a diminuição da entrada de ar quente, a seta em azul claro, representando o ar resfriado pela exaustão (em azul), também não funcionará da mesma forma, pois o ar não atinge os setores adequados. Há uma necessidade de um estudo horizontal, em planta, para ver se há alguma forma disso funcionar.

– Posicionamento do telão:

Não há muito a dizer. Como a estrutura atrás dos gols será retirada, de nada adianta colocar ali os telões. Mas reparem no local previsto para o mesmo na imagem abaixo: no gramado na “curva” do estádio. Não há lugar pior! Mas, até aí, não é dos piores equívocos do projeto.


 

– Implantação, segurança e acessibilidade:

A implantação mostra uma falta de cuidado de pisos para evacuação do local em casos de emergência. O ideal é fazer um sistema radiação de saída, para que as pessoas se espalhem em direções opostas em momento de pânico. Mas este não é o único estádio que não prevê nada neste sentido.

O ponto mais incompreensível deste estádio é a colocação de restaurantes e coperias na parte externa e não sob as arquibancadas. Eles negam o estádio e funciona como gasto extra, com edifício independente, sem criar vínculo com a imagem de estádio e que poderia valorizar muito mais seu espaço.

Legenda da foto segundo o Portal da Copa, baseado nas informações da GCP Arquitetos (autor do projeto): 1 – espelho d’água; 2- restaurante; 3- Choperias; 4 – Playground; 5- Escalinata; 7- Centro de mídia; 9- TV compound; 10- Hospitality Village.

*Quem tem interesse em saber o que é o 6 e 11? Ninguém, certo? E pra quê colocar o número 8?

** Na imagem acima, o Norte não é identificado, mas pesquisei e ele esta para esquerda.

Os estacionamentos parecem estar jogados no terreno, sem muita organização, e as saídas são poucas, o que pode gerar tráfego intenso durante a Copa e se for usado depois, também. O número 11 trata-se da parte de piscinas – mais um erro sob meu olhar.

O governo é famoso por seu descaso em relação a este tipo de equipamento público e o custo é grande – também não há motivo para não colocá-los sob as arquibancadas, nem que isso fizesse com que o revestimento externo do estádio fosse mais afastado. Seriam equipamentos mais profissionais, mais adequados ao público e com manutenção unida ao estádio, não isolada. Aí, sim, se tornaria uma arena multifuncional (múltiplas práticas esportivas), por exemplo, e não um complexo esportivo injustificável, com gastos isolados onde um não ajuda na sustentabilidade financeira do outro.

Acima, o desenho de piso, sem trabalho de fluxos e com vegetação aleatória e não direcional.

Na imagem acima, também podemos ver o que é a “escalinata”, no canto superior esquerdo. Uma afronta, sem dúvida, à acessibilidade. Infelizmente, são poucos os estádios que disponibilizam as plantas dos projetos; então está, por ora, difícil de analisar este ponto na parte interna do estádio.

– Sustentabilidade:

Colocar meia dúzia de árvores dentro do estádio não o torna, nem de longe, sustentável. Nem mesmo a mera captação de água da chuva. Pudemos ver que a ventilação não está muito adequada e o clima de Cuiabá é quente e bastante úmido. Portanto, era necessidade básica garantir a ventilação e conforto ambiental sem utilizar condicionamento do ar, ou compensando-o. Mas a Fifa não faz exigências rígidas, dá orientações de pontos a serem estudados, mas sem regras.

O Brasil, que queria ter uma Copa verde para potencializar os negócios futuros, perde, também por meio de
Cuiabá, por não ter soluções interessantes que chamem atenção para o tema.

– Usos e a remoção das estruturas:

Uma das justificativas para a remoção da cobertura e arquibancadas seria o uso da arena para feiras agropecuárias – um potencial para a região. No entanto, não é muito claro como isso vai acontecer. O uso do gramado para tal evento seria um absurdo contra o gramado e contra o futebol (atividade que deve ser a principal do equipamento), mas o acesso de maquinários é complicado se não houver mudança na fachada também, ou este será desmontável também?

São muitas questões, discursos vazios e projetos não muito detalhados. Espero futuramente poder ter acesso a materiais mais técnicos e não tão comerciais para conseguir enxergar além de palavras vazias e 3Ds bonitos.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br

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