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Ainda faltam duas rodadas, mas o Corinthians já é o campeão com melhor desempenho na história do Brasileirão disputado por pontos corridos com 20 times na primeira divisão. O time alvinegro é o que mais venceu, o que menos perdeu, tem saldo positivo de 42 gos, é o mais disciplinado e tem 14 pontos de distância para o segundo colocado. São muitos os atributos positivos na campanha dos paulistas, mas há um título que pouca gente considera: o Corinthians também é campeão em aulas de comunicação.
Na história do futebol brasileiro, são poucos os clubes que oferecem tantos elementos para serem considerados nesse sentido. A história da temporada alvinegra, contudo, é praticamente um curso pronto.
Afinal, o Corinthians teve um ano cheio de percalços fora de campo. A diretoria atrasou salários, deixou de pagar premiações e negociou atletas importantes em meio ao Campeonato Brasileiro, por exemplo. Três titulares do time comandado por Tite deixaram o Parque São Jorge (o lateral esquerdo Fabio Santos e os atacantes Emerson Sheik e Paolo Guerrero).
A folha salarial é alta, com investimentos extremamente questionáveis. A lista de reforços para a temporada 2015 tem nomes como o zagueiro Edu Dracena, o volante Cristian e o atacante Stiven Mendoza, que não conseguiram espaço no grupo – o colombiano, aliás, nem está mais na equipe alvinegra.
O elenco mostrou deficiências durante a trajetória, que tiveram de ser corrigidas com contratações pontuais (os atacantes Rildo, Lucca e Lincom, por exemplo).
Fora de campo, o estádio ainda é uma conquista tão grande quanto o problema que ela criou. O clube tem uma dívida alta e mal equacionada, o que dificulta sobremaneira a obtenção de capital de giro.
Nada disso afetou a campanha alvinegra no Brasileirão. Jogadores com passado vencedor, como Danilo, Cristian e Vagner Love, ficaram no banco durante a competição nacional e não se manifestaram contra isso.
Outros jogadores, como Elias, Malcom e Jadson, foram colocados a serviço de um esquema tático específico, em funções que haviam desempenhado poucas vezes durante a carreira – na linha de armadores de um 4-1-4-1, modelo raro no futebol nacional.
O processo de convencimento e a criação de um ambiente positivo são duas importantes lições do Corinthians campeão. Os jogadores souberam tratar necessidades individuais sem colocá-las acima do contexto ou do todo, e aí começa o mérito do técnico Tite.
Tite é o mentor do Corinthians em muitos aspectos. Tem mérito sobre a implantação do 4-1-4-1 e sobre o modelo de troca de passes, por exemplo – o time alvinegro é hoje um dos que menos usam a bola longa no futebol nacional, e isso tem efeito direto em aspectos como a saída de bola. No entanto, é na gestão de pessoas que o técnico realmente se destacou em 2015.
O Corinthians vai ficar marcado como o time que fez tudo certo, a despeito de o ambiente no clube não ter tudo certo. É um elenco comprometido, e um dos reflexos disso é a goleada por 6 a 1 sobre o São Paulo no último domingo (22).
A vitória corintiana no clássico não tem a ver com disparidade técnica ou com o encaixe das equipes. É um reflexo, antes de mais nada, de organização e comprometimento. Foi um triunfo anímico antes de ser um triunfo na bola.
O Corinthians de 2015 pode deixar muitas marcas para o futebol brasileiro no futuro. Pode ser um precursor do 4-1-4-1 e da linha de defesa alta, por exemplo. No entanto, o diferencial dessa equipe é entender a necessidade da gestão de pessoas no processo de construção de um grupo de trabalho. Qualquer grupo.
A maior lição de comunicação que o Corinthians de 2015 oferece é que não há talentos individuais capazes de compensar um ambiente ruim. Em contrapartida, um ambiente vencedor potencializa os talentos. Basta ver a quantidade de jogadores da equipe alvinegra que têm rendido neste ano o que nunca haviam feito na carreira.
Existe uma diferença financeira considerável no atual cenário do futebol brasileiro, é verdade, mas o Corinthians de 2015 não é o melhor por ser o mais rico. É o time que soube trabalhar com mais competência a comunicação interna e a gestão de pessoas. E isso não é pouca coisa.

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