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Há um longo tempo venho refletindo internamente sobre alguns aspectos pormenorizados do jogo, observando, assistindo, lendo, e também conversando com treinadores de futebol, especialmente com meu grande amigo Willian Batista de Almeida, amigos do futsal e outras modalidades coletivas. Dentre algumas inquietudes, de muitas, surgiu a diferença conceitual entre o movimentar e o desmarcar.

É tradicional e de praxe enxergamos muitos treinadores pedirem para seus jogadores se movimentarem. Nos treinamentos ou na área técnica, muitos gritos de “movimenta”, “movimenta” e “movimenta”, são ouvidos. E claro, naturalmente, os jogadores vão para lá, giram para cá, circundam para lá, correm para cá, correm para lá; um sem fim de movimentos, muito contínuo, na mesma direção, sem sentido e sem troca de ritmo. Nisso, muitos movimentos que são vistos soam interessantes aos olhos de quem vê, mas quase todos sem intencionalidade e coordenação entre os jogadores.

Então, existe excesso de movimentos desnecessários, que beiram um movimentar por movimentar, ficando muito visível que os jogadores se movimentam de qualquer jeito quase o jogo todo. Nisso, três problemáticas podem ser levantadas:

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Essa identificação faz da ideia do movimentar muito ouvida, um movimentar de qualquer jeito, que rouba tempo-espaço dos companheiros de equipe. E o que mais vemos, especialmente aqui no Brasil, são movimentos sem uma lógica comum e um entendimento. O que mais se enxerga são esses movimentos abaixo:

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Isto acima corrobora que muitos movimentos se produzem na mesma direção, velocidade e momento dos oponentes. Assim, quando o passe acontece, defensor e atacante correm ao mesmo tempo para a mesma direção, tirando o fator surpresa e a possível vantagem. Além disso, confirma-se também uma suposta superioridade que não gera vantagem posicional e um exagero de espaços inadequados de intervenção.

Suplantando a constatação acima, primeiramente, a ideia é melhorar a localização dos jogadores no terreno de jogo para que tenham variadas opções e ampliem suas probabilidades. Então, os jogadores devem se separar em distâncias de relação encontrando-se “num futuro próximo”. Ou seja, se ficarem demasiadamente próximos ou excessivamente separados, com movimentos sem inteligência posicional e distância adequada, diminuirá a eficácia da fluidez nas interações. Ainda mais que o jogo de futebol é de progressão, e focalizando na localização do passador e na localização do receptor, quando o objetivo é ganhar espaço, é importante que o oponente tenha dificuldades para ver receptor e o passador simultaneamente. Portanto, um eixo diferente entre ambos fará muito mais dano ao oponente, devido a sua atenção ser dividida e a progressão poderá acontecer com maior naturalidade.

É aí que entra a ideia de desmarque, que é uma interação coordenada e antecipatória, que busca a ocupação e um ganho de um espaço efetivo antes do defensor, evitando sua marcação. O desmarque deve oportunizar a possibilidade de ganho de tempo-espaço para o jogador que se desmarca em benefício próprio ou em benefício de um companheiro. Equipes que se movimentam demasiadamente, sem intencionalidade, com pouco respeito a interações coordenadas, acabam ficando desequilibradas e engatadas. Entender isso, a essência do desmarque, equivale muito mais do que se movimentar, e tem em conta várias dimensões:

 
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Para isso ser eficaz, os 11 jogadores precisam dominar e ter conhecimentos de como utilizar o desmarque em benefício próprio e depois em benefício do companheiro. No Brasil, vários jogadores quando possuem a bola como primeiro homem, demonstram dificuldades de dominar o tempo-espaço com ações técnicas, sendo assim, diminuem suas próprias possibilidades de modificar o contexto do jogo. E, é esse primeiro homem que sempre se transforma como o portador da bola, que em primeiro momento leva a todos outros tempo-espaço. O segundo homem é o que gera a capacidade de tempo e espaço em seu benefício, em benefício do primeiro e de um próximo, pois ao estar sem a bola, com seus desmarques, torna-se de fundamental importância para a continuidade de progressão. Através dessa coordenação, surge o terceiro e os demais homens que são fundamentais para o jogo. Se a fluidez entre 1, 2 e 3 homem não for adequada, por meio de trajetórias diferentes, diminui muito a possibilidade de êxito e a progressão pelo chão.

Isso exige reconhecimento do espaço e consciência de jogo para realizar o desmarque no momento certo, que dê tempo à equipe e tire tempo do adversário. O passe é o estágio final de uma interação que envolve a intenção do oponente direto, o perfil do desmarque para o momento e a execução técnica do passe. Essa é a diferença de passar por passar e passar para jogar. Passar para jogar carrega um sentido comum e um tempo-espaço individualizante e coletivo ao mesmo tempo. Pois é na coordenação (individual-coletiva) que cada um acha esse tempo-espaço individualizante com distintos timings de espaço-tempo (distância, orientação, direção, trajetória, momento e velocidade) que o jogo fica coletivo e a progressão acontece. Esse ajuste dos parâmetros dá uma maior possibilidade de êxitos.

Nesse contexto, existem vários aspectos que devem ser coordenados com o momento do passe e o ganho das costas do oponente, pois para progredir, temos que ganhar as costas. O passe deve ser efetuado sempre que o receptor inicia seu deslocamento, sendo que ele é quem leva a iniciativa sobre o momento do passe. Já o deslocamento do receptor, nas costas do oponente, deve ser efetuado depois de ter obrigado a defesa ficar parada ou defender para frente, após a fixação ter acontecido.

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Além disso, uma correta utilização e realização do desmarque exige um domínio, especialmente de trocas de direção e trocas de ritmos, pois o objetivo é variar a intenção e jogar contra o movimento do adversário, tanto em velocidade como em direção, e isso também depende da resposta do defensor em cada caso.

Assim, a questão vital é saber se reconhecer no espaço para utilizar o perfil do desmarque necessário e, muitas vezes ficar parado realizando pequenos deslocamentos, pode gerar muito mais vantagem para se beneficiar ou beneficiar o companheiro, do que se mover demasiadamente, pois nesses pequenos perfis de desmarque, consegue-se controlar as distâncias e transformar o jogo em duelos em zonas individualizantes ou zonas de atração, fixando o oponente, obrigando que ele fique estático, defenda duas ações, percorra maiores distâncias e se distancie da bola, o que automaticamente gera vantagens posteriores, encontrando homens livres pra progredir e posteriormente utilizar outros perfis de desmarques em zonas prováveis.

Então, pode-se considerar que o desmarque teve êxito se conseguirmos certo desequilíbrio do defensor, ludibriando sua decisão e afastando de sua área de ação. E para isso, é muito importante que os receptores evitem dar informação ao oponente com sua posição corporal, por exemplo. O desmarque as costas, seja fixando ou vindo de trás após uma fixação com bola, faz dano quando a defesa corre para frente, fica parada ou inicia sua corrida. Claro, os deslocamentos as costas da linha defensiva são mais prejudiciais quando se inicia desde trás (2 linhas) e num espaço entre dois defensores (entre linhas) e não na altura do último defensor, apesar que essa questão também pode gerar danos capitais.

Enfim, tudo se resume na coordenação entre jogadores, porém, por vezes e muitas, pode-se ter vantagem qualitativa pela circunstância que o jogo de futebol proporciona. Mesmo realizando movimentos precipitados, invadindo zonas individualizantes, a vitória acontece. Enxerga-se isso muito, especialmente por aqui. Esse é o futebol, e é aí que tem graça. Agora, se existir relação fidedigno-dinâmica entre passe, coordenação dos jogadores, intenção do desmarque e progressão coletiva, a qualidade do jogo aumenta consideravelmente, indo além de movimentos demasiados e sem sentido.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

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