A inteligência no futebol

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Durante anos propagou-se no país a máxima de que todo jogador de futebol era burro. Independentemente da idade, time, local de nascimento, o fato era que o atleta não estava preparado para falar às câmeras da TV ou aos microfones da rádio. Ao longo do tempo, colecionaram-se exemplos verídicos dessa “ignorância coletiva” do futebol.
 
Hoje continuam-se os exemplos, turbinados por You Tube e similares, de escorregadas e trapalhadas de craques da bola e pernas-de-pau do microfone. Mas é cada vez mais claro que a falta de inteligência não pode mais ser atribuída a toda classe futebolística.
 
Falar na TV ou no rádio não é fácil. Quem já teve a experiência sabe disso. Dar uma entrevista, sem saber a pergunta que virá pela frente, também é motivo para um certo “travamento” de quem vai falar. Recentemente a onda era dizer que “o time está bem eeee…”. A brincadeira pegou entre os meninos letrados que viram a propagação do futebol pela televisão nas duas últimas décadas.
 
Mas não dá para culpar o jogador pela falta de tutano. Geralmente as perguntas feitas a eles são envoltas de muito mistério e complexidade.
 
“Seu time está perdendo, e agora?”.
 
“Agora é levantar a cabeça, partir para cima eee…”.
 
Por acaso teria sido melhor o jogador dizer qual era a tática armada para surpreender o adversário e, com isso, poder vê-la neutralizada? Definitivamente o jogador não é burro.
 
E uma prova disso foi a atitude tomada ontem, domingo, pelos botafoguenses vice-campeões da Taça Guanabara, no Rio. Diante de uma platéia de repórteres, os atletas roubaram a cena do campeão Flamengo. Juntos, reclamaram da arbitragem, se emocionaram, mostraram indignação com a derrota.
 
Não tem o que se criticar no lance do pênalti sobre Fábio Luciano, tem muito o que se contestar de diversos outros lances da partida que o árbitro Marcelo de Lima Henrique apitou turbulentamente. Mas a única coisa boa que se pode tirar de todo o episódio, além da demonstração de união do time botafoguense, é a mostra de muita inteligência que todos mostraram.
 
É raro você ver um time inteiro tomar uma decisão de ir à entrevista para a imprensa, visivelmente emocionados, prestar depoimentos aos jornalistas. Muito mais raro é você ver uma sala de imprensa atônita, sem esboçar reação diante dos discursos de Tulio e Lucio Flávio, os dois porta-vozes dos jogadores na coletiva-desabafo. Mas é uma pena que tudo isso tenha sido motivado pelo árbitro.
 
A começar pela preocupação dos clubes com a formação de seus atletas de base, passando pela profusão dos assessores de imprensa, o futebol nas últimas décadas assistiu a uma sensível evolução no preparo dos jogadores para a entrevista.
 
Muitas vezes o conteúdo é atrapalhado por perguntas esdrúxulas e por atletas concentrados, que fingem que ouvem o que lhe é perguntado e respondem de forma padronizada, para não se comprometer e não comprometer o time. Mas é bom ver sinal de inteligência no futebol. É isso que faz cair a barreira do preconceito e permitirá que, no futuro, tenhamos mais Kakás, Raís, Sócrates, Leonardos e Rogérios, que além de craques em campo são hábeis com o microfone.
 

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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