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Algumas vezes já mencionei aqui questões que emergem das novas tendências na preparação do futebolista. Fiz apontamentos sobre os modelos tradicionais de treino desportivo (subordinados a uma preparação física), levantei algumas discussões e problemas sobre uma “periodização tática” (onde a construção do treino está subordinada a “tática”) e uma ou duas vezes mencionei a periodização de jogo (construção do treinamento subordinada ao jogo).
A construção de treinos a partir de uma ou de outra tendência ou modelo de treinamento será sempre regida por parâmetros orientadores que os caracterize efetivamente (o modelo, ou a tendência).
Em modelos tradicionais, a fragmentação do jogo em suas partes acaba indiretamente por tornar o controle de variáveis da carga de treinamento simples e facilitado. Como os óculos nesses modelos enxergam o correr, o saltar ou o mudar de direção em pedaços, e não o jogar como um todo, torna-se menos “conflituoso” estabelecer níveis de exigência para essas ações do que para a complexidade do jogar.
Obviamente, porém, que esses tipos de modelo acabam por se distanciar demais das reais exigências do jogo.
Subordinar a preparação ao jogo não é mais fácil; pelo contrário. Isso porque não se trata de desprezar os conhecimentos construídos ao longo de muitos anos nas diversas áreas que compõem as Ciências do Desporto; trata-se, sim, de conhecê-los melhor, integrá-los e avançar com eles a uma nova dimensão da preparação desportiva.
Assim como nos modelos tradicionais, na perspectiva da preparação subordinada ao jogo (que a partir desse momento chamarei de maneira abreviada de “PSJ”) dentre as variáveis mais “famosas” da magnitude da carga estão a “intensidade da carga”, o “volume da carga” e a “densidade da carga”.
Porém, na PSJ seus significados estão mais intimamente atrelados a complexidade inerente ao jogo de futebol. Enquanto que em modelos tradicionais, por exemplo, ser mais intenso significa correr mais rápido, saltar mais alto ou levantar mais peso, na PSJ ser mais intenso significa resolver melhor e mais rapidamente as situações-problema do jogo.
Nessa perspectiva inovadora, construir atividades de treino passa a ser a materialização de uma obra de arte, onde apenas e tão somente o conhecimento integral e integrado dos conteúdos que envolvem e dão significado às ações do jogo pode levar à sua correta elaboração.
O jogo de futebol possui dinâmicas bem particulares em que a todo tempo é necessário que cada jogador de cada equipe tome decisões simultâneas (muitas vezes sob a pressão do tempo e do espaço).
Tomar decisões erradas representa não resolver situações-problema do jogo. Uma preparação adequada para o “jogar” futebol deve levar isso em conta, de maneira que gere no treino um sem número de situações-problema (direcionadas aos objetivos do treino, é claro!) que aumente não só o leque de possibilidades de resposta, mas também as chances de se ter a melhor para cada circunstância.
E como o jogo de futebol, por ser jogo, é imprevisível, não há melhor maneira de preparar o atleta para a imprevisibilidade do jogo do que submetê-lo de maneira guiada a ela.
A densidade da carga tem se tornado um dos principais elementos norteadores e de controle para a construção do treino na PSJ (especialmente por estar atrelada ao número de situações-problema associadas ao objetivo da atividade, que são geradas durante seu desenrolar).
Atividades com alta densidade propiciarão uma exposição maior do jogador a determinado tipo de situação-problema; atividades com baixa densidade propiciarão uma exposição menor. Em linhas gerais, tem-se como verdadeiro que, dentre outras coisas, um bom treino deve estar associado a uma densidade maior, porque proporcionará aos jogadores uma gama maior de estímulos que os prepararão para os problemas do jogo formal (a competição propriamente dita).
Devemos destacar, porém, que hierarquicamente talvez mais importante que a preocupação com a alta densidade deveria ser a preocupação com a “intensidade da qualidade” (ou a “qualidade da intensidade”) do estímulo.

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