Conhecimento tático ou inexperiência: qual a arma de Dunga?

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Não estou aqui a escrever esse texto para defender esse ou aquele treinador, nem tão pouco para apontar defeitos personificados em um sujeito qualquer que um dia decidiu se tornar treinador de futebol.

Quando aponto falhas no comportamento organizacional de uma equipe, não tenho pretensão alguma de criticar o trabalho do “comandante” da tal equipe, apenas quero discutir como ela joga o jogo.

Hoje, vou então abrir uma exceção, para escrever sobre o treinador da seleção brasileira de futebol, o Dunga.

Confesso ainda achar muito estranho que alguém assuma como primeiro trabalho em sua profissão (em sua carreira), aquele que é tido como o mais importante, difícil e valorizado dentre seus pares.

O fato é que depois de ouvir recentes depoimentos de jogadores brasileiros que jogam ou jogaram na Europa nos últimos anos, começo a pensar que aquela que era para mim a principal fragilidade (defeito, problema!) do treinador da seleção do Brasil, é na verdade sua principal arma (vantagem, qualidade, virtude).

Explico. É muitas vezes assustador assistir nos programas “especializados” em futebol na televisão brasileira as comparações infundadas sobre o futebol praticado na Europa e o praticado no Brasil. Um sem número de argumentos vazios é usado para tentar convencer aos ouvidos menos atentos de que dentro do campo, seja no âmbito da preparação física, técnica ou tática, nós brasileiros somos imbatíveis.

É um velho-novo discurso que, reduzindo o futebol à relações de causa-efeito, simplifica ao bel prazer dos achismos,  fatos e teorias que explicam o ponto de vista que se quer defender.

É incontestável que fatores como a preocupação da Uefa com a qualidade da formação dos treinadores em ação no território europeu (da base ao profissional), a proximidade entre as Universidades (Ciência) e a prática em alguns centros, e o grande número de eventos que promovem discussão entre profissionais em diversos países da Europa têm garantido já há algum tempo um grande salto de qualidade no jogar das equipes européias.

Nossos jogadores saem do Brasil e no velho continente (aqueles que se adaptam aos novos paradigmas) aprendem coisas novas sobre o jogo, evoluem seu jogar e em contrapartida oferecem as suas equipes novas outras possibilidades (e está feita a troca).

E o Dunga com isso?

O treinador brasileiro passou cerca de 11 anos de sua carreira de jogador fora do Brasil (6 anos na Itália, 2 anos na Alemanha e 3 anos no Japão [fonte: Wikipédia]). Aprendeu muitas coisas por lá. Algum tempo depois de se “aposentar” no Brasil, tornou-se treinador – e logo da Seleção Brasileira.

Não precisou respirar os bastidores dos clubes brasileiros (em sua maioria viciados em um tempo “estragado” que parou no passado), nem conviver com alguns de seus jogadores acostumados com desmandos de um futebol que “é assim mesmo”.

Assumiu um cargo em que os seus comandados aprenderam coisas novas, experimentaram outros paradigmas, atravessaram o Atlântico e cresceram como atletas e como homens; passaram a jogar um futebol que o próprio Dunga tirou lições. E como não tinha experiência alguma como treinador tratou de buscar informação e conhecimento.

Sem os vícios que poderiam dificultar seu trabalho com os grandes astros do futebol brasileiro e com uma visão mais ampla sobre o que se faz no futebol europeu tem tentado, de certa forma, dar significado a coisas que antes eram substituídas ou ficavam ofuscadas por gritos na beira do gramado.

Não acredito que Dunga seja melhor ou pior o que esse ou aquele treinador. Penso somente que sua vantagem é não ter tido tempo e experiência como técnico dentro do nosso bom futebol brasileiro; e só com isso já tem tido resultados mais satisfatórios do que seus antecessores em vários aspectos.

O que acredito sim, é que estamos muito distantes ainda de ter uma seleção brasileira jogando de maneira a potencializar o talento de nossos jogadores ao mesmo tempo em que se apresenta como uma equipe tática avassaladora.

Por fim, só para constar, uma questão: por que os “especialistas futeboleiros” de maior “alcance” na mídia, diferente do que faziam (e fazem como praxe) com outros treinadores, vivem a elogiar o Dunga (a responsabilidade é sempre dos outros)?

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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