Habilidades e competências do treinador em Fernando Pessoa

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Olá amigos,

Para o texto de hoje, havia dedicado um espaço para refletirmos sobre algumas questões que estão por trás de muitos dos conceitos e ideias que discutimos acerca da tecnologia no futebol e de outras coisas mais.

Separando os temas e lapidando os parágrafos para dar mais objetividade às ideias, parei, numa daquelas pausas estratégicas para o pensamento “ganhar corpo” e fluir com mais naturalidade. Nesse meio tempo, entre um sanduíche aqui e um site ali, li o texto (“O que estudar para ser um treinador de futebol?”) do nosso colega Alcides Scaglia em sua coluna passada.

Fiquei indignado! Sim, isso mesmo. Não me conformei.

Calma pessoal, e, sobretudo, ao amigo e inspirador Alcides, a indignação não foi com seu conteúdo, mas sim com algumas ideias por ele apresentadas que seriam parte do tema que eu abordaria ou, pelo menos, tentaria, mas que o colega conseguiu expressar de forma muito mais clara e adequada. E agora o que me restaria falar sobre esse tema, teria de mudá-lo?

Antes de decidir o que faria, veio a “pá de cal”. No fim da leitura, me surpreendi… Este verso era meu!!!!

“Para ser grande, sê inteiro: nada. Teu exagera ou exclui. / Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes. / Assim em cada lago a lua toda / Brilha, porque alta vive”.

Sic, sic… Não é que o verso seja de minha autoria, desculpem-me pela pretensão… Aquele verso é  sim de  Ricardo Reis, uma ode desse heterônimo de Fernando Pessoa, citado por Alcides. Mas era o verso que eu usaria de epigrafe no meu texto. Oras, por um momento achei que estivesse num plano de conspiração e espionagem, afinal quantas pessoas usariam Fernando Pessoa num texto sobre futebol. Mas não amigos, com certeza não, e isso apenas tornou mais evidente para mim a importância desses pontos para o profissional do futebol.

Sobre usar Ricardo Reis num texto de futebol, não é tão fora de contexto assim, pois como o próprio Pessoa definia, Reis era um médico português que em 1919 veio residir no Brasil (que hoje chamamos de país do futebol) e se caracteriza pela busca do equilíbrio. Equilíbrio esse que constitui uma das habilidades primordiais do profissional do futebol.

Um técnico é um líder. Exerce essa função ou habilidade (poderia ser colocada como competência) de várias formas, seja por autoridade, por confiança, enfim, por diferentes contextos que possam caracterizar seu papel. Mas quanto à legitimidade dessa liderança cabe ao próprio treinador colocá-la a brilhar (“Para ser grande, sê inteiro”).

E como fazer isso? Aliás, que aspectos devem ser considerados? Daí, talvez, a freqüência atual de discussões acerca do treinador José Mourinho e sua referência às Ciências Humanas, na figura do professor português Manuel Sérgio.

Para além do embate acadêmicos x boleiros devemos entrar num acordo (seria talvez um consenso, ainda que nem sempre isso seja positivo) de que um e outro devem complementar-se para a riqueza de um profissional moderno.

Um amigo com muitos anos de prática no esporte de alto nível e que, atualmente, contribui com o meio acadêmico questionou se essa abordagem das ciências humanas não seria um modismo e se isso se manteria por algum tempo, uma vez que o esporte se sustenta por resultados concretos enquanto o ser humano é abstrato?

Pensei, e na hora respondi ainda no calor da provocação, que depois entendi como ponto primordial para discussão: que o então José Mourinho dentre outros títulos de liga nacional havia conquistado a Copa dos Campeões da Europa com o Porto, enfatizando que havia sido com o Porto, e se isso não seria resultado, o que mais poderia ser.

Com o passar da enfática e encalorada resposta, a reflexão estimulada pelo amigo trouxe um importante eixo.

O que é concreto e abstrato? Será algo entre o real e irreal? Se for assim, o ser humano não é concreto, é irreal, e, por sua vez, se assim entendermos, como pensar em soluções reais tendo como base alguém abstrato?

Talvez, seja essa a contribuição que as ciências humanas podem dar ao profissional, que precisa, dentre outros aspectos, ter o equilíbrio característico de Ricardo Reis para exercer a liderança, que a “bola já provou” que, junto ao conhecimento e aos estudos, às vezes até mais alardeada do que estes, traz resultados.

Compreender, e mais do que isso, incorporar as Ciências Humanas no momento de atuação, traz noções importantes sobre aspectos como serenidade, coerência, autenticidade, relacionamento, comprometimento, confiança e segurança. Tão importantes para as habilidades de um técnico como conhecimento técnico e tático.

O profissional que entender que um e outro não devem ser antagônicos e transformar isso por meio de sua capacitação profissional (e não apenas pelo fator acaso) em diferenciais, terá o tempo (e também os resultados) para mostrar que entender o complexo (abstrato, mas concreto) ser humano que joga o futebol assim como a ciência futebol tem algum sentido.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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